29 de setembro de 2007

Savez vous vraiment ce qu'est le libéralisme ?

par Jacques de Guenin (Exposé fait à Bayonne, Bordeaux, Dax devant divers auditoires) Je précise tout de suite que je ne vais pas parler de politique : ma brève incursion dans le monde politique m'a appris qu'il n'y a pas de parti complètement libéral, et que la plupart des hommes politiques sont plus prompts à nous forcer à entrer dans le système qu'ils préconisent, à coup de lois et de règlements, plutôt que nous laisser vivre comme nous l'entendons. Entre parenthèses, cela reflète de leur part un mépris certain pour l'individu, puisqu'ils ne le croient pas capable de se conduire honnêtement et solidairement s'il ne rentre pas dans leur système. Or c'est évidemment le contraire qui se produit. L'individu ne recherche plus la vertu lorsqu'il lui suffit d'appliquer les règlements pour se donner bonne conscience, et il ne ressent plus le besoin d'être solidaire lorsque l'État l'est à sa place. (...) Leia mais: clique no título desta postagem

Tous les intellectuels n'aiment pas la liberté

Jean-François Revel, Le Figaro, 25 septembre 2000 Quel regard portez-vous aujourd'hui sur le débat intellectuel en France ? La vie intellectuelle en France se poursuit normalement. Vous avez toujours des physiciens, des biologistes, des historiens qui font des recherches, des auteurs qui écrivent, des économistes qui s'efforcent d'analyser les grands problèmes économiques de notre temps. Mais quand on parle de débat intellectuel, le mot évoque aussitôt en France, l'intervention de facteurs idéologiques dans la discussion des idées. Les sujets sont connus : la mondialisation, le libéralisme ou l'analyse du passé totalitaire. Ils se prêtent surtout à des monologues parallèles ou des pugilats politico-idéologiques qui n'impliquent que rarement le respect scrupuleux des faits. (....) Leia mais: clique no título desta postagem.

28 de setembro de 2007

VIVAM O COMÉRCIO E A PUBLICIDADE DE IDÉIAS!

Não há perigo de saturação do mercado cultural; quanto mais idéias na praça, as bichadas irão inevitavelmente para lata do lixo da história (isto é, no Brasil, ficarão confinadas à Academia, esse Trust marxista que parece uma gigantesca feira do Caruaru para camelôs do pensamento) e as boas idéias continuarão, caso incompatíveis entre si, a se digladiarem no palco aberto do livre debate, de cujas regras quem goza das faculdades mentais e possui um mínimo de probidade intelectual é capaz de apreensão imediata, não podendo em hipótese alguma abrir mão, mas quem ainda acha possível reerguer o muro de Berlin faz pouco caso. Só num país de gente desmiolada o confronto teórico pode ferir suscetibilidades ou até tornar-se caso de polícia, situação ridícula quede agora em diante, infelizmente, ficará submetida ao escrutínio do monopólio estatal dos meios de comunicação. Estes, os nossos sociólogos, comunicólogos e outros experts já haviam proclamado ser um instrumento imbatível de propaganda política (como se Hitler e Lênin não soubessem disso) e da manipulação de cérebros fracos (como se a horda de militantes petistas não o fosse). Para indignação das cabeças sutis que desprezam o puro e simples bom senso, vulgo senso comum, os pobres mortais que não tão nem aí com as “mazelas do capitalismo”, ou seja, que tomam uma cerveja em paz sem se preocuparem com mensagens explícitas ou subliminares da publicidade em torno da “loura gelada”, também não são afeitos à desconfiança mórbida dos ideólogos do pensamento crítico, os quais suspeitam de qualquer opinião que contrarie seus padrões mentais, ao ponto mesmo de sequer analisá-las como tais e na sua pretensão de verdade, porque isso lhes imporia o dever moral (que eles não reconhecem, é verdade) de expor as suas próprias opiniões na arena pública, correndo o risco da refutação ou, pior, de ninguém lhes dar ouvidos. Por isso, só a indigência mental dos “pensadores pós-modernos” (estruturalistas, relativistas, pragmatistas, desconstrucionistas e o caralho a quatro) explica o pânico diante da mera possibilidade de verem suas opiniões caídas em descrédito ou acuadas por qualquer tipo de objeção, que, se for levantada, é logo desqualificada sob o pretexto de que quem a coloca esconde “vis interesses mercadológicos” ou, se se preferir, “é pau mandado da zelite reacionária”. Daí também o porquê da hipocrisia de figuras como Marilena Chauí, que, contraditoriamente, execra a censura e defende o debate aberto, com a condição, é claro, de que suas opiniões estejam devidamente a salvo e adquiram o status público de axiomas. Se tal prerrogativa não lhe for concedida, nossa Chiuaua fica a ladrar entre os membros de sua matilha. Mas a confusão premeditada entre publicidade e propaganda pode ser desfeita facilmente. Publicidade é, ipsis literis, tornar algo público, o que é absolutamente necessário tanto à aferição, por outras pessoas, do valor objetivo das nossas concepções (porque o tribunal da consciência muitas vezes se esquece de que, no impasse entre verdade e falsidade, a decisão é puramente teórica) quanto ao reconhecimento público da utilidade de produtos que são postos à venda, o que permite ao consumidor escolher livremente entre as várias mercadorias que assim lhe são apresentadas (porque ninguém é doido o suficiente para queimar dinheiro, exceto o esquerdista, que, não tendo tino algum para o comércio, adora torrar o dinheiro......dos outros). Mas propaganda é um procedimento essencialmente ideológico, pois, tendo eficácia máxima na persuasão das massas e nula no confronto puramente teórico (que não é coisa de assembléia estudantil nem de sindicato docente), é empregado na defesa ou ataque de causas (respectivamente, daquelas etiquetadas com o selo “popular” e daquelas encapadas pela “burguesia”) , com o propósito de obnubilar a mente do indivíduo, de modo a dirigir a sua vontade a ações radicais que, se estivesse sob o mando exclusivo da razão, ele certamente não praticaria. Em suma, propaganda é, dentro de qualquer projeto revolucionário ou regime totalitário, a eficaz transformação de idéias em instrumento político de veiculação de promessas messiânicas que, pelo seu fascinante moralismo e apelo venal, exercem sobre a burrice militante uma coerção irresistível. Para não me delongar muito e começar a falar besteira, remeto o leitor à obra La Propagande Politique de Jean-Marie Domenach (cê encontra tradução portuguesa disponível na net, acho que no sítio Ateus) , concluindo com duas citações, uma de Kant, outra de Jean-François Revel, e deixando ao leitor que não deseja ser sacoleiro de especiarias de qualidade duvidosa contrabandeadas pelos mafiosos de Caruaru, a liberdade para refletir com calma sobre o assunto: “A ilustração do povo é a sua instrução pública acerca dos seus deveres e direitos no tocante ao Estado a que pertence. Porque aqui se trata somente de direitos naturais e derivados do bom senso comum, os respectivos arautos e intérpretes no meio do povo não são os oficiais professores de direito, estabelecidos pelo Estado, mas professores livres, isto é, os filósofos que, justamente por causa desta liberdade que a si mesmo facultam, são objeto de escândalo para o Estado, o qual apenas pretende reinar, e difamados, sob o nome de iluministas, como gente perigosa para o Estado. (...) o que [a ilustração do povo por quem não é estafeta do Estado, no caso brasileiro, porta-voz oficial ou agitador popular do governo] não pode ocorrer por nenhum outro caminho a não ser o da publicidade, se um povo inteiro quer apresentar as suas queixas (gravamen). Por isso, a interdição da publicidade impede o progresso de um povo para o melhor, mesmo no que concerne à menor das suas exigências, a saber, o seu simples direito natural”. (KANT, O conflito das faculdade, p. 107, trad. das Edições 70, 1993). “Uma de nossas idéias preconcebidas mais ingênuas é a identificação, reiterada à saciedade, da propaganda política com a publicidade comercial. Ora, está provado que os dois atos de persuasão nada têm em comum, nem pelas motivações que põem em jogo no psiquismo, nem pelas modificações que produzem no comportamento. Os telespectadores e ouvintes não são loucos: podem perfeitamente comprar cem vezes um creme dental, mas nem por isso deixam de saber que não estão a entregar-lhe o Poder. Todos os trabalhos sociológicos levam, assim, à conclusão que o martelar publicitário desempenha um papel ínfimo na orientação das correntes políticas (nota de pé de página: 1. Jean Cazeneuve, em lês Pouvoirs de la Télevision, Gallimard, 1970, fez um balanço muito claro das pesquisas sociológicas nesta matéria), desde que, entendamo-nos, se possa confrontar a informação” (REVEL, Nem Marx nem Jesus, p. 158, trad. da Editora Artenova S. A., 1973) *
*Para quem não conhece, Revel é o mesmo autor que publicou, já no final da vida, a magistral obra "A obsessão anti-americana", que pode ser adquirida em qualquer livraria decente. "Nem Marx nem Jesus" está, infelizmente, fora de catálogo, podendo, talvez, ser encontrada em sebos. Sugiro aos interessados que façam uma busca no Estante virtual (link neste blog) ou então me solicitem uma cópia, que eu, de bom grado, fornecerei, com a condição, é claro, de que me paguem o custo da xerox e envio postal, pois sou, e não tenho vergonha disso, um mesquinho, embora incompetente, espírito capitalista.

27 de setembro de 2007

ATEU PENSA, LOGO DEUS EXISTE

Eu acredito piamente em Deus. Não, eu tenho CERTEZA de que Ele existe. Se funcionou com Descartes, que dizia que só filosofava de vez em quando, não haveria de não funcionar comigo, que filosofo até traçando feijoada (por isso sou hipocondríaco, cfe. Kant). Construi minha dúvida hiperbólica, imaginando que Deus estivesse a testar a minha fé: "Vou enganar esse boboca, que nunca vai a Igreja e quer se passar por carola e líder intelectual da TFP, fazendo com que ele pense ser verdadeiro esse disparate lógico "Deus existe", cujo "predicado" a turma daquele herege do Russell bem percebeu que não é predicado porra nenhuma". Aí, eu juntei todo meu arsenal de silogismos, uns topoi dali, uns paralogismos de lá,li todo o "Retórica a Herênio" e fui pra campo. Meditei. Se eu estiver errado, Deus não existe. Mas se ele não existisse, quem mais iria perder tempo em me induzir a pensar tal bobagem? Os ateus, é claro. Mas por que os ateus, sendo ateus, fariam isso? Ora bolas, que graça tem ser ateu sem um crente para encher o saco? É isso. Mas pode ser, ainda, que se trate de um auto-engano, a gente nasce besta mesmo e cercado por um bando de ignorantes, não necessariamente ateus. Tá resolvido o enigma. Deus existe! Ele me criou, não pôs nada que preste em minha cabeça, alías, fê-la oca (uma tábula rasa, os empiristas tavam realmente certos!). Além disso, Deus também criou Bertrand Russell. Este, por sua vez,cabeça oca como toda res cogitans, escreveu o livro "Por que não sou cristão". Eu li. Como sou cabeça oca, entendi muito mal, achei que ele, ateu como é, só queria mesmo encher o saco do clero: "Se eu quiser acreditar em Deus acredito, sou um livre-pensador, mas só pra baixar a batina dessas hienas de confessionário, vou ser do contra". Deus escreve torto por linhas certas (ou é o contrário?Ah, dá no mesmo).Assim, Deus, tendo não só feito minha cabeça vazia mas também posto nela idéias vazias, para impedir-me por completo de saborear o fruto do conhecimento*, é causa eficiente da proposição falsa "Deus existe", que eu, dopado pelo véu de Maia, tomo por verdadeira. Como do nada nada provem e como, pelo modus tollens, se a consequência é verdadeira e o consequente falso, o antecedente também é falso, a proposição prática divina "Vou enganar Marcos" é necessariamente falsa, não conseguindo (ou melhor, não querendo)o Todo Poderoso me enganar. Logo, a proposição " Marcos acredita, e continuará a acreditar, em Deus' é verdadeira. Mas uma vez que cheguei a essa crença induzido pelo próprio Deus, DEUS EXISTE. Um breve colorário: Os filósofos analíticos "descobriram" que "ser" ou "existencia" não é um predicado, de modo que uma proposição como "Deus não existe" equivale a "algo que existe não existe", ou seja, um sujeito proposicional não é um sujeito proposicional,não passando, pois, de uma belíssima contradição. É vero. *Ai Dios mío! Tu me privastes de entender Hegel, Marx, Marilena Chauí, Dawkins, boletim informativo do Sindicato dos bancários, discussão em reunião de plenária departamental, Leonardo Boff, Chico Buarque, Paulo Henrique Amorim, Folha de São Paulo, Carta Capital, Isto é, extrato de banco, IG, Gilberto Gil, explicações de bibliotecária, encontros de psicanálise, Mano Brown, manuais de metodologia da pesquisa, papo-cabeça de baiano em mesa de bar, a lógica do comércio itabunense, as explicações de Scher sobre computador, teologia da libertação, maconheiro, turismo, Glauber Rocha, matemática financeira, caranguejo,mulher apaixonada por comunista, Gabriel O Pensador, a expressão "massa-crítica", a pressa carioca de atravessar rua, a esquerdemia, Anpof, minhas comunicações na Anpof.....

