13 de setembro de 2007

O SILÊNCIO DOS INTERESSES DO PT E OS INTERESSES DO SILÊNCIO DE CHAUÍ

Em uma carta de 2005 dirigida ao seu grotão, a Usp, Marilena Chauí procura responder aos “apelos” de seus alunos e camaradas ( que estão “surpresos” com seu silêncio diante das traquinagens petistas) para, sem o mínimo pudor, manifestar o desejo de um “espaço público das opiniões”, onde ela possa, livremente e sem qualquer tipo de incômodo ou objeção, impor os seus dogmas mais caros, entre os quais o já batido chavão de que a imprensa, no sistema capitalista, está irremediavelmente atrelada a interesses privados, que, segundo ela, são incompatíveis com o “direito à informação”. O texto, como de praxe, é um amontoado de asneiras emolduradas por aquele jeitão de se expressar típico de intelectual orgânico e do mainstream acadêmico. Nada se salva, exceto algumas “teses”, que, destacadas da sanha proselitista e do “esquema argumentativo”de quem as propõe, são perfeitamente inteligíveis, mas, também, reveladoras da má-fé de nossa especialista em Espinoza e do partido que ela defende com unhas e dentes. Cito as passagens em que se encontram essas teses (marcadas em negrito por mim) e depois faço os devidos comentários: (1)Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados. Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. (2)Além disso, a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião. Por isso mesmo, a forma da notícia tornou-se assustadora, pois indícios e suspeitas são apresentados como evidências, e, antes que haja provas, os suspeitos são julgados culpados e condenados. Esse procedimento fere dois princípios afirmados em 1789, na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, quais sejam, (3)todo cidadão é considerado inocente até prova em contrário e ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos. Ora, vocês conhecem o texto de Hegel [filósofo alemão, 1770-1831], na ‘Fenomenologia do Espírito’, sobre o Terror (em 1793), isto é, a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, morte efetuada sob a forma do espetáculo público. Essa perspectiva, como vocês também sabem, é também desenvolvida por Arendt [Hannah Arendt, filósofa alemã, naturalizada norte-americana, 1906-1975] e Lefort [Claude Lefort, filósofo francês] a respeito dos totalitarismos e seus tribunais, e para isso ambos enfatizam, na Declaração de 1789, o princípio referente à não criminalização das idéias, assinalando que (4)nos regimes totalitários a opinião dissidente é tratada como crime. Pela tese 1, Marilena Chauí propõe que, para se emitir uma opinião verdadeira e imparcial sobre os fatos, inclusive sobre as ações de quem nos governa, neste caso o partido que ela ajudou a criar, os meios de comunicação devem necessariamente estar nas mãos do Estado. Ora, de há muito este já cedeu o lugar para o PT, ao qual tanto o Judiciário quanto o Legislativo estão docilmente curvados. Logo, o que a nossa Hebe Camargo da filosofia pretende é que os meios de comunicação sejam de propriedade exclusiva do PT e que apenas a este, como único e legítimo portador da moralidade pública, é permitido julgar a si mesmo. Colocando-se num patamar acima da própria razão humana universal, à qual, segundo Kant, necessariamente se impõe a tarefa crítica de submeter a uma prévia avaliação (cujo resultado, todos sabem, é a demonstração de limites intransponíveis) sua própria capacidade cognitiva, porque ela, em si mesma e independentemente de qualquer conteúdo (como razão pura), encerra uma propensão que a leva irresistivelmentede a se pôr questões que, em virtude do pressuposto semântico sob o qual são formuladas, não podem ser respondidas a partir de princípios tirados da experiência, o PT está a priori imune à crítica externa e dogmaticamente na posse de todo conhecimento objetivo, possível e imaginável, acerca dos rumos que o Brasil deve tomar. Primeiro