2 de outubro de 2007

Fé, curiosidade teológica ou inquietação de pecador?

Respondendo a pergunta "Como um Deus amoroso e perfeito pode mandar gente pro inferno?" (que, volta e meia, aparece aí do lado nos anúncios Google) com outra pergunta. "Como você, em sua fé inabalável, pode duvidar disso?: Você pensa que Deus é burro (não sabe como fazer), fraco e irresoluto(não é capaz de realizar o que decide ou de decidir se realiza ), sádico (sua vontade é tirânica e cruel), provinciano (ignora onde fica o inferno), injusto (não tem senso de eqüidade para punir os maus e premiar os bons), efêmero (não alcançará as gerações vindouras), distraído (tá no mundo da lua), tem memòria curta (esquecerá desse detalhe), muito ocupado (não tem tempo para as picuinhas dos mortais), covarde ( não suportará a revolta dos condenados), burocrata (tem que carimbar e reconhecer a firma de toda a papelada do processo), preguiçoso (vai procrastinar a remessa de filhos-da-puta ao beleléu) , emergiu do Caos (não tá nem aí pra nada, deixando a Criação ao "diabo dará"), oportunista(fez uma aliança com o capeta para evitar a super-população do Paraíso) ou simplesmente INEFÁVEL? Reformulando a pergunta: "Como um diabo cheio de ódio e imperfeito pode torturar no fogo eterno aqueles que contrariaram Deus, seu arqui-inimigo? Sei lá, eu acho que o demo precisa ampliar seu exército infernal. Os pecadores terão o destino que merecem, e certamente vão gostar!

História de quinze séculos

UM RESUMOZINHO, DADO DE MÃO BEIJADA, DE TUDO QUE UM INDIVÍDUO MEDIANAMENTE CULTIVADO DEVERIA SABER DE HISTÓRIA MEDIEVAL, MODERNA E CONTEMPORÂNEA. ÓTIMO ROTEIRO DE ESTUDOS PARA VOCÊ, MEU JOVEM, QUE QUER INGRESSAR NUMA BOA UNIVERSIDADE..........................NOS UNITED STATES OU EUROPA SE VOCÊ AINDA TÁ NAQUELA BOSTINHA DE FACULDADE, AINDA HÁ TEMPO DE COMEÇAR A SE INSTRUIR DE VERDADE! Olavo de Carvalho Jornal da Tarde, 17 de junho de 2004 Desmantelado o Império, as igrejas disseminadas pelo território tornaram-se os sucedâneos da esfrangalhada administração romana. Na confusão geral, enquanto as formas de uma nova época mal se deixavam vislumbrar entre as névoas do provisório, os padres tornaram-se cartorários, ouvidores e alcaides. As sementes da futura aristocracia européia germinaram no campo de batalha, na luta contra o invasor bárbaro. Em cada vila e paróquia, os líderes comunitários que se destacaram no esforço de defesa foram premiados pelo povo com terras, animais e moedas, pela Igreja com títulos de nobreza e a unção legitimadora da sua autoridade. Tornaram-se grandes fazendeiros, e condes, e duques, e príncipes, e reis. A propriedade agrária não foi nunca o fundamento nem a origem, mas o fruto do seu poder. Poder militar. Poder de uma casta feroz e altiva, enriquecida pela espada e não pelo arado, ciosa de não se misturar às outras, de não se dedicar portanto nem ao cultivo da inteligência, bom somente para padres e mulheres, nem ao da terra, incumbência de servos e arrendatários, nem ao dos negócios, ocupação de burgueses e judeus. Durante mais de um milênio governou a Europa pela força das armas, apoiada no tripé da legitimação eclesiástica e cultural, da obediência popular traduzida em trabalho e impostos, do suporte financeiro obtido ou extorquido aos comerciantes e banqueiros nas horas de crise e guerra. Sua ascensão culmina e seu declínio começa com a fundação das monarquias absolutistas e o advento do Estado nacional. Culmina porque essas novas formações encarnam o poder da casta guerreira em estado puro, fonte de si mesmo por delegação direta de Deus, sem a intermediação do sacerdócio, reduzido à condição subalterna de cúmplice forçado e recalcitrante. Mas já é o começo do declínio, porque o monarca absoluto, vindo da aristocracia, dela se destaca e tem de buscar contra ela -- e contra a Igreja -- o apoio do Terceiro Estado, o qual com isso acaba por tornar-se força política independente, capaz de intimidar juntos o rei, o clero e a nobreza. Se o sistema medieval havia durado dez séculos, o absolutismo não durou mais de três. Menos ainda durará o reinado da burguesia liberal. Um século de liberdade econômica e política é suficiente para tornar alguns capitalistas tão formidavelmente ricos que eles já não querem submeter-se às veleidades do mercado que os enriqueceu. Querem controlá-lo, e os instrumentos para isso são três: o domínio do Estado, para a implantação das políticas estatistas necessárias à eternização do oligopólio; o estímulo aos movimentos socialistas e comunistas que invariavelmente favorecem o crescimento do poder estatal; e a arregimentação de um exército de intelectuais que preparem a opinião pública para dizer adeus às liberdades burguesas e entrar alegremente num mundo de repressão onipresente e obsediante (estendendo-se até aos últimos detalhe da vida privada e da linguagem cotidiana), apresentado como um paraíso adornado ao mesmo tempo com a abundância do capitalismo e a “justiça social” do comunismo. Nesse novo mundo, a liberdade econômica indispensável ao funcionamento do sistema é preservada na estrita medida necessária para que possa subsidiar a extinção da liberdade nos domínios político, social, moral, educacional, cultural e religioso. Com isso, os megacapitalistas mudam a base mesma do seu poder. Já não se apóiam na riqueza enquanto tal, mas no controle do processo político-social. Controle que, libertando-os da exposição aventurosa às flutuações do mercado, faz deles um poder dinástico durável, uma neo-aristocracia capaz de atravessar incólume as variações da fortuna e a sucessão das gerações, abrigada no castelo-forte do Estado e dos organismos internacionais. Já não são megacapitalistas: são metacapitalistas – a classe que transcendeu o capitalismo e o transformou no único socialismo que algum dia existiu ou existirá: o socialismo dos grão-senhores e dos engenheiros sociais a seu serviço. Essa nova aristocracia não nasce, como a anterior, do heroísmo militar premiado pelo povo e abençoado pela Igreja. Nasce da premeditação maquiavélica fundada no interesse próprio e, através de um clero postiço de intelectuais subsidiados, se abençoa a si mesma. Resta saber que tipo de sociedade essa aristocracia auto-inventada poderá criar – e quanto tempo uma estrutura tão obviamente baseada na mentira poderá durar.