Eu contiuno achando o cara um picareta, mas isso não vem ao caso. Já decidi: o supremo princípio da safadeza intelectual no Brasil é mesmo a Chauienstein. Pomba Ghira está, ao menos temporariamente, redimido aos meus olhos. Tanto é, que recomendo aos escassos leitores deste blog que dêem uma olhada atenta no artigo "A verdade de Chauí é a verdade do PT", que se encontra em seu website. Pois estou absolutamente convencido de que um e outro são farinha do mesmo saco, embora não deixe de reconhecer que "o filósofo de São Paulo", no artigo supra-citado, tenha dado uma baita lição de moral em Chauí (se bem que isso qualquer garota do baixo-meretrício pode fazer).
Como reprimenda à incontinência esquerdopata de Chauí, o texto de Ghiraldelli está simplesmente sublime. Endosso as suas sábias palavras, dignas de um espião da KGB. Sem elas, nunca desvendaríamos tão bem guardado segredo:
"O compromisso de Marilena Chauí com a chamada verdade é o seu compromisso com a chamada verdade do PT. Ela perdeu a autonomia como filósofa, pois acredita em uma mágica, a saber, que a filosofia poderia continuar existindo em uma situação em que a imprensa viesse a ver o que viu, em Congonhas, e ficar quieta. Não, a filosofia perderia muito sem democracia".
Porém, o preço da traíção entre os vermelhos é a contradição seguida de hipocrisia:
"Não, filósofos de esquerda que são filósofos democratas, não podem mais defender isso. (...)Há a possibilidade de amar a filosofia, ser de esquerda e, ao mesmo tempo, ser suficientemente democrata para ver com bons olhos a liberdade de imprensa – a completa liberdade de imprensa, sem quaisquer restrições"
Hummm.....Por que será que Chauí "perdeu a autonomia como filósofa"?
Ser de esquerda não é, em alguma medida, sustentar que a vida espiritual é um epifenômeno da infra-estrutura econômica e que o mundo da cultura é o domínio das ideologias,que mascaram os conflitos de classe? Ser de esquerda também não é se comprometer, prática e teoricamente, com a revolução proletária e a transformação da sociedade? Como é possível, então, o amante da verdade e da vida contemplativa conservar a sua dignidade intelectual pensando e agindo dessa forma? Se Ghira consegue tal façanha, então vou começar a acreditar que a melhor maneira de se manter a castidade e não sucumbir às tentações mundanas é tornar-se cafetão e administrar a promiscuidade.
Mas tudo bem, prefiro um esquerdista moderado que afeta um desejo profundo de sabedoria a uma filósofa medíocre que insiste no radicalismo político.
15 de setembro de 2007
A dePRAVDAção de Marilena Chauí
Segundo Marilena Chauí, “o príncipe eletrônico” exerce sua tirania julgando e condenando “meros suspeitos” ao veicular, em favor dos interesses do capital, a “opinião tendenciosa e infundada” de que o PT montou um esquema de recrutamento sistemático de parlamentares ou de que o governo é o responsável direto pelo caos no setor aéreo, pois, com o “imoral” propósito de usurpar as funções do Judiciário e do Legislativo bem como de moldar a consciência do cidadão a sua imagem e semelhança, "a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião". Isso significa que a tarefa dos meios de comunicação, segundo Chauí, é calar-se, condenando-se à auto-censura, porque, para ter legítimo “acesso à esfera pública”, as opiniões, em sua forma e conteúdo, tem que obter a chancela da democracia, vale dizer, a autorização dela e da quadrilha do Planalto. Digam-me: como é possível noticiar alguma coisa sem se ter qualquer opinião a respeito? No mínimo, o jornalista tem a opinião de que algo é digno de ser noticiado ou, então, de que ele é, moral e intelecutalmente, capaz de relatar os fatos com o máximo de fidelidade possível (se essa opinião é verdadeira ou falsa são outros quinhentos), o que é, no fim das contas, o exercício mesmo do direito de expressão, liberdade que, segundo Marilena Chauí, se constitui num "privilegio" dos interesses privados e das grandes empresas de comunicação de massa. O que ela quer dizer mesmo, no seu jargão empolado, é que a imprensa não pode emitir opiniões desfavoráveis ou contrárias ao que dizem ou fazem os esquerdistas, em especial os que estão no governo.