porque, não podendo, em princípio, ser “condenado” (leia-se “contestado”) por suas idéias, o único juízo que se pode proferir, mesmo que os fatos mostrem o contrário, é o de que se trata de um partido “ideologicamente perfeito”, para o qual, portanto, qualquer opinião desfavorável é uma calúnia ou, para fazermos jus a tão impiedosa soberba, uma heresia contra sua “pureza”. Segundo porque, sendo o PT, em sua “verdadeira essência”, movido virtuosamente por interesses em si bons e justos, seus atos, quanto mais torpes e anti-democráticos forem, se constituem, na melhor das hipóteses *, uma fantasmagoria maliciosamente forjada pelos inimigos do povo e, portanto, uma prova inequívoca da maquiavélica conspiração da mídia golpista e da elite reacionária. Ainda de acordo com a tese 1, Marilena Chauí pensa que os “interesses de mercado” ou simplesmente os interesses que não sejam os dela e do partido para o qual trabalha incansavelmente, não têm direito algum de se imiscuir na “esfera pública das opiniões”, isto é, nas opiniões que ela, o PT e seus estafetas dão a todo momento sobre como a imprensa deve se comportar perante o governo. Ela quer, pois, que “o campo de interesses privados”, isto é, dos cidadãos, esteja bovinamente restrito ao “campo público de direitos”, isto é, que os fins ( bons ou maus, não importa) a que o indivíduo livremente se propõe se moldem segundo os caprichos de Marilena Chauí ou então sejam, como meios, instrumentalizados pela vontade totalitária do PT. A tese 2 é tão tosca e ridícula, que basta um rápido exame para se ver o quão insana é esta mulher. A imprensa, quando fala o que o governo não quer ouvir, opina, mas ela, Marilena Chauí, quando defende o indefensável, apenas estabelece as “condições teóricas” do debate público civilizado. A imprensa é sempre refém da doxa, mas Marilena Chauí e os intelectuais petistas são os depositários da episteme. Pois é justamente o contrário. A opinião da imprensa, por menos leviana que seja, é sempre opinião e, como tal, algo problemático que, num ambiente em que prevaleça o livre debate de idéias, obriga o simples bom senso,que toda pessoa normal possui(e isso exclui, infelizmente, Marilena Chauí), a conjecturas e à reflexão, ao passo que as opiniões petistas, estapafúrdias como via de regra são, recebem a unção dos ideólogos da revolução(praticamente, todo staff acadêmico)e se transformam, aos olhos de boa parte da grande mídia, em dogmas inquestionáveis. Quanto a tese 3, a primeira parte é o enunciado jurídico da presunção de inocência, do qual o mensalão fala por si mesmo. Da segunda parte, só pergunto o seguinte: E quando as idéias se convertem em atos ou induzem a atos? Por fim, a tese 4 afirma o que todo mundo sabe, sobretudo quem conhece Marilena Chauí e os horrores vendidos na rede de lojas de sua pequena e desinteressada ideologia teratológica: que em regimes totalitários ninguém pode ter, por mais inócua que seja, uma opinião contrária ao “interesse” de quem detém, de fato, o poder. ------------------------------------------------------------------------ *Na pior (plano B), os próprios atos ou são atribuídos ao “Outro” ou à fraqueza ideológica de alguns membros do partido (conspurcados pelo contato com a podridão das instituições políticas “deste país”) ou então, miraculosamente, são de per se sujeitos, que dispensam um agente

A revolussão curtural do menistro Intelék Thualy Haddad a nivel de velstibulá