23 de setembro de 2007

A VESÂNIA DE DAWKINS

A questão da existência ou não de Deus não é uma questão a que caiba a ciência responder, se se entende por ciência a investigação experimental da natureza a partir de princípios matemáticos. Isto pode ser suficientemente esclarecido a partir dos dois filósofos que, indubitavelmente, marcaram os pontos de inflexão do pensamento Ocidental: Aristóteles e Kant. Para este, a idéia de Deus é a representação discursiva de um objeto incondicionado, isto é, de um objeto que, por definição, é empiricamente impossível, porque, como tal, transcende à receptividade dos nossos sentidos, cujos únicos objetos são os fenômenos. Ora, a impossibilidade empírica não se opõe, por contradição, à possibilidade lógica, de modo que nada podemos concluir acerca do que extrapola o domínio dos fenômenos a não ser que é um ens rationis. Pois os noumena, para os quais "não se pode obter absolutamente nenhuma intuição correspondente", "não podem ser contados entre as possibilidades, embora nem por isso tenha que fazer-se passar por impossíveis" (KrV, B 347). Sendo assim, proposições teóricas acerca desses objetos, sobre os quais recaiu, segundo o filósofo alemão, todo o interesse da metafísica tradicional, são indecidíveis, isto é, sua verdade ou falsidade não pode ser, em princípio, provada. Portanto, fica vedado à razão teórica, cujo emprego legítimo está restrito ao domínio dos objetos empiricamente possíveis, conhecer o que quer que seja acerca de Deus, de tal modo que admitir ou recusar a sua existência ( que se constitui num problema inevitável, porém insolúvel, para a razão teórica, pura ou empiricamente aplicada) é um tipo de assentimento que só se pode justificar moralmente, isto é, como um postulado da razão prática e, por conseguinte, como um ato de fé. Já Aristóteles assinalava que o discurso científico ou apodítico pressupõe necessariamente princípios, ou seja, premissas verdadeiras e primeiras, entre as quais se encontram as hipóteses ou postulados, proposições fundamentais em virtude das quais se é forçado, como condição mesma do procedimento demonstrativo, a assumir a existência dos objetos desse discurso. Mas, segundo ele, para admitirmos ou mesmo constatarmos que “x” existe, temos que dizer o ente, e este dizer é semanticamente equívoco, de modo que, quando afirmamos ou negamos algo do ente, enunciamos que ele é (ou não é) ou segundo alguma das dez categorias, ou por si ou por outro, ou verdadeiro ou falso, ou em potência ou em ato, ou uma privação ou possessão. Ora, a reflexão sobre os múltiplos sentidos do ente é uma reflexão sobre os modos como as coisas se manifestam ao entendimento (nous), isto é, uma teoria do ser do ente, tradicionalmente designada pelo termo "ontologia". Com efeito, os princípios da ciência (que, além dos postulados, incluem os axiomas e as definições) são verdades que se impõem imediata e necessariamente ao intelecto humano, cuja capacidade de apreensão é condição necessária, embora não suficiente, de nossa também humana capacidade de demonstração ( isto é, de ciência). Ambas as capacidades, nous kai episteme, é o que Aristóteles chama de sabedoria (sophia), que é o ideal de unidade e perfeição do conhecimento científico e, portanto, o fim supremo a que é compelida, por sua própria natureza, a parte científica (epistemonikon) da razão humana (dianoia). O objeto dessa sabedoria seria, pois, o fundamento último sobre o qual repousam os princípios e tudo o que pode ser cientificamente conhecido a partir deles, ou seja, o primeiro princípio de todas as coisas. Ocorre que tal objeto só pode se dar ao intelecto divino, isto é, de um ser imediatamente necessário, objeto que, na ordem da natureza (phisis), é último para nós. À sabedoria humana só resta contemplar o ser em geral - que é o horizonte no qual somente podemos dizer (e mesmo assim de maneira ambígua) o ente -, ou seja, o manifestar-se de tudo(inclusive a finitude do homem) que depende desse primeiro princípio. Em resumo, a possibilidade do conhecimento científico, segundo Aristóteles, pressupõe não apenas princípios em si verdadeiros e o caráter essencialmente equívoco do ser dos entes, mas também, e sobretudo, um ente absolutamente necessário (primeiro motor imóvel)*, para cujo intelecto o primeiro princípio de todas as coisas é imediatamente dado como objeto. Se para Aristóteles e, portanto, para todos os filósofos que antecederam Kant, Deus é, simultaneamente, o pressuposto necessário do próprio desejo humano de sabedoria e o fundamento último sem o qual o conhecimento científico seria impossível, ou seja, destituído a priori de princípios, é porque re-conheceram que o homem é mortal e que, nessa condição, a busca da verdade equivale à nobre aspiração à sabedoria. Sem essa inspiração divina, que nos abre para o horizonte do ser, o homem não dirigiria humildemente o olhar para o solo dos entes, e a vida contemplativa, no ápice de seu esplendor (philo-sophia), se transformaria na mais soberba impiedade. Por essa razão, a metaphysica generalis dos escolásticos se constituía numa propedêutica à teologia racional, isto é, a um saber sobre Deus que só pode ser buscado pela criatura finita se esta for movida pelo Deus da sabedoria, tal como se manifestou na religião revelada, e co-movida pelo amor à verdade, isto é, pelos sentidos do ser, tal como desvelados no seio da cultura grega. Da mesma maneira, Kant, ao demonstrar que a razão teórica pura é incapaz de chegar a um conhecimento sintético a priori objetivamente válido acerca de coisas em si e, por conseguinte, que a teologia é impossível como ciência, recusa “o soberbo nome de ontologia” à analítica transcendental, que, segundo ele, é uma modesta, porém heuristicamente fértil, teoria da exposição dos fenômenos em conceitos puros do entendimento, vale dizer, uma teoria das condições de possibilidade da experiência e seus objetos bem como um canon material para investigação experimental da natureza, isto é, para a pesquisa empírica, cujo único organon é (ao menos foi na época de Galileu e Newton) a matemática. Mas essa recusa aplaina o terreno para uma metafísica dos costumes e uma teologia moral, ou seja, uma metaphysica specialis cujo objeto é a fé racional na eficácia das leis da liberdade e, por conseguinte, na realidade prática do supremo bem humano, cujas condições são a existência de Deus e a imortalidade da alma. Pois, segundo ele, tais objetos de fé são postulados práticos necessários apenas para uma vontade moralmente determinada, isto é, para uma razão pura constituída formalmente pelo imperativo categórico. Se efetiva, esta razão prática pura impõe ao arbítrio humano as próprias máximas do dever como um fins objetivamente necessários** e o obriga a representar a unidade suprema dessas múltiplas máximas na vontade de um legislador sumamente bom e justo***. Sendo assim, pergunto-me: O que quer Dawkins quando, apoiando-se na autoridade da ciência (mas não necessariamente praticando ciência), sustenta que Deus não existe e que acreditar no contrário é puro delírio? Vamos por exclusão. Não quer, evidentemente porque não pode, discorrer sobre Deus teoricamente. E não pode, porque nenhum discurso teórico acerca de Deus é suscetível de passar pelo crivo da experiência****. E porque também o único discurso verdadeiramente teórico acerca de Deus, que é o discurso teológico, só tem significação enquanto se refere a uma realidade transcendente, ou seja, se funda na consciência, própria e originária da alma humana, da totalidade absoluta dos entes, da qual a realidade empírica conhecida é uma parte ínfima. Nas palavras de um célebre historiador, as religiões superiores, entre as quais está o cristianismo, “concordam que os fenômenos, dos quais temos conhecimento, não se explicam. Tais fenômenos devem ser apenas um fragmento de um universo, o resto do qual permanece obscuro para nós; a chave da explicação do todo está oculta na parte que não percebemos ou compreendemos. Assim, o universo onde nos encontramos é um mistério” (TOYNBEE, A religião e a história). Ainda segundo Toynbee, “nesse misterioso universo, há uma coisa de que o homem pode ter a certeza. O homem não é, certamente, a presença espiritual máxima no Universo (...)A sua própria presença no Universo é, para ele, um fato consumado que se verifica independente de qualquer escolha ou atitude sua”, de modo que não se pode negar*****, sob pena de cairmos numa trágica hybris, que “há uma presença no Universo espiritualmente maior do que o próprio homem” (Ibidem). Dawkins também não é movido a essa cruzada contra o cristianismo (e, de modo geral, contra toda religião monoteísta) por razões morais minimamente defensáveis, mas por acreditar (essa é sua "fé") que a ciência pode e deve ser politicamente instrumentalizada, fornecendo as bases teóricas de uma engenharia social, isto é, a justificação de uma seita pagã da qual ele, evidentemente, seria o sumo sacerdote. Nesse sentido, a teologia e a fé cristãs, que são o “bode expiatório” do ateísmo militante e insano de Dawkins, são acusadas de irracionalidade e dogmatismo exatamente por não se converterem ao seu ideal gnóstico-positivista, em vista do qual ele cínica e levianamente nos promete a salvação e a bem-aventurança no aqui e agora, promessa que assinala, de forma indelével, a perversão de caráter desses “reformadores do mundo”. Disso tudo só posso concluir uma coisa: O sr. Dawkins é um metafísico megalomaníaco incorrigível, loucura que Kant, na Antropologia de um ponto de vista pragmático, denomina vesânia (Aberwitz), que é um dos quatro tipos de distúrbios mentais (Gestörte Gemüt) que reforça a ilusão dialética da razão pura, impedindo o doente de se ater à experiência e a juízos e conceitos de coisas que podem ser dadas aos sentidos, assim como levando-o a desejar compulsivamente compreender o incompreensível (por exemplo, desvendar o mistério da santa trindade ou, no caso de Dawkins, afirmar ex-catedra teses – ou seria defender causas? - que estão além dos limites da racionalidade científica, acreditando, inclusive, que está investido de uma autoridade intelectual que, de fato, não possui ). Mais: acho até que o nosso Dr. Mabuse também sofre de delírio ou demência (Wahnsinn), que é a tendência inversa, mas não incompatível com a vesânia, a atribuir falsas propriedades a objetos da percepção por conta de representações forjadas numa imaginação que se perde em si mesma. Trata-se da incapacidade de ir do universal ao particular e, portanto, de uma ilusão da particularidade, típica da mente paranóica. Essa enfermidade, no mínimo, explica por que Dawkins se arroga julgar a fé alheia, que lhe é estranha (projetando nos outros a própria fantasmagoria), e censurar doutrinas religiosas, que ele ignora completamente( imputando-lhes a própria charlatanice), a partir dos seus sentimentos mesquinhos perante a existência. Que Deus tenha piedade dessa pobre alma! * Daí que Deus pode ser metafisicamente concebido como uma realidade suprema, isto é, uma substância perfeita, imutável e, portanto, em si e por si absolutamente determinada (ato puro), de onde emanam o ser, a unidade, a verdade e a bondade que, como transcendentais, convêm a todos os demais entes, dos quais Deus é causa primeira. ** A firme e resoluta disposição do arbítrio para realizar, à revelia dos fins contingentes da inclinação sensível, esses fins que são ao mesmo tempo deveres, chama-se virtude, disposição sem a qual seriam impossíveis ações livres. *** A existência de um Deus soberano, onisciente, criador de todas as coisas e ordenador moral do mundo, embora não possa ser demonstrada (pois, para isso, nos faltam razões objetivas suficientes, caso em que afirmá-la ou negá-la é mera opinião), deve ser desejada, e este assentimento, que se chama fé, se apóia em razões subjetivas suficientes (oriundas do sentimento moral) e se coaduna com um saber prático objetivamente válido (cujo princípio supremo, o imperativo categórico, é constitutivo da razão pura). Assim, uma doutrina que tenha Deus por objeto só pode ser uma teologia moral. ****Se há um consenso (con-sensus) entre os filósofos da ciência, ele é fruto da consciência (con-scientia ) de que as proposições ditas científicas devem, em princípio, ser falsificáveis e de que a verificabilidade equivale à possibilidade de submetê-las a testes experimentais. ***** Temos, também, um motivo para afirmar a existência dessa realidade espiritual ontológica e moralmente superior a nós: a consciência, da qual Dawkins está irremediavelmente privado, de nossa finitude e vulnerabilidade, assim como de que o homem é o fim último da criação e, portanto, de que é um dever moral de cada um buscar a perfeição de sua vontade, isto é, a santidade.

