Eu acredito piamente em Deus. Não, eu tenho CERTEZA de que Ele existe. Se funcionou com Descartes, que dizia que só filosofava de vez em quando, não haveria de não funcionar comigo, que filosofo até traçando feijoada (por isso sou hipocondríaco, cfe. Kant). Construi minha dúvida hiperbólica, imaginando que Deus estivesse a testar a minha fé: "Vou enganar esse boboca, que nunca vai a Igreja e quer se passar por carola e líder intelectual da TFP, fazendo com que ele pense ser verdadeiro esse disparate lógico "Deus existe", cujo "predicado" a turma daquele herege do Russell bem percebeu que não é predicado porra nenhuma". Aí, eu juntei todo meu arsenal de silogismos, uns topoi dali, uns paralogismos de lá,li todo o "Retórica a Herênio" e fui pra campo. Meditei. Se eu estiver errado, Deus não existe. Mas se ele não existisse, quem mais iria perder tempo em me induzir a pensar tal bobagem? Os ateus, é claro. Mas por que os ateus, sendo ateus, fariam isso? Ora bolas, que graça tem ser ateu sem um crente para encher o saco? É isso. Mas pode ser, ainda, que se trate de um auto-engano, a gente nasce besta mesmo e cercado por um bando de ignorantes, não necessariamente ateus. Tá resolvido o enigma. Deus existe! Ele me criou, não pôs nada que preste em minha cabeça, alías, fê-la oca (uma tábula rasa, os empiristas tavam realmente certos!). Além disso, Deus também criou Bertrand Russell. Este, por sua vez,cabeça oca como toda res cogitans, escreveu o livro "Por que não sou cristão". Eu li. Como sou cabeça oca, entendi muito mal, achei que ele, ateu como é, só queria mesmo encher o saco do clero: "Se eu quiser acreditar em Deus acredito, sou um livre-pensador, mas só pra baixar a batina dessas hienas de confessionário, vou ser do contra". Deus escreve torto por linhas certas (ou é o contrário?Ah, dá no mesmo).Assim, Deus, tendo não só feito minha cabeça vazia mas também posto nela idéias vazias, para impedir-me por completo de saborear o fruto do conhecimento*, é causa eficiente da proposição falsa "Deus existe", que eu, dopado pelo véu de Maia, tomo por verdadeira. Como do nada nada provem e como, pelo modus tollens, se a consequência é verdadeira e o consequente falso, o antecedente também é falso, a proposição prática divina "Vou enganar Marcos" é necessariamente falsa, não conseguindo (ou melhor, não querendo)o Todo Poderoso me enganar. Logo, a proposição " Marcos acredita, e continuará a acreditar, em Deus' é verdadeira. Mas uma vez que cheguei a essa crença induzido pelo próprio Deus, DEUS EXISTE.
Um breve colorário: Os filósofos analíticos "descobriram" que "ser" ou "existencia" não é um predicado, de modo que uma proposição como "Deus não existe" equivale a "algo que existe não existe", ou seja, um sujeito proposicional não é um sujeito proposicional,não passando, pois, de uma belíssima contradição. É vero.
*Ai Dios mío! Tu me privastes de entender Hegel, Marx, Marilena Chauí, Dawkins, boletim informativo do Sindicato dos bancários, discussão em reunião de plenária departamental, Leonardo Boff, Chico Buarque, Paulo Henrique Amorim, Folha de São Paulo, Carta Capital, Isto é, extrato de banco, IG, Gilberto Gil, explicações de bibliotecária, encontros de psicanálise, Mano Brown, manuais de metodologia da pesquisa, papo-cabeça de baiano em mesa de bar, a lógica do comércio itabunense, as explicações de Scher sobre computador, teologia da libertação, maconheiro, turismo, Glauber Rocha, matemática financeira, caranguejo,mulher apaixonada por comunista, Gabriel O Pensador, a expressão "massa-crítica", a pressa carioca de atravessar rua, a esquerdemia, Anpof, minhas comunicações na Anpof.....
27 de setembro de 2007
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