Ora, uma opinião, na medida em que possui algum significado, ou seja, refere-se a este ou aquele estado de coisas, é um enunciado problemático, que pode ser verdadeiro ou falso, mas que, por isso mesmo, já encerra uma presunção lógica de validade objetiva. Daí que toda opinião, mesmo que não seja expressa na forma “eu acho” ou “é possível que”, já subtende a necessidade de exame. Se se furta a esse imperativo lógico, a opinião não passa de um dogma, pois exclui, de saída, a própria possibilidade de ser ou refutada ou demonstrada. No primeiro caso,basta uma contradição lógica ou a contrafação pelos fatos; no segundo, a opinião se converte ou num saber empírico - caso em que pode se apoiar em constatações factuais, documentos e testemunhas - ou num saber racional - caso em que deve ser deduzida de princípios evidentes por si ou de enunciados apoditicamente verdadeiros, o que é muito mais difícil e raro no meio jornalístico.Ora, se um enunciado não pode, em princípio, ser verificado em seu valor de verdade, desnecessário seria encontrar razões objetivas, mesmo que insuficientes, para admiti-lo ou rejeitá-lo. Por conseguinte, o assentimento não é opinião, mas crença, para a qual são suficientes razões subjetivas, que são os móbeis mesmo da vontade. A improbidade intelectual, e até a depravação total do caráter, consiste exatamente no desejo - entorpecido e cego por aquelas razões subjetivas - de que nossa opinião nunca tope com objeções ,ou seja, de que aquilo que para nós é dúvida se constitua em certeza para os outros. Nesse sentido, conceder-se o direito de imunidade à crítica é negar a liberdade de os outros opinarem, ou seja, querer transformar crença em argumento.
O problema, portanto, não é “permitir que se forme opinião” (como se as pessoas, não se sentindo livres ou tendo dificuldade para isso, necessitassem de um subsídio estatal!), mas ser capaz* de examiná-la, quem quer que seja o seu emissor e independentemente dos “interesses” que este tenha, capacidade que é verdadeiramente crítica quando exercida implacavelmente sobre as opiniões geralmente aceitas, mais ainda se estas forem, sub-repticiamente, assumidas como princípios e postas fora de debate, expediente de que Marilena Chauí e intelectuais de esquerda, via de regra, se servem para poder atacar as opiniões com as quais não simpatizam ou tentar salvar a imagem do PT e dos monstrengos comunistas mundo afora. Assim, a pretensão insana é congelar todo debate cujas regras não foram definidas nos termos da novilíngua esquerdopata: a opinião, se dada por quem não concorda com Marilena Chauí, é a priori falsa (logo inútil proferi-la), mas, se ‘”formada” por sua cabecinha ou mantida por quem lhe dá ouvidos, é um axioma (logo, inquestionável). De modo que a única possibilidade de debate com essa senhora é falando o que ela quer ouvir ou se calando diante do que ela disser.Uma coisa, pelo menos, é certa. Se o jornalismo brasileiro, que já está impregnado da dogmática esquerdista, adotar o paradigma chauienstainiano de imprensa livre e “democrática”, substituindo a investigação pela doutrinação, a única verdade universal e necessária, válida neste e em outros mundos possíveis, será a da irrefutabilidade das “opiniões” de que o PT não foi responsável pelo maior esquema de corrupção do país, de que José Dirceu e outros mensaleiros foram vítimas de calúnia, de que Lula não sabia de nada e..........de que o Fórum de São Paulo é lenda urbana.
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* Capacidade cuja virtude é justamente a coragem de ousar fazer uso completo de sua própria razão, ou seja, o amar a verdade.
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