MAIZ UMA VEIS FUE LEVADU À COLAR NO BLOB DO ASEVEDO. NÃO PUDERIA, E CRALO, DEICHAR DE POSTAR AQUI ESTÁ DIKA PARA VOSSÊ, MEINE FRENDY VELSTIBULANDO,QUE PENSSA EM INGREÇAR NUMAS PRISTIJIADA UNIVELCIDADE FEDERAU. CONSIGUI ESTRAIR UMA REGLA GERAU PARA TU SI DÁ BEM: ANTEZ DA PROVIA, MANDI BRONCA NA CELVEJA, FUMI UNS BAZEADOS E COMA O DRAGAUM DA SUA VISINHA QUE SEMPRE LHI DEU BOLA. É BATATIA! MAIZ SI NÃO FOR APROVADU, NAUM SI DEZESPERE, POIZ VOSSÊ SI MOSTROL SOÇIALMENTE REZPONSÁVEU. E SI COM ISSO A BARANGA FIKAR APAICHONADA E PENSSAR QUE VOSSÊ VAI NAMORAR CUM ELA, APRUVEITIA E SI MATRICULI-SE NO INZTITUTO UNIWERSAL BRASILHEIRO E FASSA UM KURSO PUR CO-RESPONDÊNSIA Reinaldo Azevedo "Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem" Robert Musil em O Homem sem Qualidades Quarta-feira, Março 21, 2007 Uma prova da Universidade Federal de Pernambuco e a revolução cultural do ministro Haddad Vocês sabem que não é apenas o PIB que passa por uma revolução sob o governo do Apedeuta. Também a educação. Uma nova aurora se anuncia. Ao lançar outro dia um pacote para o setoro, Lula disse que taí uma área com a qual não se pode brincar. Ou o resultado é analfabetismo na certa. Corajoso! A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem um programa chamado “Ingresso Extravestibular”. Liguei pra lá. Informam-me que é destinado — a moça não sabia direito, mas é mais ou menos isto — a quem já tenha um curso de graduação e queira fazer outro. Ou quase isso. Ficaram de me enviar um e-mail explicando, mas acho que esqueceram. O que importa é que o estudante ingressa na graduação fazendo uma outra prova, que não o vestibular tradicional. Segundo entendi, é um teste feito pela própria universidade. Abaixo, reproduzo algumas questões da prova aplicada para o ingresso no curso de filosofia. Você pode ter acesso a todas elas clicando aqui. O conjunto da obra mereceria um tratado. Antes que o candidato comece a responder as 25 questões, há 11 instruções/informações. Entre elas, temos a de nº 4: “Todas as questões desta prova são de múltipla escolha, apresentando como resposta uma alternativa correta.” Fiquei mais tranqüilo. Começarei pela mais interessante: a de nº 23 (colo o texto como está no site da universidade, incluindo a falta de apreço dos valentes pelas maiúsculas). Reparem: 23. Relacione estas obras aos seus autores: A metamorfose / Auto da compadecida / O conceito de angústia / Grande Sertão Veredas / Verdade e Método: A) Freud / Gilberto Freire / Sartre / Graciliano Ramos / Heidegger. B) Kafka / Ariano Suassuna / Sartre / Graciliano Ramos, Descartes. C) Paulo Coelho / Fernanda Montenegro / Heidegger / Gilberto Freire / Descartes. D) Freud / Ariano Suassuna / Heidegger / Graciliano Ramos / Gadamer. E) Kafka / Ariano Suassuna / Kierkegaard / Graciliano Ramos / Gadamer. Huuummm. Vamos lá, leitor amigo. A Metamorfose é de Kafka. Oba! Vou acertar. Fiquei entre as alternativas B e E. Auto da Compadecida é do “pernambucano” nascido na Paraíba Ariano Suassuana. Xi, ainda a dúvida: B ou E?. O Conceito de Angústia? E agora? Heidegger ou Kierkegaard? (é deste útimo, amigo) “Ah, se tivesse o Google aqui...”, pensava o aluno triste. Mas ele não é bobo. Deixa isso de lado e vai para a obra seguinte: Grande Sertão Veredas. Pô, isso ele lembra. É do Guimarães Rosa, certo? Certíssimo. Mas cadê o Guimarães Rosa nas alternativas? Meu Deus! Segundo a Universidade Federal de Pernambuco, o autor da obra só pode ser GRACILIANO RAMOS!!! Perguntei para a moça que me atendeu, na Assessoria de Comunicação da UFPE, se havia alguma errata sobre a prova. Ela não tinha informação. Como Graciliano entrou no rolo? Ele não escreveu O Conceito de Angústia, mas Angústia. Uma confusão na hora de o examinador fazer pesquisa do Google. Vocês sabem: O Google é analfabeto. Quem não pode ser é o pesquisador. Estupefatos? Vocês se chocam com pouco. Ainda não viram nada. Antes da questão 23, há a 22!!! 