22 de setembro de 2007

EXPULSAR DEUS DOS CORAÇÕES PARA COLOCÁ-LO COMPULSORIAMENTE NAS ESCOLAS

O Estado é laico, a escola pública também deve sê-lo. Além de afrontar visivelmente a Constituição, o projeto de lei que pretende impor o ensino religioso na rede pública do Estado de São Paulo, se aprovado, vai dar ensejo a controvérsias que, somadas à bem conhecida doutrinação ideológica hoje imperante na educação brasileira, afetarão negativamente a formação intelectual e moral do aluno. Penso que a escola, nesse quesito, deve se limitar a não ferir a liberdade de professarmos publicamente nossa fé e de aderirmos a Igreja ou organização religiosa que bem apetecermos(direito constitucionalmente assegurado e, ousaria dizer, inato), reservando o espaço educacional à mera exposição de teorias e ao debate de idéias. Como? Não é difícil. Por exemplo, o professor de biologia deve, sim, analisar e explicar a doutrina darwiniana, mas não fazer inferências, a partir dela, sobre ateismo, deísmo ou qualquer coisa que venha a constrager o sentimento religioso de seus pupilos (como tentar ridicularizá-los por professarem a fé cristã ou por se recusarem militar em favor ou contra alguma seita ou corrente religiosa). As teorias científicas não podem ser politicamente instrumentalizadas para a defesa ou o ataque de causas, quaisquer que sejam. Se o conhecimento racional e objetivo não estã no mesmo patamar que as doutrinas religiosas, é porque, ao contrário destas, não se presta ao proselitismo.Mesmo numa aula de filosofia em que se exponham doutrinas acerca de Deus (provas da sua existência ou refutações dessas provas), o professor deve deixar claro que tal debate se situa no plano teórico e que isso não pode ser recebido pelo aluno como reforço erudito ou crítica à sua fé, que fica salvaguardada pela consciência moral e pelo Código Penal brasileiro*, de modo que ele, o aluno, não pode também empregá-la como argumento para se confrontar com teorias onde divise alguma deficiência lógica ou falta de sustentação empírica. ______________________________________ * Sobre a garantia jurídica da inviolabilidade do sentimento religioso e o ultraje a culto, O Código Penal é claro: Código Penal - CP - DL-002.848-1940 Parte Especial Título V Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso e Contra o Respeito aos Mortos Capítulo IDos Crimes Contra o Sentimento Religioso Ultraje a Culto e Impedimento ou Perturbação de Ato a Ele Relativo Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. obs.dji.grau.3: Art. 5º, VI, VII, VIII, Direitos e Deveres Individuais e Coletivos - Direitos e Garantias Fundamentais - Constituição Federal - CF - 1988 obs.dji.grau.4: Crimes Contra o Sentimento Religioso; Crimes Contra o Sentimento Religioso e Contra o Respeito aos Mortos; Culto obs.dji.grau.6: Crimes Contra a Administração Pública - CP; Crimes Contra a Família - CP; Crimes Contra a Fé Pública - CP; Crimes Contra a Incolumidade Pública - CP; Crimes Contra a Organização do Trabalho - CP; Crimes Contra a Paz Pública - CP; Crimes Contra a Pessoa - CP; Crimes Contra a Propriedade Imaterial - CP; Crimes Contra o Patrimônio - CP; Crimes Contra o Respeito aos Mortos - CP; Crimes Contra os Costumes - CP; Disposições Finais - CP; Parte Especial - CP; Parte Geral - CPParágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência _______________________________________________________________ Maria Lúcia Amary - PSDB - PARECER Nº 2.007, DE 2007 DE RELATOR ESPECIAL, EM SUBSTITUIÇÃO AO DA COMISSÃO DE REDAÇÃO, SOBRE O PROJETO DE LEI Nº 17, DE 2004 De autoria da nobre Deputada Maria Lúcia Amary, o projeto em epígrafe institui o Projeto ‘DEUS NA ESCOLA’ na rede pública estadual de ensino fundamental. Cabe-nos, na qualidade de Relator Especial designado em substituição à Comissão de Redação, que não se manifestou no prazo regimental, propor a seguinte redação final ao projeto aprovado com a emenda apresentada no Parecer nº 1.565, de 2004:“Institui o Projeto ‘DEUS NA ESCOLA’ na rede pública estadual de ensino fundamental.

A ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA DA NOVA ESQUERDA

A estratégia esquerdista de cooptação ideológica segue ao pé da letra a distinção entre propaganda e agitação, enquanto instrumentos de difusão das idéias socialistas(a principal é a de que o capitalismo é um sistema intrinsecamente injusto) e de integração das massas "à luta política ativa".
O agitador fica responsável por inculcar no povo a idéia de que, qualquer que seja o problema de ordem material que sofra, ele é vítima da opressão capitalista, orientando, assim, sua indignação contra a ordem estabelecida.
Já o propagandista (o intelectual), que tem efeito multiplicador, atua no sentido de ampliar o quadro de agitadores, fornecendo a justificação teórica de que estes precisam, sobretudo cumpre a tarefa de, no âmbito acadêmico e na esfera da cultura erudita bem como nos centros formadores de opinião, reduzir toda atividade teórica e todo debate de idéias à atividade política e ao confronto de causas.
NOTEM: O propósito é criar o caos mental nas pessoas, fazendo com que elas abandonem valores (morais, políticos, estéticos, religiosos etc) que possam se constituir em obstáculo à ação revolucionária e adotem o relativismo cultural (a que todas as propostas esquerdistas se acomodam), assim como induzindo-lhes a interpretar todo fato social ou político que fira o seu sentimento moral, ou mesmo seus interesses mais imediatos, à luz do paradigma do materialismo histórico, isto é, das idéias de luta de classes e de que "o povo", por causa do sistema capitalista, é sempre vítima de interesss espúrios associados estrategicamente com a liberdade de empreendimento que caracteriza as modernas democracias constitucionais*.
Como essas ideias são destituídas de qualquer significação objetiva, e isto pode ser facilmente constatado por quem quer que se ponha a examiná-las sob a perspectiva lógica e histórica, as funções de propagandista e de agitador convergem para um único e mesmo ponto: solapar as bases intelectuais e psíquicas sem as quais o indivíduo não poderá levar a cabo tal exame nem, muito menos, resistir ao suave e atrativo mas ao mesmo tempo constrangedor discurso "politicamente correto", que é aquele com que tanto propagandistas quanto agitadores falam ao povo e que é contraposto ao que eles chamam de "neoliberalismo". Leiam o texto a seguir extraído de "Que fazer" de LENIN e vejam se não é exatamente isso que tá acontecendo no Brasil, em especial nas escolas secundárias e universidades, que são o palco privilegiado da atuação da militância. "um propagandista, ao tratar por exemplo do problema do desemprego, deve explicar a natureza capitalista das crises, mostrar o que as torna inevitáveis na sociedade moderna, mostrar a necessidade da transformação dessa sociedade em sociedade socialista etc. Em uma palavra, deve fornecer "muitas idéias", um número tão grande de idéias que, de momento, todas essas idéias tomadas em conjunto apenas poderão ser assimiladas por um número (relativamente) restrito de pessoas. Tratando da mesma questão, o agitador tomará o fato mais conhecido de seus ouvintes, e o mais palpitante, por exemplo uma família de desempregados morta de fome, a indigência crescente etc., e apoiando se sobre esse fato conhecido de todos, fará todo o esforço para dar à "massa" uma única idéia": a da contradição absurda entre o aumento da riqueza e o aumento da miséria; esforçar-se-á para suscitar o descontentamento, a indignação da massa contra essa injustiça gritante, deixando ao propagandista o cuidado de dar uma explicação completa dessa contradição. Por isso, o propagandista age principalmente por escrito, e o, agitador de viva voz"
___________________________________________
* Desse modo, dissemina-se a idéia de incompatibilidade entre democracia e capitalismo ou, o que dá no mesmo, a idéia de identidade de propósitos entre democracia e socialismo. Isso é feito, esvaziando-se o conceito de democracia, como forma de governo, do seu conteúdo jurídico e moral (cuja origem está na filosofia grega) bem como destruindo as bases culturais (que se assentam na tradição judaíco-cristã) do capitalismo, de tal modo que a participação ativa do povo na vida política, assegurada pela igualdade formal dos cidadãos perante a lei, ceda lugar à participação passiva, mas ideologicamente orientada, na distribuição equânime das riquezas (igualdade material) definida por quem detem o poder o poder político

21 de setembro de 2007

E-BOOK KRAUTROCK SAMPLER - JULIAN COPE

Excelente história do movimento kraut. Indispensável para os apreciadores do gênero e aqueles que querem se informar a respeito. A imagem da capa é o artwork do disco do Amon Düül II "Yeti".Copie e cole o link http://link-protector.com/288990/

18 de setembro de 2007

O MILAGRE DE DAWKINS: VAMOS PROVAR EXPERIMENTALMENTE QUE NÃO EXISTE O QUE É EMPIRICAMENTE IMPOSSÍVEL

Este blog abre espaço para nossos verdadeiros "hermanos" do Além-mar. Inteligência, erudição, bom-senso, postura científica, densidade filosófica ou qualquer virtude dianoética que se queira, não lhes faltam. Os legítimos donos do nosso bárbaro dialeto.Oh vergonha!Ter que balbuciar todo santo dia esse embromês de filisteu, novilíngua do Satanás. O que se segue é a língua PORTUGUESA com certeza! Texto de José Guilherme Bandeira sobre as tentativas científicas de "demonstrar" a inexistência de Deus.http://www.atlantico-online.net/blogue/2007/09/17/cartas-dos-leitores/ Leia: clique no título desta postagem

