Em uma carta de 2005 dirigida ao seu grotão, a Usp, Marilena Chauí procura responder aos “apelos” de seus alunos e camaradas ( que estão “surpresos” com seu silêncio diante das traquinagens petistas) para, sem o mínimo pudor, manifestar o desejo de um “espaço público das opiniões”, onde ela possa, livremente e sem qualquer tipo de incômodo ou objeção, impor os seus dogmas mais caros, entre os quais o já batido chavão de que a imprensa, no sistema capitalista, está irremediavelmente atrelada a interesses privados, que, segundo ela, são incompatíveis com o “direito à informação”. O texto, como de praxe, é um amontoado de asneiras emolduradas por aquele jeitão de se expressar típico de intelectual orgânico e do mainstream acadêmico. Nada se salva, exceto algumas “teses”, que, destacadas da sanha proselitista e do “esquema argumentativo”de quem as propõe, são perfeitamente inteligíveis, mas, também, reveladoras da má-fé de nossa especialista em Espinoza e do partido que ela defende com unhas e dentes. Cito as passagens em que se encontram essas teses (marcadas em negrito por mim) e depois faço os devidos comentários: (1)Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados. Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. (2)Além disso, a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião. Por isso mesmo, a forma da notícia tornou-se assustadora, pois indícios e suspeitas são apresentados como evidências, e, antes que haja provas, os suspeitos são julgados culpados e condenados. Esse procedimento fere dois princípios afirmados em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, quais sejam, (3)todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário e ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos. Ora, vocês conhecem o texto de Hegel [filósofo alemão, 1770-1831], na ‘Fenomenologia do Espírito’, sobre o Terror (em 1793), isto é, a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, morte efetuada sob a forma do espetáculo público. Essa perspectiva, como vocês também sabem, é também desenvolvida por Arendt [Hannah Arendt, filósofa alemã, naturalizada norte-americana, 1906-1975] e Lefort [Claude Lefort, filósofo francês] a respeito dos totalitarismos e seus tribunais, e para isso ambos enfatizam, na Declaração de 1789, o princípio referente à não criminalização das idéias, assinalando que (4)nos regimes totalitários a opinião dissidente é tratada como crime. Pela tese 1, Marilena Chauí propõe que, para se emitir uma opinião verdadeira e imparcial sobre os fatos, inclusive sobre as ações de quem nos governa, neste caso o partido que ela ajudou a criar, os meios de comunicação devem necessariamente estar nas mãos do Estado. Ora, de há muito este já cedeu o lugar para o PT, ao qual tanto o Judiciário quanto o Legislativo estão docilmente curvados. Logo, o que a nossa Hebe Camargo da filosofia pretende é que os meios de comunicação sejam de propriedade exclusiva do PT e que apenas a este, como único e legítimo portador da moralidade pública, é permitido julgar a si mesmo. Colocando-se num patamar acima da própria razão humana universal, à qual, segundo Kant, necessariamente se impõe a tarefa crítica de submeter a uma prévia avaliação (cujo resultado, todos sabem, é a demonstração de limites intransponíveis) sua própria capacidade cognitiva, porque ela, em si mesma e independentemente de qualquer conteúdo (como razão pura), encerra uma propensão que a leva irresistivelmentede a se pôr questões que, em virtude do pressuposto semântico sob o qual são formuladas, não podem ser respondidas a partir de princípios tirados da experiência, o PT está a priori imune à crítica externa e dogmaticamente na posse de todo conhecimento objetivo, possível e imaginável, acerca dos rumos que o Brasil deve tomar. Primeiro porque, não podendo, em princípio, ser “condenado” (leia-se “contestado”) por suas idéias, o único juízo que se pode proferir, mesmo que os fatos mostrem o contrário, é o de que se trata de um partido “ideologicamente perfeito”, para o qual, portanto, qualquer opinião desfavorável é uma calúnia ou, para fazermos jus a tão impiedosa soberba, uma heresia contra sua “pureza”. Segundo porque, sendo o PT, em sua “verdadeira essência”, movido virtuosamente por interesses em si bons e justos, seus atos, quanto mais torpes e anti-democráticos forem, se constituem, na melhor das hipóteses *, uma fantasmagoria maliciosamente forjada pelos inimigos do povo e, portanto, uma prova inequívoca da maquiavélica conspiração da mídia golpista e da elite reacionária. Ainda de acordo com a tese 1, Marilena Chauí pensa que os “interesses de mercado” ou simplesmente os interesses que não sejam os dela e do partido para o qual trabalha incansavelmente, não têm direito algum de se imiscuir na “esfera pública das opiniões”, isto é, nas opiniões que ela, o PT e seus estafetas dão a todo momento sobre como a imprensa deve se comportar perante o governo. Ela quer, pois, que “o campo de interesses privados”, isto é, dos cidadãos, esteja bovinamente restrito ao “campo público de direitos”, isto é, que os fins ( bons ou maus, não importa) a que o indivíduo livremente se propõe se moldem segundo os caprichos de Marilena Chauí ou então sejam, como meios, instrumentalizados pela vontade totalitária do PT. A tese 2 é tão tosca e ridícula, que basta um rápido exame para se ver o quão insana é esta mulher. A imprensa, quando fala o que o governo não quer ouvir, opina, mas ela, Marilena Chauí, quando defende o indefensável, apenas estabelece as “condições teóricas” do debate público civilizado. A imprensa é sempre refém da doxa, mas Marilena Chauí e os intelectuais petistas são os depositários da episteme. Pois é justamente o contrário. A opinião da imprensa, por menos leviana que seja, é sempre opinião e, como tal, algo problemático que, num ambiente em que prevaleça o livre debate de idéias, obriga o simples bom senso,que toda pessoa normal possui(e isso exclui, infelizmente, Marilena Chauí), a conjecturas e à reflexão, ao passo que as opiniões petistas, estapafúrdias como via de regra são, recebem a unção dos ideólogos da revolução(praticamente, todo staff acadêmico)e se transformam, aos olhos de boa parte da grande mídia, em dogmas inquestionáveis. Quanto a tese 3, a primeira parte é o enunciado jurídico da presunção de inocência, do qual o mensalão fala por si mesmo. Da segunda parte, só pergunto o seguinte: E quando as idéias se convertem em atos ou induzem a atos? Por fim, a tese 4 afirma o que todo mundo sabe, sobretudo quem conhece Marilena Chauí e os horrores vendidos na rede de lojas de sua pequena e desinteressada ideologia teratológica: que em regimes totalitários ninguém pode ter, por mais inócua que seja, uma opinião contrária ao “interesse” de quem detém, de fato, o poder. ------------------------------------------------------------------------ *Na pior (plano B), os próprios atos ou são atribuídos ao “Outro” ou à fraqueza ideológica de alguns membros do partido (conspurcados pelo contato com a podridão das instituições políticas “deste país”) ou então, miraculosamente, são de per se sujeitos, que dispensam um agente
8 comentários:
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