22. Aponte os exemplos de homens éticos com visão filosófica engajada (para além da hipocrisia): A) Bush, Olavo de Carvalho, Editora Abril, Inocêncio de Oliveira e Roberto Marinho. B) Dalai Lama, Gandhi, Marina da Silva, Frei Beto e Dom Helder. C) FHC, Marco Maciel, ACM, Ratinho e Reginaldo Rossi. D) Leonardo Boff, Irmã Dulce, Ariano Suassuna, Betinho e Zilda Arns. E) Dalai Lama, Gandhi, ACM, Frei Beto e Leonardo Boff, Viram no que gastam o seu dinheiro, leitor amigo? Não sei se entendem. Na questão acima, é preciso falar de ética “além da hipocrisia”, e isso significa que estão fora, claro, Bush, Olavo de Carvalho, Editora Abriil, Inocêncio de Oliveira, Roberto Marinho, FHC, Marco Maciel, ACM, Ratinho e Reginaldo Rossi. Repararam? Todas essas pessoas (e até a Abril, que pessoa não é) devem ser colocadas num mesmo saco de gatos se você quer cursar filosofia na Universidade Federal de Pernambuco. Só resta mesmo, no teste ideológico, as alternativas B e D. Acredito que a resposta certa seja a B. São exemplos de homens éticos “Dalai Lama, Gandhi, Marina da Silva, Frei Beto e Dom Helder.” Por que não a D? Talvez porque Ariano seja escritor e dramaturgo, e artista não costuma ser muito ético no Brasil... Ou será porque irmã Dulce era amiga de ACM? Estou tão confuso! Mas a escolinha do professor Fernando Haddad ( ministro que está liderando a revolução cultural) não pára por aí. Ah, não. No besteirol abaixo, peço que atentem, de saída, para o rigor com que se emprega a língua portuguesa, inculta, sim, mas jamais bela: 24. Peter Singer diante do Cristianismo, da Ecologia profunda e da Ética ambiental: A) esqueceu completamente a natureza, e atualmente continua a mesma situação. Ela não é profunda nem sincera, pois apela para o totalitarismo. A ética ambiental é urgente. B) estimulou o afastamento do homem com a natureza mas pode ajudar na atualidade. Ela é profunda e romântica, mas pode cair na visão genérica do Todo antes do singular. A ética ambiental é urgente. C) evitou a violência e pode ajudar na ecologia. Ela é romântica mas não é profunda, tem problemas políticos. A ética ambiental deve ser utilitarista e imediata. D) teve apenas uma teologia da salvação e não da criação. Ela é traduzida como amor biocêntrico à natureza. A ética ambiental deve ser antropocêntrica. E) estimulou o conflito do homem com a natureza mas pode empactar na atualidade. Ela é profunda e pictórica, mas pode resurgir na visão genérica do Todo antes do plural. A ética ambiental é passageira. O que mais me encanta? Os verbos “empactar” — tudo aquilo que, suponho, provoca EMPACTO, e “resurgir”, que, sugiro, passe a ser grafado na UFPE com “ç”: “reçurgir”, para evitar que o desavisado atribua àquele “s” único intervocálico o som de “z”. No que concerne à sintaxe, à organização da frase propriamente, e à clareza, vejam a alternativa A: “Esqueceu completamente a natureza, e atualmente continua a mesma situação. Ela não é profunda nem sincera, pois apela para o totalitarismo. A ética ambiental é urgente.” Ai, Jesus! Quem ou quê “continua atualmente a mesma coisa”? “Ela” quem??? Não é profunda nem sincera? O QUE ISSO TUDO QUER DIZER??? Não é uma piada. O que vai acima está no site da Universidade Federal de Pernambuco. Uma revolução cultural está em curso no país. Já dei uma palestra na UFPE uma vez. Ali encontrei alguns dos estudantes mais preparados do Brasil. E eles não se envergonham menos com isso tudo do que me envergonho eu, brasileiro que sou, como os pernambucanos. A questão é nacional, não regional. Nisto torram o seu dinheiro: ignorância, proselitismo ideológico, vulgaridade. Quando fui fazer a tal palestra, um grupo de estudantes do PT e do PC do B fez panfletagem no campus conclamando os alunos a não comparecer ao evento. Eu era caracterizado no panfleto como um reacionário, perigoso direitista e, mais engraçado, “contra o ensino universitário público, gratuito e de qualidade”. Até brinquei com os presentes: “Sacanagem comigo! Sou contra o ensino universitário gratuito, sim. Público, embora não precise, ele até pode ser. Mas juro que nada tenho contra a qualidade”. Por Reinaldo Azevedo | 18:22

Exegéticas das apologéticas II