16 de setembro de 2007

Exegéticas das apologéticas III

professor universitário-contra qualquer forma de fascismo e de capitalismo, pela emnacipação da humanidade da bárbarie e da exploração. Por esses princípios nenhuma manifestação de variante fascista, covarde, caluniosa pode ser aceita contra quem quer que seja. Toda a solidariedade ao prof. Quartim e todos os membros do Cemarx, vitmimas de difamação e calunia. Marcos Del Roio O Marcos deu alguma coisa se dirige, não propriamente ao nosso diabólico Olavo, mas a “toda forma de fascismo e de capitalismo”. É o problema de se optar pelo aforismo. Esse negócio só serve mesmo pro Nietzsche, que é tudo menos prolixo. Eu gostaria muito de saber quantas e quais são essas formas. Mas acho que vou ter que estudar economia e teoria política, e muito, para descobrir. Como não poderia deixar de ser, o ilustre é professor universitário e, pelo visto, de universidade pública, porque se trabalhasse na iniciativa privada ou fosse dono de sua própria faculdade, eu diria que ele incorreu numa contradição performática. Mas como se trata de professor universitário, sua performance é mesmo a contradição. Ele parece lutar por toda humanidade para livrá-la daqueles que a exploram, que, obviamente, não podem ser humanos. Porque se fossem, fariam parte da classe dos explorados, que, como nos diz, é toda a humanidade.A não ser, meu caro Watson, que parte dos humanos sejam sado-masoquistas exploradores de si mesmos. É isso. Marcos deu rolo é um ativista anti-ação. Ele é contra qualquer empreendimento humano, porque fazer o que quer que seja implica, em alguma medida, empregar as próprias forças, e isso, evidentemente, é exploração, melhor, auto-exploração. Deve, portanto, ser um puta preguiçoso e vagabundo, pois não se permite a utilização, mínima que seja, de sua própria força de trabalho. E ai de você se acusá-lo de cometer esse leniente pecado capital. Marcão deu o roxo vai bradar na sua cara: “Arrefeça-se em sua vil atividade, seu fascistóide, eu repilo qualquer manifestação, você não pode explorar barbaramente suas cordas vocálicas ou suas mãos!”. Estão resolvidos todos os problemas da humanidade! Ufa, alguém tinha mesmo que falar essa verdade inconveniente. No action, no conflict. Já que abusei demais dos meus cansados neurônios (e da minha boa vontade), podemos concluir a análise desse aforismo dizendo que ele expressa, com muita parcimônia, é claro, a ética da não-exploração,que é o complemento de uma filosofia moral mais ampla da não-ação, teoria que, se for coerente, nunca verá a luz do dia

15 de setembro de 2007

Pomba Ghira baixou em Chauienstein

Eu contiuno achando o cara um picareta, mas isso não vem ao caso. Já decidi: o supremo princípio da safadeza intelectual no Brasil é mesmo a Chauienstein. Pomba Ghira está, ao menos temporariamente, redimido aos meus olhos. Tanto é, que recomendo aos escassos leitores deste blog que dêem uma olhada atenta no artigo "A verdade de Chauí é a verdade do PT", que se encontra em seu website. Pois estou absolutamente convencido de que um e outro são farinha do mesmo saco, embora não deixe de reconhecer que "o filósofo de São Paulo", no artigo supra-citado, tenha dado uma baita lição de moral em Chauí (se bem que isso qualquer garota do baixo-meretrício pode fazer). Como reprimenda à incontinência esquerdopata de Chauí, o texto de Ghiraldelli está simplesmente sublime. Endosso as suas sábias palavras, dignas de um espião da KGB. Sem elas, nunca desvendaríamos tão bem guardado segredo: "O compromisso de Marilena Chauí com a chamada verdade é o seu compromisso com a chamada verdade do PT. Ela perdeu a autonomia como filósofa, pois acredita em uma mágica, a saber, que a filosofia poderia continuar existindo em uma situação em que a imprensa viesse a ver o que viu, em Congonhas, e ficar quieta. Não, a filosofia perderia muito sem democracia". Porém, o preço da traíção entre os vermelhos é a contradição seguida de hipocrisia: "Não, filósofos de esquerda que são filósofos democratas, não podem mais defender isso. (...)Há a possibilidade de amar a filosofia, ser de esquerda e, ao mesmo tempo, ser suficientemente democrata para ver com bons olhos a liberdade de imprensa – a completa liberdade de imprensa, sem quaisquer restrições" Hummm.....Por que será que Chauí "perdeu a autonomia como filósofa"? Ser de esquerda não é, em alguma medida, sustentar que a vida espiritual é um epifenômeno da infra-estrutura econômica e que o mundo da cultura é o domínio das ideologias,que mascaram os conflitos de classe? Ser de esquerda também não é se comprometer, prática e teoricamente, com a revolução proletária e a transformação da sociedade? Como é possível, então, o amante da verdade e da vida contemplativa conservar a sua dignidade intelectual pensando e agindo dessa forma? Se Ghira consegue tal façanha, então vou começar a acreditar que a melhor maneira de se manter a castidade e não sucumbir às tentações mundanas é tornar-se cafetão e administrar a promiscuidade. Mas tudo bem, prefiro um esquerdista moderado que afeta um desejo profundo de sabedoria a uma filósofa medíocre que insiste no radicalismo político.

A dePRAVDAção de Marilena Chauí

Segundo Marilena Chauí, “o príncipe eletrônico” exerce sua tirania julgando e condenando “meros suspeitos” ao veicular, em favor dos interesses do capital, a “opinião tendenciosa e infundada” de que o PT montou um esquema de recrutamento sistemático de parlamentares ou de que o governo é o responsável direto pelo caos no setor aéreo, pois, com o “imoral” propósito de usurpar as funções do Judiciário e do Legislativo bem como de moldar a consciência do cidadão a sua imagem e semelhança, "a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião". Isso significa que a tarefa dos meios de comunicação, segundo Chauí, é calar-se, condenando-se à auto-censura, porque, para ter legítimo “acesso à esfera pública”, as opiniões, em sua forma e conteúdo, tem que obter a chancela da democracia, vale dizer, a autorização dela e da quadrilha do Planalto. Digam-me: como é possível noticiar alguma coisa sem se ter qualquer opinião a respeito? No mínimo, o jornalista tem a opinião de que algo é digno de ser noticiado ou, então, de que ele é, moral e intelecutalmente, capaz de relatar os fatos com o máximo de fidelidade possível (se essa opinião é verdadeira ou falsa são outros quinhentos), o que é, no fim das contas, o exercício mesmo do direito de expressão, liberdade que, segundo Marilena Chauí, se constitui num "privilegio" dos interesses privados e das grandes empresas de comunicação de massa. O que ela quer dizer mesmo, no seu jargão empolado, é que a imprensa não pode emitir opiniões desfavoráveis ou contrárias ao que dizem ou fazem os esquerdistas, em especial os que estão no governo. Ora, uma opinião, na medida em que possui algum significado, ou seja, refere-se a este ou aquele estado de coisas, é um enunciado problemático, que pode ser verdadeiro ou falso, mas que, por isso mesmo, já encerra uma presunção lógica de validade objetiva. Daí que toda opinião, mesmo que não seja expressa na forma “eu acho” ou “é possível que”, já subtende a necessidade de exame. Se se furta a esse imperativo lógico, a opinião não passa de um dogma, pois exclui, de saída, a própria possibilidade de ser ou refutada ou demonstrada. No primeiro caso,basta uma contradição lógica ou a contrafação pelos fatos; no segundo, a opinião se converte ou num saber empírico - caso em que pode se apoiar em constatações factuais, documentos e testemunhas - ou num saber racional - caso em que deve ser deduzida de princípios evidentes por si ou de enunciados apoditicamente verdadeiros, o que é muito mais difícil e raro no meio jornalístico.Ora, se um enunciado não pode, em princípio, ser verificado em seu valor de verdade, desnecessário seria encontrar razões objetivas, mesmo que insuficientes, para admiti-lo ou rejeitá-lo. Por conseguinte, o assentimento não é opinião, mas crença, para a qual são suficientes razões subjetivas, que são os móbeis mesmo da vontade. A improbidade intelectual, e até a depravação total do caráter, consiste exatamente no desejo - entorpecido e cego por aquelas razões subjetivas - de que nossa opinião nunca tope com objeções ,ou seja, de que aquilo que para nós é dúvida se constitua em certeza para os outros. Nesse sentido, conceder-se o direito de imunidade à crítica é negar a liberdade de os outros opinarem, ou seja, querer transformar crença em argumento. O problema, portanto, não é “permitir que se forme opinião” (como se as pessoas, não se sentindo livres ou tendo dificuldade para isso, necessitassem de um subsídio estatal!), mas ser capaz* de examiná-la, quem quer que seja o seu emissor e independentemente dos “interesses” que este tenha, capacidade que é verdadeiramente crítica quando exercida implacavelmente sobre as opiniões geralmente aceitas, mais ainda se estas forem, sub-repticiamente, assumidas como princípios e postas fora de debate, expediente de que Marilena Chauí e intelectuais de esquerda, via de regra, se servem para poder atacar as opiniões com as quais não simpatizam ou tentar salvar a imagem do PT e dos monstrengos comunistas mundo afora. Assim, a pretensão insana é congelar todo debate cujas regras não foram definidas nos termos da novilíngua esquerdopata: a opinião, se dada por quem não concorda com Marilena Chauí, é a priori falsa (logo inútil proferi-la), mas, se ‘”formada” por sua cabecinha ou mantida por quem lhe dá ouvidos, é um axioma (logo, inquestionável). De modo que a única possibilidade de debate com essa senhora é falando o que ela quer ouvir ou se calando diante do que ela disser.Uma coisa, pelo menos, é certa. Se o jornalismo brasileiro, que já está impregnado da dogmática esquerdista, adotar o paradigma chauienstainiano de imprensa livre e “democrática”, substituindo a investigação pela doutrinação, a única verdade universal e necessária, válida neste e em outros mundos possíveis, será a da irrefutabilidade das “opiniões” de que o PT não foi responsável pelo maior esquema de corrupção do país, de que José Dirceu e outros mensaleiros foram vítimas de calúnia, de que Lula não sabia de nada e..........de que o Fórum de São Paulo é lenda urbana.
--------------------------------------- * Capacidade cuja virtude é justamente a coragem de ousar fazer uso completo de sua própria razão, ou seja, o amar a verdade.

13 de setembro de 2007

O SILÊNCIO DOS INTERESSES DO PT E OS INTERESSES DO SILÊNCIO DE CHAUÍ

Em uma carta de 2005 dirigida ao seu grotão, a Usp, Marilena Chauí procura responder aos “apelos” de seus alunos e camaradas ( que estão “surpresos” com seu silêncio diante das traquinagens petistas) para, sem o mínimo pudor, manifestar o desejo de um “espaço público das opiniões”, onde ela possa, livremente e sem qualquer tipo de incômodo ou objeção, impor os seus dogmas mais caros, entre os quais o já batido chavão de que a imprensa, no sistema capitalista, está irremediavelmente atrelada a interesses privados, que, segundo ela, são incompatíveis com o “direito à informação”. O texto, como de praxe, é um amontoado de asneiras emolduradas por aquele jeitão de se expressar típico de intelectual orgânico e do mainstream acadêmico. Nada se salva, exceto algumas “teses”, que, destacadas da sanha proselitista e do “esquema argumentativo”de quem as propõe, são perfeitamente inteligíveis, mas, também, reveladoras da má-fé de nossa especialista em Espinoza e do partido que ela defende com unhas e dentes. Cito as passagens em que se encontram essas teses (marcadas em negrito por mim) e depois faço os devidos comentários: (1)Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados. Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. (2)Além disso, a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião. Por isso mesmo, a forma da notícia tornou-se assustadora, pois indícios e suspeitas são apresentados como evidências, e, antes que haja provas, os suspeitos são julgados culpados e condenados. Esse procedimento fere dois princípios afirmados em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, quais sejam, (3)todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário e ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos. Ora, vocês conhecem o texto de Hegel [filósofo alemão, 1770-1831], na ‘Fenomenologia do Espírito’, sobre o Terror (em 1793), isto é, a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, morte efetuada sob a forma do espetáculo público. Essa perspectiva, como vocês também sabem, é também desenvolvida por Arendt [Hannah Arendt, filósofa alemã, naturalizada norte-americana, 1906-1975] e Lefort [Claude Lefort, filósofo francês] a respeito dos totalitarismos e seus tribunais, e para isso ambos enfatizam, na Declaração de 1789, o princípio referente à não criminalização das idéias, assinalando que (4)nos regimes totalitários a opinião dissidente é tratada como crime. Pela tese 1, Marilena Chauí propõe que, para se emitir uma opinião verdadeira e imparcial sobre os fatos, inclusive sobre as ações de quem nos governa, neste caso o partido que ela ajudou a criar, os meios de comunicação devem necessariamente estar nas mãos do Estado. Ora, de há muito este já cedeu o lugar para o PT, ao qual tanto o Judiciário quanto o Legislativo estão docilmente curvados. Logo, o que a nossa Hebe Camargo da filosofia pretende é que os meios de comunicação sejam de propriedade exclusiva do PT e que apenas a este, como único e legítimo portador da moralidade pública, é permitido julgar a si mesmo. Colocando-se num patamar acima da própria razão humana universal, à qual, segundo Kant, necessariamente se impõe a tarefa crítica de submeter a uma prévia avaliação (cujo resultado, todos sabem, é a demonstração de limites intransponíveis) sua própria capacidade cognitiva, porque ela, em si mesma e independentemente de qualquer conteúdo (como razão pura), encerra uma propensão que a leva irresistivelmentede a se pôr questões que, em virtude do pressuposto semântico sob o qual são formuladas, não podem ser respondidas a partir de princípios tirados da experiência, o PT está a priori imune à crítica externa e dogmaticamente na posse de todo conhecimento objetivo, possível e imaginável, acerca dos rumos que o Brasil deve tomar. Primeiro porque, não podendo, em princípio, ser “condenado” (leia-se “contestado”) por suas idéias, o único juízo que se pode proferir, mesmo que os fatos mostrem o contrário, é o de que se trata de um partido “ideologicamente perfeito”, para o qual, portanto, qualquer opinião desfavorável é uma calúnia ou, para fazermos jus a tão impiedosa soberba, uma heresia contra sua “pureza”. Segundo porque, sendo o PT, em sua “verdadeira essência”, movido virtuosamente por interesses em si bons e justos, seus atos, quanto mais torpes e anti-democráticos forem, se constituem, na melhor das hipóteses *, uma fantasmagoria maliciosamente forjada pelos inimigos do povo e, portanto, uma prova inequívoca da maquiavélica conspiração da mídia golpista e da elite reacionária. Ainda de acordo com a tese 1, Marilena Chauí pensa que os “interesses de mercado” ou simplesmente os interesses que não sejam os dela e do partido para o qual trabalha incansavelmente, não têm direito algum de se imiscuir na “esfera pública das opiniões”, isto é, nas opiniões que ela, o PT e seus estafetas dão a todo momento sobre como a imprensa deve se comportar perante o governo. Ela quer, pois, que “o campo de interesses privados”, isto é, dos cidadãos, esteja bovinamente restrito ao “campo público de direitos”, isto é, que os fins ( bons ou maus, não importa) a que o indivíduo livremente se propõe se moldem segundo os caprichos de Marilena Chauí ou então sejam, como meios, instrumentalizados pela vontade totalitária do PT. A tese 2 é tão tosca e ridícula, que basta um rápido exame para se ver o quão insana é esta mulher. A imprensa, quando fala o que o governo não quer ouvir, opina, mas ela, Marilena Chauí, quando defende o indefensável, apenas estabelece as “condições teóricas” do debate público civilizado. A imprensa é sempre refém da doxa, mas Marilena Chauí e os intelectuais petistas são os depositários da episteme. Pois é justamente o contrário. A opinião da imprensa, por menos leviana que seja, é sempre opinião e, como tal, algo problemático que, num ambiente em que prevaleça o livre debate de idéias, obriga o simples bom senso,que toda pessoa normal possui(e isso exclui, infelizmente, Marilena Chauí), a conjecturas e à reflexão, ao passo que as opiniões petistas, estapafúrdias como via de regra são, recebem a unção dos ideólogos da revolução(praticamente, todo staff acadêmico)e se transformam, aos olhos de boa parte da grande mídia, em dogmas inquestionáveis. Quanto a tese 3, a primeira parte é o enunciado jurídico da presunção de inocência, do qual o mensalão fala por si mesmo. Da segunda parte, só pergunto o seguinte: E quando as idéias se convertem em atos ou induzem a atos? Por fim, a tese 4 afirma o que todo mundo sabe, sobretudo quem conhece Marilena Chauí e os horrores vendidos na rede de lojas de sua pequena e desinteressada ideologia teratológica: que em regimes totalitários ninguém pode ter, por mais inócua que seja, uma opinião contrária ao “interesse” de quem detém, de fato, o poder. ------------------------------------------------------------------------ *Na pior (plano B), os próprios atos ou são atribuídos ao “Outro” ou à fraqueza ideológica de alguns membros do partido (conspurcados pelo contato com a podridão das instituições políticas “deste país”) ou então, miraculosamente, são de per se sujeitos, que dispensam um agente

A revolussão curtural do menistro Intelék Thualy Haddad a nivel de velstibulá

MAIZ UMA VEIS FUE LEVADU À COLAR NO BLOB DO ASEVEDO. NÃO PUDERIA, E CRALO, DEICHAR DE POSTAR AQUI ESTÁ DIKA PARA VOSSÊ, MEINE FRENDY VELSTIBULANDO,QUE PENSSA EM INGREÇAR NUMAS PRISTIJIADA UNIVELCIDADE FEDERAU. CONSIGUI ESTRAIR UMA REGLA GERAU PARA TU SI DÁ BEM: ANTEZ DA PROVIA, MANDI BRONCA NA CELVEJA, FUMI UNS BAZEADOS E COMA O DRAGAUM DA SUA VISINHA QUE SEMPRE LHI DEU BOLA. É BATATIA! MAIZ SI NÃO FOR APROVADU, NAUM SI DEZESPERE, POIZ VOSSÊ SI MOSTROL SOÇIALMENTE REZPONSÁVEU. E SI COM ISSO A BARANGA FIKAR APAICHONADA E PENSSAR QUE VOSSÊ VAI NAMORAR CUM ELA, APRUVEITIA E SI MATRICULI-SE NO INZTITUTO UNIWERSAL BRASILHEIRO E FASSA UM KURSO PUR CO-RESPONDÊNSIA Reinaldo Azevedo "Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem" Robert Musil em O Homem sem Qualidades Quarta-feira, Março 21, 2007 Uma prova da Universidade Federal de Pernambuco e a revolução cultural do ministro Haddad Vocês sabem que não é apenas o PIB que passa por uma revolução sob o governo do Apedeuta. Também a educação. Uma nova aurora se anuncia. Ao lançar outro dia um pacote para o setoro, Lula disse que taí uma área com a qual não se pode brincar. Ou o resultado é analfabetismo na certa. Corajoso! A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem um programa chamado “Ingresso Extravestibular”. Liguei pra lá. Informam-me que é destinado — a moça não sabia direito, mas é mais ou menos isto — a quem já tenha um curso de graduação e queira fazer outro. Ou quase isso. Ficaram de me enviar um e-mail explicando, mas acho que esqueceram. O que importa é que o estudante ingressa na graduação fazendo uma outra prova, que não o vestibular tradicional. Segundo entendi, é um teste feito pela própria universidade. Abaixo, reproduzo algumas questões da prova aplicada para o ingresso no curso de filosofia. Você pode ter acesso a todas elas clicando aqui. O conjunto da obra mereceria um tratado. Antes que o candidato comece a responder as 25 questões, há 11 instruções/informações. Entre elas, temos a de nº 4: “Todas as questões desta prova são de múltipla escolha, apresentando como resposta uma alternativa correta.” Fiquei mais tranqüilo. Começarei pela mais interessante: a de nº 23 (colo o texto como está no site da universidade, incluindo a falta de apreço dos valentes pelas maiúsculas). Reparem: 23. Relacione estas obras aos seus autores: A metamorfose / Auto da compadecida / O conceito de angústia / Grande Sertão Veredas / Verdade e Método: A) Freud / Gilberto Freire / Sartre / Graciliano Ramos / Heidegger. B) Kafka / Ariano Suassuna / Sartre / Graciliano Ramos, Descartes. C) Paulo Coelho / Fernanda Montenegro / Heidegger / Gilberto Freire / Descartes. D) Freud / Ariano Suassuna / Heidegger / Graciliano Ramos / Gadamer. E) Kafka / Ariano Suassuna / Kierkegaard / Graciliano Ramos / Gadamer. Huuummm. Vamos lá, leitor amigo. A Metamorfose é de Kafka. Oba! Vou acertar. Fiquei entre as alternativas B e E. Auto da Compadecida é do “pernambucano” nascido na Paraíba Ariano Suassuana. Xi, ainda a dúvida: B ou E?. O Conceito de Angústia? E agora? Heidegger ou Kierkegaard? (é deste útimo, amigo) “Ah, se tivesse o Google aqui...”, pensava o aluno triste. Mas ele não é bobo. Deixa isso de lado e vai para a obra seguinte: Grande Sertão Veredas. Pô, isso ele lembra. É do Guimarães Rosa, certo? Certíssimo. Mas cadê o Guimarães Rosa nas alternativas? Meu Deus! Segundo a Universidade Federal de Pernambuco, o autor da obra só pode ser GRACILIANO RAMOS!!! Perguntei para a moça que me atendeu, na Assessoria de Comunicação da UFPE, se havia alguma errata sobre a prova. Ela não tinha informação. Como Graciliano entrou no rolo? Ele não escreveu O Conceito de Angústia, mas Angústia. Uma confusão na hora de o examinador fazer pesquisa do Google. Vocês sabem: O Google é analfabeto. Quem não pode ser é o pesquisador. Estupefatos? Vocês se chocam com pouco. Ainda não viram nada. Antes da questão 23, há a 22!!! 22. Aponte os exemplos de homens éticos com visão filosófica engajada (para além da hipocrisia): A) Bush, Olavo de Carvalho, Editora Abril, Inocêncio de Oliveira e Roberto Marinho. B) Dalai Lama, Gandhi, Marina da Silva, Frei Beto e Dom Helder. C) FHC, Marco Maciel, ACM, Ratinho e Reginaldo Rossi. D) Leonardo Boff, Irmã Dulce, Ariano Suassuna, Betinho e Zilda Arns. E) Dalai Lama, Gandhi, ACM, Frei Beto e Leonardo Boff, Viram no que gastam o seu dinheiro, leitor amigo? Não sei se entendem. Na questão acima, é preciso falar de ética “além da hipocrisia”, e isso significa que estão fora, claro, Bush, Olavo de Carvalho, Editora Abriil, Inocêncio de Oliveira, Roberto Marinho, FHC, Marco Maciel, ACM, Ratinho e Reginaldo Rossi. Repararam? Todas essas pessoas (e até a Abril, que pessoa não é) devem ser colocadas num mesmo saco de gatos se você quer cursar filosofia na Universidade Federal de Pernambuco. Só resta mesmo, no teste ideológico, as alternativas B e D. Acredito que a resposta certa seja a B. São exemplos de homens éticos “Dalai Lama, Gandhi, Marina da Silva, Frei Beto e Dom Helder.” Por que não a D? Talvez porque Ariano seja escritor e dramaturgo, e artista não costuma ser muito ético no Brasil... Ou será porque irmã Dulce era amiga de ACM? Estou tão confuso! Mas a escolinha do professor Fernando Haddad ( ministro que está liderando a revolução cultural) não pára por aí. Ah, não. No besteirol abaixo, peço que atentem, de saída, para o rigor com que se emprega a língua portuguesa, inculta, sim, mas jamais bela: 24. Peter Singer diante do Cristianismo, da Ecologia profunda e da Ética ambiental: A) esqueceu completamente a natureza, e atualmente continua a mesma situação. Ela não é profunda nem sincera, pois apela para o totalitarismo. A ética ambiental é urgente. B) estimulou o afastamento do homem com a natureza mas pode ajudar na atualidade. Ela é profunda e romântica, mas pode cair na visão genérica do Todo antes do singular. A ética ambiental é urgente. C) evitou a violência e pode ajudar na ecologia. Ela é romântica mas não é profunda, tem problemas políticos. A ética ambiental deve ser utilitarista e imediata. D) teve apenas uma teologia da salvação e não da criação. Ela é traduzida como amor biocêntrico à natureza. A ética ambiental deve ser antropocêntrica. E) estimulou o conflito do homem com a natureza mas pode empactar na atualidade. Ela é profunda e pictórica, mas pode resurgir na visão genérica do Todo antes do plural. A ética ambiental é passageira. O que mais me encanta? Os verbos “empactar” — tudo aquilo que, suponho, provoca EMPACTO, e “resurgir”, que, sugiro, passe a ser grafado na UFPE com “ç”: “reçurgir”, para evitar que o desavisado atribua àquele “s” único intervocálico o som de “z”. No que concerne à sintaxe, à organização da frase propriamente, e à clareza, vejam a alternativa A: “Esqueceu completamente a natureza, e atualmente continua a mesma situação. Ela não é profunda nem sincera, pois apela para o totalitarismo. A ética ambiental é urgente.” Ai, Jesus! Quem ou quê “continua atualmente a mesma coisa”? “Ela” quem??? Não é profunda nem sincera? O QUE ISSO TUDO QUER DIZER??? Não é uma piada. O que vai acima está no site da Universidade Federal de Pernambuco. Uma revolução cultural está em curso no país. Já dei uma palestra na UFPE uma vez. Ali encontrei alguns dos estudantes mais preparados do Brasil. E eles não se envergonham menos com isso tudo do que me envergonho eu, brasileiro que sou, como os pernambucanos. A questão é nacional, não regional. Nisto torram o seu dinheiro: ignorância, proselitismo ideológico, vulgaridade. Quando fui fazer a tal palestra, um grupo de estudantes do PT e do PC do B fez panfletagem no campus conclamando os alunos a não comparecer ao evento. Eu era caracterizado no panfleto como um reacionário, perigoso direitista e, mais engraçado, “contra o ensino universitário público, gratuito e de qualidade”. Até brinquei com os presentes: “Sacanagem comigo! Sou contra o ensino universitário gratuito, sim. Público, embora não precise, ele até pode ser. Mas juro que nada tenho contra a qualidade”. Por Reinaldo Azevedo | 18:22