Padre e professor universitário --Somo-me à solidariedade ao prof. João Quartim de Moraes em face do desrespeito invejoso sofrido por parte dos direitistas e fascistas. Estes se escondem sob as sombras do anonimato, procurando ocultar seu medo e ódio do avanço do povo, que só os verdadeiros democratas sabem acolher e protagonizar. Digo ao colega e companheiro João. Q. de Moraes: não te deixes abater, camarada! Segue em frente servindo a inteligência e a cultura do nosso povo. Ninguém atira pedras em árvore sem frutas. Abraços e viva a revolução! Orvandil Moreira Barbosa. COMENTÁRIO: Como se vê, o texto é nada hermético, expressa tudo o que o autor, sob o peseudônimo de Orvandil, sente pelo repugnante e abominável Olavo de Carvalho e o que ele chama de direitista e fascista, isto é, tudo que está fora dos limites de sua chácara ideológica e do seu galinheiro mental. Todos os elementos constitutivos da esquerdopatia estão aqui resumidos magistralmente: o perfeito idiota latino americano é padre avesso à tradição católica, professor universitário provavelmente doutrinador, camarada de camarada, toma como blasfêmia e insulto qualquer crítica ao modo de pensar e agir de esquerdista, fala em nome do povo, se diz democrata par excellance, pensa que está na vanguarda da cultura e investido de um conhecimento inacessível aos não iniciados na seita, mas, gnosticamente, haurido de uma tradição secreta, crê piamente que é um santo consagrado à tarefa de redimir o mundo, não hesita em bradar uma palavra de ordem e empregar uma máxima de exaltação moral para elevar o ânimo do comanheiro cuja "honra" foi "corvardemente" atacada. Que conclusões tirar disso? Meu caro Orvandil, não se precisa jogar pedras na sua "arvore", pois os frutos dela já se encontram no chão apodrecendo, até porque é difícil, senão impossível, arrancar uma jaca mole a pedradas, e isto se ela, na verdade, não for um daqueles arbustos retorcidos do cerrado. Seu único remédio é a serra-elétrica. Nota: Na passagem em itálico, o autor quer dizer "desrespeito invejoso praticado por todos os direitistas e fascistas contra Quartim" e não "praticado por parte deles" ou "sofrido por eles ou parte deles"

DOGMÁTICA SEM ZETÉTICA OU DA ARTE DE RE-DESCOBRIR A RODA

Tá um pouco atrasado, é verdade, mas descobri esta pérola hoje por acaso. Como é o negócio mesmo? Quer dizer que nossos historiadores e sociólogos, uma boa parte dos quais partícipe das ações terroristas contra a ditadura militar, descobriram, depois de longa e árdua investigação, que "a resistência democrática" queria mesmo era implantar aqui uma ditadura do proletariado e não reestabelecer o estado democrático de direito, que, se o golpe militar não ocorresse ou as guerrilhas não fossem contidas, cabeças rolariam, que a sanha revolucionária e a luta armada já faziam parte das "reformas de base" de João Goulart, que se os militares não tivessem tomado essa medida drástica, nós estaríamos vivendo hoje com uma ração diária de soma, enfim, que as intenções da esquerda não eram nada do que alardiavam, pois consideram a democracia e o direito conceitos burgueses que devem ser abolidos,tanto do ponto de vista teórico quanto prático? Esperemos, então, até dezembro para ver o que foi realmente"desaparecido", já que, segundo decreto de Lula, os "documentos do governo federal produzidos durante a Ditadura Militar e mantidos em sigilo pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), serão colocados à disposição pública no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro." Só temo os procedimentos e critérios que serão adotados pelos "dois grupos técnicos formados por profissionais da Abin e do Arquivo Nacional para organizar e classificar as informações produzidas durante a ditadura pela Comissão Geral de Investigações (CGI); pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN) e pelo Serviço Nacional de Informação (SNI), órgãos da administração federal que já foram extintos". A pantomima esquerdista já está sendo ensaiada para manter à salvo