Exegéticas das apologéticas II

Padre e professor universitário --Somo-me à solidariedade ao prof. João Quartim de Moraes em face do desrespeito invejoso sofrido por parte dos direitistas e fascistas. Estes se escondem sob as sombras do anonimato, procurando ocultar seu medo e ódio do avanço do povo, que só os verdadeiros democratas sabem acolher e protagonizar. Digo ao colega e companheiro João. Q. de Moraes: não te deixes abater, camarada! Segue em frente servindo a inteligência e a cultura do nosso povo. Ninguém atira pedras em árvore sem frutas. Abraços e viva a revolução! Orvandil Moreira Barbosa. COMENTÁRIO: Como se vê, o texto é nada hermético, expressa tudo o que o autor, sob o peseudônimo de Orvandil, sente pelo repugnante e abominável Olavo de Carvalho e o que ele chama de direitista e fascista, isto é, tudo que está fora dos limites de sua chácara ideológica e do seu galinheiro mental. Todos os elementos constitutivos da esquerdopatia estão aqui resumidos magistralmente: o perfeito idiota latino americano é padre avesso à tradição católica, professor universitário provavelmente doutrinador, camarada de camarada, toma como blasfêmia e insulto qualquer crítica ao modo de pensar e agir de esquerdista, fala em nome do povo, se diz democrata par excellance, pensa que está na vanguarda da cultura e investido de um conhecimento inacessível aos não iniciados na seita, mas, gnosticamente, haurido de uma tradição secreta, crê piamente que é um santo consagrado à tarefa de redimir o mundo, não hesita em bradar uma palavra de ordem e empregar uma máxima de exaltação moral para elevar o ânimo do comanheiro cuja "honra" foi "corvardemente" atacada. Que conclusões tirar disso? Meu caro Orvandil, não se precisa jogar pedras na sua "arvore", pois os frutos dela já se encontram no chão apodrecendo, até porque é difícil, senão impossível, arrancar uma jaca mole a pedradas, e isto se ela, na verdade, não for um daqueles arbustos retorcidos do cerrado. Seu único remédio é a serra-elétrica. Nota: Na passagem em itálico, o autor quer dizer "desrespeito invejoso praticado por todos os direitistas e fascistas contra Quartim" e não "praticado por parte deles" ou "sofrido por eles ou parte deles"

DOGMÁTICA SEM ZETÉTICA OU DA ARTE DE RE-DESCOBRIR A RODA

Tá um pouco atrasado, é verdade, mas descobri esta pérola hoje por acaso. Como é o negócio mesmo? Quer dizer que nossos historiadores e sociólogos, uma boa parte dos quais partícipe das ações terroristas contra a ditadura militar, descobriram, depois de longa e árdua investigação, que "a resistência democrática" queria mesmo era implantar aqui uma ditadura do proletariado e não reestabelecer o estado democrático de direito, que, se o golpe militar não ocorresse ou as guerrilhas não fossem contidas, cabeças rolariam, que a sanha revolucionária e a luta armada já faziam parte das "reformas de base" de João Goulart, que se os militares não tivessem tomado essa medida drástica, nós estaríamos vivendo hoje com uma ração diária de soma, enfim, que as intenções da esquerda não eram nada do que alardiavam, pois consideram a democracia e o direito conceitos burgueses que devem ser abolidos,tanto do ponto de vista teórico quanto prático? Esperemos, então, até dezembro para ver o que foi realmente"desaparecido", já que, segundo decreto de Lula, os "documentos do governo federal produzidos durante a Ditadura Militar e mantidos em sigilo pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), serão colocados à disposição pública no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro." Só temo os procedimentos e critérios que serão adotados pelos "dois grupos técnicos formados por profissionais da Abin e do Arquivo Nacional para organizar e classificar as informações produzidas durante a ditadura pela Comissão Geral de Investigações (CGI); pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN) e pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), órgãos da administração federal que já foram extintos". A pantomima esquerdista já está sendo ensaiada para manter à salvo a canonização de nossos destemidos amantes da democracia, mártires da Igreja de Heilig Marx: Documentos considerados "utrasecretos", que possam trazer risco para a sociedade e para o Estado, e aqueles que causem danos à imagem de pessoas, continuarão sob sigilo. A lei que regula a política nacional de arquivos públicos e privados (8.159/1991) estabelece que esses documentos "são originariamente sigilosos". Ciência social no Brasil é isto: o sujeito já sabe, desde o projeto de pesquisa, o que procura. A conclusão da investigação não fecha com um "heureka', mas com um "como expor de uma maneira ideologicamente eficaz a "boa nova". Hipóteses contrárias já estão in limine descartadas em favor da "hipótese de trabalho", a qual não sucumbe a qualquer contrafação pelos fatos nem se submete a qualquer exigência lógico-semântica. Na verdade, a tese, "os resultados da pesquisa" já estão analiticamente contidos na "fundamentação teórica". Não há problema teórico cuja solução se busca, mas uma "realidade social" que é interpretada criticamente, isto é, acomodada ao quadro mental do pesquisador. Não é de se admirar, pois, o fato de que se se aventa uma hipótese contrária a explicação oficial do fenômeno estudado, o debate teórico transforma-se em "bate-boca" Isto explica a repulsa intestinal que eu tinha por história e geografia na época do segundo grau. Já percebera cedo que o que tá num compêndio dessas disciplinas é, em princípio, inquestionável, irrefutável como uma proposição metafísica, com a diferença de que as doutrinas que vc. aí encontra nada esclarecem e tudo confundem. Mas a ciência social brasileira, ao menos, corroborou uma certeza: eu não tinha mesmo que consultar o manual a cada vez que fosse acionar o play do videocassete! Maldita hora que abandonei a idéia de estudar no Cotuca por ficar encantado com livros de filosofia. 31/3/2004............ Assessoria de Comunicação e Imprensa - UNICAMP 64‘FALAVA-SE EM CORTAR CABEÇAS; ESSAS PALAVRAS NÃO ERAM METÁFORAS’, DIZ PESQUISADOR (O Globo - O País - 31/3/2004) 29/03/2004 Resistência democrática, dogma que desaba Estudiosos da ditadura, entre eles um ex-guerrilheiro, atacam crença de que esquerda armada lutava por democracia Um dogma precioso aos adversários da ditadura militar iniciada a 31 de março de 1964 está em xeque. Novos estudos realizados por especialistas no período — alguns deles integrantes dos grupos de oposição ao regime autoritário — propõem uma mudança explosiva, que semeia fúria nos defensores de outras correntes: chamar de resistência democrática a luta da esquerda armada na fase mais dura do regime está errado, historicamente falando. — Falava-se em cortar cabeças, essas palavras não eram metáforas. Se as esquerdas tomassem o poder, haveria, provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de grandes proporções no Brasil — atesta Daniel Aarão Reis, professor de História da UFF e ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). — Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento deles: fuzilamento e cabeças cortadas. “Ninguém estava pensando em reempossar João Goulart” Denise Rollemberg, mestre em história social da UFF, destaca que o objetivo da esquerda era a ditadura do proletariado e que a democracia era considerada um conceito burguês. — Não se resistiu pela democracia, pela retomada do status quo pré-golpe. Ninguém estava pensando em reconstituir sistema partidário ou reempossar João Goulart no cargo de presidente — diz Denise. A professora explica — e Aarão Reis concorda — que a expressão sequer surgiu no fim dos anos 60, início das batalhas entre militares e terroristas. A “resistência democrática” apareceu na campanha pela redemocratização do início da década de 80, após a anistia que permitiu a volta de exilados como Leonel Brizola, Miguel Arraes e Fernando Gabeira e criou uma clima de conciliação nacional. — A descoberta da democracia pela esquerda se dá apenas no exílio, com a leitura de filósofos e pensadores como o italiano Antonio Gramsci e o entendimento correto das manifestações de maio de 1968 em Paris. Acabou virando tudo uma coisa só — diz ela. A revisão de uma idéia cara à esquerda transformou-se em bate-boca no seminário “40 anos do golpe: 1964-2004”, realizado semana passada no Rio. Professor de filosofia da Unicamp, João Quartim defende que a luta era contra o golpe, pela restauração da democracia. Também ex-integrante de uma organização armada, a Vanguarda Popular Revolucionária, Quartim rejeita o rótulo de antidemocrático. — Lutávamos contra o golpe imposto pela violência ao país. O conteúdo do nosso projeto era levar adiante, com mais audácia, as reformas de base do governo Jango. Quem deu o golpe é que quebrou, pela violência, esse processo. O golpe foi dado pela direita, com o apoio da frota americana que chegou a começar o deslocamento para cá — argumenta Quartim. O período que está na berlinda tem o rótulo de “guerra suja” e aconteceu de 1968 a 1974 — ainda que as paixões indiquem que foi ontem. O mergulho nas ações armadas deu-se a partir de uma dissidência que produziu vários grupos de esquerda, depois massacrados por uma indústria de torturar e matar montada pelo governo dentro das Forças Armadas. Outro participante da luta, o professor de História da UFRJ Renato Lemos, acha que é responsabilidade ética, social, política e histórica da esquerda assumir suas idéias e ações durante a ditadura. — Cada vez mais se procura despolitizar a opção de luta armada numa tentativa de autocrítica por não termos sido democratas. Nossa atitude foi tão válida quanto qualquer outra. Havia outros caminhos, sim. Poderíamos tentar lutar dentro do MDB, mas achávamos que a democracia já tinha dado o que tinha que dar — confirma Lemos. Professora da USP, Maria Aparecida de Aquino pondera que nada é assim tão simples. Para ela, não se pode afirmar que caminho tomaria o Brasil se a luta armada tivesse prosperado. — Era resistência, mas não sabemos se seria democrática porque a esquerda não chegou ao poder — sustenta ela. — Não havia como pensar no restabelecimento do estado de direito sem tirar militares do poder. Quem interrompeu a democracia foram os militares. Aarão Reis discorda. — As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra. Disputa entre duas elites a que o povo assistia de fora Professor de sociologia da Unicamp, Marcelo Ridenti argumenta que o termo “resistência” só pode ser usado se for descolado do adjetivo “democrática”. — Houve grupos que planejaram a ação armada ainda antes do golpe de 1964, caso do pessoal ligado ao Francisco Julião, das Ligas Camponesas. Depois de 1964, buscava-se não só derrubar a ditadura, mas também caminhar decisivamente rumo ao socialismo. Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, autor do aclamado “Como eles agiam”, sobre o funcionamento do regime, Carlos Fico chama de ficção a idéia de resistência democrática. Ele também ataca a crença de que a luta armada foi uma escolha motivada pela imposição do AI-5. — A opção de pegar em armas é anterior ao ato institucional. Alguns grupos de esquerda defenderam a radicalização antes de 1968 — garante ele. O professor da UFRJ defende que os confrontos armados eram uma disputa sangrenta entre duas elites — o povo ficava de fora, assistindo aos sobressaltos. www.oglobo.com.br/pais Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O País Tamanho: 935 palavras Edição: 1 Página: 8 Coluna: Seção:

12 de setembro de 2007

exegéticas das apologéticas I

Antes de submeter à análise essa monumental obra do pensamento filosófico brasileiro, cabe algumas explicações iniciais. Trata-se de um work in progress confeccionado por cerca de 1300 cabeças iluminadas, cada uma das quais responsável por um aforismo. Ponto de inflexão da literatura universal, ela inaugura o que se pode chamar de, na sua parte teórica, método do dogmatismo cético e, na sua parte prática, militância aristocrática de massa, pois está aberta a ulteriores contribuições, inclusive de semi-analfabetos, dos quais só se requer o sincero desejo de escrever o próprio nome bem como a capacidade de tomar por verdadeiro tudo sobre o qual paire alguma dúvida e de reputar falso tudo que abale, minimamente que seja, suas crenças e opiniões. De caráter assumidamente assistemático, o texto carece efetivamente de unidade lógica, cuja ausência se nota logo pelo fato de alguns aforismos só conterem o nome do autor e, sobretudo, pelo fato de nenhum deles servir de premissa para os outros, mas, o mais das vezes, insistir na mesma tecla. Ademais, o texto parece dirigido não à demonstração e/ou refutação de teses, mas à defesa de uma causa meio ambígua, que oscila entre a apologia de um certo ideal de justiça e o ataque, sem meias palavras, a um aparentemente sórdico, cruel e desbocado representtante da Cia, das oligarquias locais, de poderosos e insensíveis capitalistas, de uma certa religião de há muito sem prestígio... enfim, ao confronto verbal com esse perigoso e academicamente inexpressivo entusiasta da tradição judáico-cristã ocidental e do conservadorismo católico, polemista belicoso que, paradoxalmente, é considerado pelos autores um zé-ninguém que só quer ganhar notoriedade às expensas da intelectualidade desse Brasil varonil. Por conta desse estrambótico formato literário, e da estrutura estilisticamente desleixada, o texto em pauta pode ganhar inteligibilidade se cotejado, de preferência dialeticamente, com o simplório pensamento desse abominável, reacionário e desprezível inimigo das luzes, conhecido por Olavo de Carvalho, que, segundo consta, encontra-se refugiado em Richamond, Virginia, EUA, algo que, de acordo com os autores, já dá muito o que pensar. Recomenda-se, também, que o leitor se inteire dos fatos que suscitaram a querela e um tão apaixonado manifesto a favor da livre e civilizada expressão do pensamento.

A IMPRENSA INDEPENDENTE E O DITADOR-FILÓSOFO

NADA DE REI-FILÓSOFO OU DÉSPOTAS ESCLARECIDOS, AGORA TEMOS UMA NOVA MODALIDADE DE SÁBIO: O DITADOR-FILÓSOFO. ELE VEM SE SOMAR AOS INTELECTUAIS ORGÂNICOS E AO INTELECTUAL-TERRORISTA, CUJO ÚNICO ESPÉCIME, QUE SE ENCONTRA BEM INSTALADO NA UNICAMP, É RESPONSÁVEL PELO JÁ CLÁSSICO DO PENSAMENTO CRÍTICO "DO PRINCÍPO DA PETIÇÃO À PETIÇÃO DE PRINCÍPIO:COMENTÁRIOS DE ABAIXO-ASSINADOS AO ABOMINÁVEL CARRASCO DOS NÉSCIOS".COMO OS LEITORES, DE AGORA EM DIANTE, VÃO PODER FACILMENTE ENCONTRAR NAS PÁGINAS DA REVISATA "CAROS UMBIGOS"AS REFLEXÕES DO FILOCRATA, RESERVAMOS ESTE ESPAÇO PARA A PUBLICAÇÃO PERÍODICA DOS AFORISMOS DE QUE SE COMPÕE A OBRA ACIMA REFERIDA, SEGUIDOS DE NOTAS EXPLICATIVAS DESTE QUE VOS ESCREVE. NOVO COLUNISTA Fidel Castro resolveu escrever. De pouco tempo para cá, passou a pôr no papel e na imprensa cubana o que chamou de Reflexões, abordando os mais variados temas. Vendo isso, resolvemos fazer uma consulta a Cuba: Caros Amigos seria autorizada a publicar um texto de Fidel mensalmente, incluindo-o entre seus colunistas? A resposta foi positiva, e eis aí uma nova estréia a comemorar. Bem-vindo a nossas páginas, escritor Fidel Castro! Enquanto isso, do campo oposto de pensamento é criado no Brasil o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, lançado na sede da OAB-SP por empresários, publicitários e editores. Porque “há um desencanto, uma tristeza grande, e quando isso prevalece sempre pode surgir um aventureiro para levar o país a um destino ruim, sem rumo”. Um bafio de 1964, devidamente amparado por jornalões como o Estadão, que se apressou em dar a notícia em primeira mão, com destaque, no primeiro caderno. A Folha cochilou, mas deu nos dois dias seguintes, com igual destaque. Ao mesmo tempo, editoras como a Abril ofereciam espaço gratuito em suas revistas para o Movimento publicar seus anúncios, que seriam criados por uma agência grande de propaganda, a África. Assim, ainda que não levando a crédito de estímulo a um espírito golpista, essa como outras manifestações de idêntica inspiração estão merecendo uma discussão de âmbito nacional. Uma discussão sobre a face atual do jornalismo encontrado nos veículos grandes da mídia, principalmente os jornalões e a Rede Globo, e principalmente seus colunistas e editorialistas. Estão superdimensionando qualquer fato ou ato que desagrade sua inexplicável auto-elevação ao pódio de mentores da nação. Não estaria na hora de os jornalistas que não rezam pelo manual dos veículos grandes que se julgam superpoderosos tomar uma atitude conjunta no sentido de desmitificar essas empresas e empregados? Ou não? Está nos deixando Tatiana Estanislau, a querida Tati, depois de nove anos de Caros Amigos, tocando o nosso site. Vai cuidar da filhinha Lorena e da pequena loja de artesanato nordestino que abriu na rua Fradique Coutinho (número 774 , para eventuais interessados). Nesta edição, o inesquecível e insubstituível Milton Santos é homenageado por João Pedro Stedile. Todos assinamos embaixo.

8 de setembro de 2007

O que é Krautrock?

Alguns dizem que é um ramo do rock progressivo, outros o identificam com o jeitão alemão de fazer rock, especialmente o de viés mais experimental, outros ainda empregam o termo para designar todo o complexo de bandas que surgiram na Alemanha no final da década de 60/início dos anos 70, não se referindo, neste sentido, a um estilo musical. Querelas à parte, o fato é que o termo foi cunhado por um disc-jockey inglês para designar, pejorativamente, os inúmeros grupos alemães de inspiração psicodélica nesse período, talvez pela sonoridade soar esquisita se comparado ao progressivo britânico, grupos que, pela sua originalidade e ousadia, resistiam a qualquer classificação satisfatória. "Kraut" significa, basicamente, repolho, erva.. Só pode ser zoeira dizer que uma banda faz um rock repolho ou vegetal. Pode também ser alusão ao fato de que a contra-cultura e, por conseguinte, as drogas, terem sido recebidas entusiasticamente pela juventude alemã, ressentida dos traumas da segunda guerra. De qualquer forma, creio que o texto que segue explica mais ou menos o sentido do movimento krautrock: "O krautrock, em termos musicais, pode ser considerado uma síntese de influências que transitam entre a psicodelia de nomes como Pink Floyd (em sua fase inicial), La Monte Young e Velvet Underground e as vanguardas eruditas do século XX (músicas concreta e eletroacústica), incluindo ainda passagens pelo minimalismo, pelo atonalismo e pelo free jazz. É caracterizado por um gosto obsessivo por dissonâncias, ruídos, colagens sonoras, improvisação e ritmo, freqüentemente preocupando-se mais com o timbre do que com a melodia É um erro freqüente a classificação de toda a cena rock alemã dos anos 70 com a utilização da denominação krautrock: é quase normal encontrar artigos que tratam o termo como uma espécie de "saco sem fundo" e que terminam por incluir bandas de hard alemão como Lucifer's Friend e Eloy nessa categoria, o que é um grande erro. Tradicionalmente, o krautrock é sinônimo de ruptura com o paradigma "vejam o quão rápido podemos tocar", substituindo-o por "vejam o quão longe podemos ir". Considerado assim, podem ser chamados kraut tanto o "kosmische rock" de Ash Ra Tempel, TD, Klaus Schulze, Faust, Cluster, Neu! e o som experimental/eletrônico, mais jazzístico e nitidamente inspirado em Stockhausen, de um Can, de um Amon Düül II ou um Kraftwerk quanto os grupos de hard e prog mais influenciados pelo som inglês, tais como Grobschnitt, Eloy, Jane, Birth Control, Pell Mell, Satin Whale, Hoelderlin, Novalis, Wallenstein, Ramses, Pancake etc. Foi daí que eu tirei o nome deste blog, que, como o krautrock, não se resolve no mero chucrute, porque espera sempre chegar mais longe e ser melhor.

SEMÂNTICA ESCARLATE

Em artigo publicado recentemente na Folha de São Paulo, o jovem diplomata Marcelo Otávio Dantas toca no centro nevrálgico da empulhação linguística do pt: a manipulação criminosa do sentido das palavras, cujo exemplo mais patente é "o uso que se vem fazendo do termo ´elite´", conceito que, segundo Dantas, "nossa intelectualidade transformou[...] em um mero clichê ao dispor das lideranças populistas de viés autoritário". Podemos acrescentar que tal expediente, na verdade, revela a face anti-democrática da impostura intelectual dos petistas e ideólogos da esquerda.Estes, empoleirados em universidades e jornais, se arrogam legisladores da língua, que, junto com a lógica, a retórica, o direito e tudo o mais que concerne ao emprego da palavra, é instrumentalizada para servir aos seus vis propósitos. E o que eles fazem? Impregnam as palavras com todo tipo de conotação, de modo que fique difícil, ou até impossível, defini-las. Assim, em qualquer debate, se não apelam feio para argumentos ad personam, como é de praxe, podem se servir impunemente dos mais variados sofismas: silogismos com mais de três termos, induções apressadas, inversão do modus tollens, conclusões tiradas de premissas ocultas, argumentação indireta baseada na refutação de proposições contrárias ou até sub-contrárias........ Mas a situação ainda é muito pior,pois, nessa novilíngua, a contradição não é mais condição suficiente da falsidade do discurso. E, dado que o desrespeito pelo princípio de não contradição corre pari passu com o deliberado desprezo pelos fatos "num ambiente semelhante, o debate público, sério e fundamentado, se torna inviável". Mas não pensem que o estratagema esquerdista de fazer as palavras perderem sua significação objetiva (denotação) e, com isso, causar danos irreparáveis no intelecto humano,que, desse modo, fica a priori incapacitado de se representar e buscar a verdade, limita-se a conceitos cuja manipulação é politicamente conveniente em dada conjuntura. Como principal arma da revolução à la Gramsci, esse terrorismo cultural intenta, sistematicamente, destruir toda possibilidade de referência discursiva à realidade, referência sem a qual os conceitos são vazios e os juízos, destituídos de validade objetiva, transformam-se em meras opiniões que, se propagadas por quem exerce totalitariamente o poder político , como o pt, nenhum argumento consegue refutar. Portanto, o único meio de se ter sucesso na luta honesta contra esse estado de coisas é desmascarar a novilíngua esquerdista, da qual o discurso do pt é o dialeto oficial em que o brasileiro médio, em especial o jovem, está forjando um repertório confuso de idéias, cuja expressão peca, não apenas pela ´falta de precisão vocabular´, mas,sobretudo, pelo atentado insano à lógica.

FOI TONINHO MAIS UMA VÍTIMA DE JUSTIÇAMENTO?

CRIME CUJO SUSPEITO AGIU SEM MOTIVAÇÃO ALGUMA CONHECIDA. TONINHO, CELSO DANIEL, QUEIMAS DE ARQUIVO. HÁ MAIS COISA PODRE NO REINO DA PETRUALHA DO QUE PODE INTUIR NOSSO VÃO SENSO DE JUSTIÇA Rose Mary de Souza Direto de Campinas A psicóloga Roseana Garcia, viúva do prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, se mudou de Campinas há cerca de quatro anos e foi morar na capital paulista temendo por sua segurança após ser ameaçada. Ainda hoje, quase seis anos após a morte de Toninho, ela diz ter medo e temer pela segurança de sua filha. Roseana, que está em Campinas para atos em lembrança à morte do prefeito, discorda da Promotoria que aponta o seqüestrador Wanderson Neuton de Paula Lima, o Andinho, como responsável pela morte de Toninho. Ela pede a reabertura das investigações. Andinho cumpre pena em um presídio no interior de São Paulo e nega ter matado o ex-prefeito. Sua condenação chegou a quase 70 anos. O juiz do Tribunal do Júri de Campinas deve se pronunciar nos próximos dias. Toninho foi assassinado em 10 de setembro de 2001. O caso ainda corre nos tribunais. A Justiça não conseguiu determinar a motivação e o autor do tiro que tirou a vida do arquiteto, que tinha 49 anos. Toninho foi eleito com 59,79% de votos para administrar o município com quase 1 milhão de habitantes. Cerimônias Parentes e amigos vão se reunir na manhã de domingo, na avenida Mackenzie, local onde o ex-prefeito foi alvejado dentro de seu carro. À noite, às 19h, será celebrada uma missa na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Proença, a pouco metros da casa em que a família morava. "Estou cada vez mais convencida que foi um crime de mando, do crime organizado. Cada vez fica mais claro que o estilo de Antonio era incompátivel", afirma Roseana. "É um crime que ninguém consegue resolver. O Antonio iria atrapalhar as maracutaias de muita gente. Ele era destemido até demais", comenta pontuando cada palavra. Para Roseana, a cidade que o seu marido administrou por nove meses concentra nichos da criminalidade. "A violência é cavalar", diz. "Basta procurar em arquivos e encontrar ações do narcotráfico, roubo de cargas, lavagem de dinheiro, gente graúda envolvida", enumera ela, assim como sustentou em depoimento na CPI dos Bingos na Câmara dos Deputados. Redação Terra Família de Toninho do PT tenta incluir testemunha A família do prefeito de Campinas assassinado em 2001, Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, solicitou para que uma testemunha que liga o caso ao suposto esquema de corrupção no contrato do lixo da cidade seja ouvida em juízo. A família do ex-prefeito petista contesta a versão do Ministério Público (MP), que não aponta motivação para o crime. O MP pede que o seqüestrador Wanderson de Paula Lima, o Andinho, seja levado a júri popular pelo crime de homicídio. Já a viúva e o irmão de Toninho alegam em documento entregue à Justiça que a acusação do MP necessita de "mais robusta comprovação", de acordo com o jornal Folha de S. Paulo. Redação Terra

KALEVALA

KALEVALA - Texto extraído da Gibraltar - Encyclopedia of Progressive Rock

Discography People No Names (72) Boogie Jungle (75) Abraham's Blue Refrain (77) Live in Finland & Europe 1970-77 (04, Live) Anthology (04, Compilation) Reviews Heavy psych. People is one of Finland's rarest albums, Boogie is more mainstream, but lyrics (and some vocals) by Wigwam's Jim Pembroke. Electric guitar leads, flute, piano and acoustic guitar. Kalevala was founded in 1969 by bassist Juha "Lido" Salonen; they ended up with the name of the Finnish national epic almost by accident, when a concert organiser objected to their then-topical original name Vietnam and they needed a quick replacement. The band's early line-up sported such would-be icons of no-nonsense Finnish rock as guitarist Albert Järvinen and drummer Remu Aaltonen, and that's pretty much what their early material was, straight-ahead and aggressive guitar rock; a few surviving live recordings from this period have been released on compilation discs, so be careful if you come across these. Subsequent line-up changes turned Kalevala's course towards progressive rock, especially the arrival of guitarist Matti Kurkinen who would compose all eight songs on their 1972 debut album. Some of the songs on People No Names (Finnlevy SFLP 9532) are closer to psychedelic than progressive rock in that they are still essentially grounded in the blues scale, especially during the vocal sections, but feature some compositional sophistication beyond the scope of ordinary rock music and long guitar solos over repetitive instrumental vamps. On the other hand, "Where I'm From" and "My Friend " are more formally prog as they feature delicate, classically-influenced instrumental sections with exquisitely spun-out piano work from guest keyboardist Olli Ahvenlahti, which then suddenly lurch into a wildly contrasting vocal section or gradually grow rockier as they pick up more instruments on the way. The strident and twisty title track definitely fits the progressive bill, with its acoustic/electric shifts and a bass line which reveals the band had at least heard "Heart of the Sunrise". There is also a noticeable folk influence, especially on the final track "Tamed Indians". What keeps the album together is Kurkinen's tasteful guitar work, which shows some influence at least from Focus' Jan Akkerman and also Steve Howe; he comes up with interesting parts that serve the songs (listen to his nimble, Howe-like riffing on the otherwise pedestrian instrumental "Escape from the Storm") and creates interesting arrangements by overdubbing interlocking acoustic and electric guitar lines with a good use of wah-wah and Leslie colourings. Vocalist Harri Saksala is the least impressive part of Kalevala's sound, sounding a bit like a more guttural and Fennophonic version of Ian Anderson (the song lyrics were originally written in Finnish, but pressures of the market place necessitated a translation into English). A nice solid album of rough-edged and enthusiastic early prog, People No Names is not the classic of Finnish prog that its relative obscurity has made it out to be (an original LP copy will these days command a ridiculous price), but it is the strongest of Kalevala's three albums. Before Boogie Jungle (Hi-Hat HILP102) was released, Kalevala had found time to break up and reform with only Salonen and Kurkinen remaining from the previous line-up. The album itself is much more straight-forward an affair than the first one was: gritty 1970's hard rock with dual electric guitars riffing and soloing over alternatively solid and vaguely funky rhythm section. The new vocalist, "Limousine" Leppänen, has a stronger voice than his predecessor and in fact reminds of Family's Roger Chapman, albeit without the monster vibrato. One of the album's few keyboard moments is the clavinet played by Wigwam's Jukka Gustavson on one track, while his band mate Jim Pembroke provides the lyrics and backing vocals. However, there are only two tracks that stir any real interest: the ballad "If We Found the Time" has an intricate guitar arrangement with layers of acoustics and electric slide, while "Jungle" goes on a seven minute instrumental jam with throbbing bass, drums and spacey synth whistles over which Kurkinen spreads a smorgasbord of Jan Akkerman-influenced guitar work and finally concludes the song on a rather anthemic note. While Boogie Jungle has more curiousity value than anything else, you can get it as a bonus with People No Names, as both have been re-released on one CD; the first edition was by Finnlevy in 1990 (long out of print), the second by Escape Records a decade later. On the cover of Abraham's Blue Refrain (HILP126) the band were billed as Kalevala Orchestra, apparently in an attempt to appeal to wider international markets. It sports a more typically "progressive" cover artwork than the other two, but the music continues mainly along the same straight-forward lines of Boogie Jungle, only the compositions and production have improved, with very good layered guitar arrangements throughout (all played by Salonen, as Kurkinen had been killed in a tragic accident two years earlier). Vocalist Leppänen also sounds increasingly like Chapman here. Three progressive tracks make this an album worth hearing (the only three to feature keyboards, incidentally): Pembroke provides backing vocals and lush piano for the grand, Family-like title track, which is among Kalevala's finest songs, while both "Playground" and "Lighthouse" slip from their bluesy roots long enough to include prog-styled guitar melodies or, in the case of "Lighthouse", very tasty lead synth work. The band soldiered on for some time after this, touring France with Ange, but lack of domestic support eventually killed them off. Their swan-song album was eventually reissued on CD as part of Kalevala Anthology (Shroom SAP004/05). This 2-CD compilation, like its companion release, the very shabby and error-ridden Live in Finland & Europe 1970-77 (Shroom SPLE200105), also contains number of live recordings that give a slightly more balanced idea of Kalevala's live potential than the earlier snippets. The most interesting are the 1972 recordings, since they include a few unreleased, Finnish-language songs that didn't make it to People No Names, plus early versions of songs that did. The material was rougher live, with only flute and some piano to offer respite from the guitar assault. No lost classics are hidden here, though Saksala's folky agit-prop rocker "Antti" is amusing enough and would have improved the album. Kalevala Anthology concludes with five demo-quality songs Salonen and Leppänen recorded in 1995 with a new line-up (including Pekka Pohjola on bass). They had remained unreleased, because record companies felt that English material would have little potential in the domestic market of the 1990s (an ironic turnaround considering the fate of their first album). Ultimately, the record companies may have made the right choice for the wrong reasons: "The Song" is a nice powerballad in a pathetic sort of way and "Runaways", a hardrock song taken hilariously too fast and aggressively, but generally their mixture of hardrock, AOR, various ethnic influences and a bit of progressive sounds slightly out of time, its essence now better assimilated and exploited by newer bands like Five Fifteen. -- Kai Karmanheimo