a canonização de nossos destemidos amantes da democracia, mártires da Igreja de Heilig Marx: Documentos considerados "utrasecretos", que possam trazer risco para a sociedade e para o Estado, e aqueles que causem danos à imagem de pessoas, continuarão sob sigilo. A lei que regula a política nacional de arquivos públicos e privados (8.159/1991) estabelece que esses documentos "são originariamente sigilosos". Ciência social no Brasil é isto: o sujeito já sabe, desde o projeto de pesquisa, o que procura. A conclusão da investigação não fecha com um "heureka', mas com um "como expor de uma maneira ideologicamente eficaz a "boa nova". Hipóteses contrárias já estão in limine descartadas em favor da "hipótese de trabalho", a qual não sucumbe a qualquer contrafação pelos fatos nem se submete a qualquer exigência lógico-semântica. Na verdade, a tese, "os resultados da pesquisa" já estão analiticamente contidos na "fundamentação teórica". Não há problema teórico cuja solução se busca, mas uma "realidade social" que é interpretada criticamente, isto é, acomodada ao quadro mental do pesquisador. Não é de se admirar, pois, o fato de que se se aventa uma hipótese contrária a explicação oficial do fenômeno estudado, o debate teórico transforma-se em "bate-boca" Isto explica a repulsa intestinal que eu tinha por história e geografia na época do segundo grau. Já percebera cedo que o que tá num compêndio dessas disciplinas é, em princípio, inquestionável, irrefutável como uma proposição metafísica, com a diferença de que as doutrinas que vc. aí encontra nada esclarecem e tudo confundem. Mas a ciência social brasileira, ao menos, corroborou uma certeza: eu não tinha mesmo que consultar o manual a cada vez que fosse acionar o play do videocassete! Maldita hora que abandonei a idéia de estudar no Cotuca por ficar encantado com livros de filosofia. 31/3/2004............ Assessoria de Comunicação e Imprensa - UNICAMP 64‘FALAVA-SE EM CORTAR CABEÇAS; ESSAS PALAVRAS NÃO ERAM METÁFORAS’, DIZ PESQUISADOR (O Globo - O País - 31/3/2004) 29/03/2004 Resistência democrática, dogma que desaba Estudiosos da ditadura, entre eles um ex-guerrilheiro, atacam crença de que esquerda armada lutava por democracia Um dogma precioso aos adversários da ditadura militar iniciada a 31 de março de 1964 está em xeque. Novos estudos realizados por especialistas no período — alguns deles integrantes dos grupos de oposição ao regime autoritário — propõem uma mudança explosiva, que semeia fúria nos defensores de outras correntes: chamar de resistência democrática a luta da esquerda armada na fase mais dura do regime está errado, historicamente falando. — Falava-se em cortar cabeças, essas palavras não eram metáforas. Se as esquerdas tomassem o poder, haveria, provavelmente, a resistência das direitas e poderia acontecer um confronto de grandes proporções no Brasil — atesta Daniel Aarão Reis, professor de História da UFF e ex-guerrilheiro do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). — Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no coroamento deles: fuzilamento e cabeças cortadas. “Ninguém estava pensando em reempossar João Goulart” Denise Rollemberg, mestre em história social da UFF, destaca que o objetivo da esquerda era a ditadura do proletariado e que a democracia era considerada um conceito burguês. — Não se resistiu pela democracia, pela retomada do status quo pré-golpe. Ninguém estava pensando em reconstituir sistema partidário ou reempossar João Goulart no cargo de presidente — diz Denise. A professora explica — e Aarão Reis concorda — que a expressão sequer surgiu no fim dos anos 60, início das batalhas entre militares e terroristas. A “resistência democrática” apareceu na campanha pela redemocratização do início da década de 80, após a anistia que permitiu a volta de exilados como Leonel Brizola, Miguel Arraes e Fernando Gabeira e criou uma clima de conciliação nacional. — A descoberta da democracia pela esquerda se dá apenas no exílio, com a leitura de filósofos e pensadores como o italiano Antonio Gramsci e o entendimento correto das manifestações de maio de 1968 em Paris. Acabou virando tudo uma coisa só — diz ela. A revisão de uma idéia cara à esquerda transformou-se em bate-boca no seminário “40 anos do golpe: 1964-2004”, realizado semana passada no Rio. Professor de filosofia da Unicamp, João Quartim defende que a luta era contra o golpe, pela restauração da democracia. Também ex-integrante de uma organização armada, a Vanguarda Popular Revolucionária, Quartim rejeita o rótulo de antidemocrático. — Lutávamos contra o golpe imposto pela violência ao país. O conteúdo do nosso projeto era levar adiante, com mais audácia, as reformas de base do governo Jango. Quem deu o golpe é que quebrou, pela violência, esse processo. O golpe foi dado pela direita, com o apoio da frota americana que chegou a começar o deslocamento para cá — argumenta Quartim. O período que está na berlinda tem o rótulo de “guerra suja” e aconteceu de 1968 a 1974 — ainda que as paixões indiquem que foi ontem. O mergulho nas ações armadas deu-se a partir de uma dissidência que produziu vários grupos de esquerda, depois massacrados por uma indústria de torturar e matar montada pelo governo dentro das Forças Armadas. Outro participante da luta, o professor de História da UFRJ Renato Lemos, acha que é responsabilidade ética, social, política e histórica da esquerda assumir suas idéias e ações durante a ditadura. — Cada vez mais se procura despolitizar a opção de luta armada numa tentativa de autocrítica por não termos sido democratas. Nossa atitude foi tão válida quanto qualquer outra. Havia outros caminhos, sim. Poderíamos tentar lutar dentro do MDB, mas achávamos que a democracia já tinha dado o que tinha que dar — confirma Lemos. Professora da USP, Maria Aparecida de Aquino pondera que nada é assim tão simples. Para ela, não se pode afirmar que caminho tomaria o Brasil se a luta armada tivesse prosperado. — Era resistência, mas não sabemos se seria democrática porque a esquerda não chegou ao poder — sustenta ela. — Não havia como pensar no restabelecimento do estado de direito sem tirar militares do poder. Quem interrompeu a democracia foram os militares. Aarão Reis discorda. — As esquerdas radicais se lançaram na luta contra a ditadura, não porque a gente queria uma democracia, mas para instaurar o socialismo no país por meio de uma ditadura revolucionária, como existia na China e em Cuba. Mas, evidentemente, elas falavam em resistência, palavra muito mais simpática, mobilizadora, aglutinadora. Isso é um ensinamento que vem dos clássicos sobre a guerra. Disputa entre duas elites a que o povo assistia de fora Professor de sociologia da Unicamp, Marcelo Ridenti argumenta que o termo “resistência” só pode ser usado se for descolado do adjetivo “democrática”. — Houve grupos que planejaram a ação armada ainda antes do golpe de 1964, caso do pessoal ligado ao Francisco Julião, das Ligas Camponesas. Depois de 1964, buscava-se não só derrubar a ditadura, mas também caminhar decisivamente rumo ao socialismo. Professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, autor do aclamado “Como eles agiam”, sobre o funcionamento do regime, Carlos Fico chama de ficção a idéia de resistência democrática. Ele também ataca a crença de que a luta armada foi uma escolha motivada pela imposição do AI-5. — A opção de pegar em armas é anterior ao ato institucional. Alguns grupos de esquerda defenderam a radicalização antes de 1968 — garante ele. O professor da UFRJ defende que os confrontos armados eram uma disputa sangrenta entre duas elites — o povo ficava de fora, assistindo aos sobressaltos. www.oglobo.com.br/pais Jornal: O GLOBO Autor: Editoria: O País Tamanho: 935 palavras Edição: 1 Página: 8 Coluna: Seção: