8 de setembro de 2007

O que é Krautrock?

Alguns dizem que é um ramo do rock progressivo, outros o identificam com o jeitão alemão de fazer rock, especialmente o de viés mais experimental, outros ainda empregam o termo para designar todo o complexo de bandas que surgiram na Alemanha no final da década de 60/início dos anos 70, não se referindo, neste sentido, a um estilo musical. Querelas à parte, o fato é que o termo foi cunhado por um disc-jockey inglês para designar, pejorativamente, os inúmeros grupos alemães de inspiração psicodélica nesse período, talvez pela sonoridade soar esquisita se comparado ao progressivo britânico, grupos que, pela sua originalidade e ousadia, resistiam a qualquer classificação satisfatória. "Kraut" significa, basicamente, repolho, erva.. Só pode ser zoeira dizer que uma banda faz um rock repolho ou vegetal. Pode também ser alusão ao fato de que a contra-cultura e, por conseguinte, as drogas, terem sido recebidas entusiasticamente pela juventude alemã, ressentida dos traumas da segunda guerra. De qualquer forma, creio que o texto que segue explica mais ou menos o sentido do movimento krautrock: "O krautrock, em termos musicais, pode ser considerado uma síntese de influências que transitam entre a psicodelia de nomes como Pink Floyd (em sua fase inicial), La Monte Young e Velvet Underground e as vanguardas eruditas do século XX (músicas concreta e eletroacústica), incluindo ainda passagens pelo minimalismo, pelo atonalismo e pelo free jazz. É caracterizado por um gosto obsessivo por dissonâncias, ruídos, colagens sonoras, improvisação e ritmo, freqüentemente preocupando-se mais com o timbre do que com a melodia É um erro freqüente a classificação de toda a cena rock alemã dos anos 70 com a utilização da denominação krautrock: é quase normal encontrar artigos que tratam o termo como uma espécie de "saco sem fundo" e que terminam por incluir bandas de hard alemão como Lucifer's Friend e Eloy nessa categoria, o que é um grande erro. Tradicionalmente, o krautrock é sinônimo de ruptura com o paradigma "vejam o quão rápido podemos tocar", substituindo-o por "vejam o quão longe podemos ir". Considerado assim, podem ser chamados kraut tanto o "kosmische rock" de Ash Ra Tempel, TD, Klaus Schulze, Faust, Cluster, Neu! e o som experimental/eletrônico, mais jazzístico e nitidamente inspirado em Stockhausen, de um Can, de um Amon Düül II ou um Kraftwerk quanto os grupos de hard e prog mais influenciados pelo som inglês, tais como Grobschnitt, Eloy, Jane, Birth Control, Pell Mell, Satin Whale, Hoelderlin, Novalis, Wallenstein, Ramses, Pancake etc. Foi daí que eu tirei o nome deste blog, que, como o krautrock, não se resolve no mero chucrute, porque espera sempre chegar mais longe e ser melhor.

SEMÂNTICA ESCARLATE

Em artigo publicado recentemente na Folha de São Paulo, o jovem diplomata Marcelo Otávio Dantas toca no centro nevrálgico da empulhação linguística do pt: a manipulação criminosa do sentido das palavras, cujo exemplo mais patente é "o uso que se vem fazendo do termo ´elite´", conceito que, segundo Dantas, "nossa intelectualidade transformou[...] em um mero clichê ao dispor das lideranças populistas de viés autoritário". Podemos acrescentar que tal expediente, na verdade, revela a face anti-democrática da impostura intelectual dos petistas e ideólogos da esquerda.Estes, empoleirados em universidades e jornais, se arrogam legisladores da língua, que, junto com a lógica, a retórica, o direito e tudo o mais que concerne ao emprego da palavra, é instrumentalizada para servir aos seus vis propósitos. E o que eles fazem? Impregnam as palavras com todo tipo de conotação, de modo que fique difícil, ou até impossível, defini-las. Assim, em qualquer debate, se não apelam feio para argumentos ad personam, como é de praxe, podem se servir impunemente dos mais variados sofismas: silogismos com mais de três termos, induções apressadas, inversão do modus tollens, conclusões tiradas de premissas ocultas, argumentação indireta baseada na refutação de proposições contrárias ou até sub-contrárias........ Mas a situação ainda é muito pior,pois, nessa novilíngua, a contradição não é mais condição suficiente da falsidade do discurso. E, dado que o desrespeito pelo princípio de não contradição corre pari passu com o deliberado desprezo pelos fatos "num ambiente semelhante, o debate público, sério e fundamentado, se torna inviável". Mas não pensem que o estratagema esquerdista de fazer as palavras perderem sua significação objetiva (denotação) e, com isso, causar danos irreparáveis no intelecto humano,que, desse modo, fica a priori incapacitado de se representar e buscar a verdade, limita-se a conceitos cuja manipulação é politicamente conveniente em dada conjuntura. Como principal arma da revolução à la Gramsci, esse terrorismo cultural intenta, sistematicamente, destruir toda possibilidade de referência discursiva à realidade, referência sem a qual os conceitos são vazios e os juízos, destituídos de validade objetiva, transformam-se em meras opiniões que, se propagadas por quem exerce totalitariamente o poder político , como o pt, nenhum argumento consegue refutar. Portanto, o único meio de se ter sucesso na luta honesta contra esse estado de coisas é desmascarar a novilíngua esquerdista, da qual o discurso do pt é o dialeto oficial em que o brasileiro médio, em especial o jovem, está forjando um repertório confuso de idéias, cuja expressão peca, não apenas pela ´falta de precisão vocabular´, mas,sobretudo, pelo atentado insano à lógica.

FOI TONINHO MAIS UMA VÍTIMA DE JUSTIÇAMENTO?

CRIME CUJO SUSPEITO AGIU SEM MOTIVAÇÃO ALGUMA CONHECIDA. TONINHO, CELSO DANIEL, QUEIMAS DE ARQUIVO. HÁ MAIS COISA PODRE NO REINO DA PETRUALHA DO QUE PODE INTUIR NOSSO VÃO SENSO DE JUSTIÇA Rose Mary de Souza Direto de Campinas A psicóloga Roseana Garcia, viúva do prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, se mudou de Campinas há cerca de quatro anos e foi morar na capital paulista temendo por sua segurança após ser ameaçada. Ainda hoje, quase seis anos após a morte de Toninho, ela diz ter medo e temer pela segurança de sua filha. Roseana, que está em Campinas para atos em lembrança à morte do prefeito, discorda da Promotoria que aponta o seqüestrador Wanderson Neuton de Paula Lima, o Andinho, como responsável pela morte de Toninho. Ela pede a reabertura das investigações. Andinho cumpre pena em um presídio no interior de São Paulo e nega ter matado o ex-prefeito. Sua condenação chegou a quase 70 anos. O juiz do Tribunal do Júri de Campinas deve se pronunciar nos próximos dias. Toninho foi assassinado em 10 de setembro de 2001. O caso ainda corre nos tribunais. A Justiça não conseguiu determinar a motivação e o autor do tiro que tirou a vida do arquiteto, que tinha 49 anos. Toninho foi eleito com 59,79% de votos para administrar o município com quase 1 milhão de habitantes. Cerimônias Parentes e amigos vão se reunir na manhã de domingo, na avenida Mackenzie, local onde o ex-prefeito foi alvejado dentro de seu carro. À noite, às 19h, será celebrada uma missa na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro Proença, a pouco metros da casa em que a família morava. "Estou cada vez mais convencida que foi um crime de mando, do crime organizado. Cada vez fica mais claro que o estilo de Antonio era incompátivel", afirma Roseana. "É um crime que ninguém consegue resolver. O Antonio iria atrapalhar as maracutaias de muita gente. Ele era destemido até demais", comenta pontuando cada palavra. Para Roseana, a cidade que o seu marido administrou por nove meses concentra nichos da criminalidade. "A violência é cavalar", diz. "Basta procurar em arquivos e encontrar ações do narcotráfico, roubo de cargas, lavagem de dinheiro, gente graúda envolvida", enumera ela, assim como sustentou em depoimento na CPI dos Bingos na Câmara dos Deputados. Redação Terra Família de Toninho do PT tenta incluir testemunha A família do prefeito de Campinas assassinado em 2001, Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, solicitou para que uma testemunha que liga o caso ao suposto esquema de corrupção no contrato do lixo da cidade seja ouvida em juízo. A família do ex-prefeito petista contesta a versão do Ministério Público (MP), que não aponta motivação para o crime. O MP pede que o seqüestrador Wanderson de Paula Lima, o Andinho, seja levado a júri popular pelo crime de homicídio. Já a viúva e o irmão de Toninho alegam em documento entregue à Justiça que a acusação do MP necessita de "mais robusta comprovação", de acordo com o jornal Folha de S. Paulo. Redação Terra

KALEVALA

KALEVALA - Texto extraído da Gibraltar - Encyclopedia of Progressive Rock

Discography People No Names (72) Boogie Jungle (75) Abraham's Blue Refrain (77) Live in Finland & Europe 1970-77 (04, Live) Anthology (04, Compilation) Reviews Heavy psych. People is one of Finland's rarest albums, Boogie is more mainstream, but lyrics (and some vocals) by Wigwam's Jim Pembroke. Electric guitar leads, flute, piano and acoustic guitar. Kalevala was founded in 1969 by bassist Juha "Lido" Salonen; they ended up with the name of the Finnish national epic almost by accident, when a concert organiser objected to their then-topical original name Vietnam and they needed a quick replacement. The band's early line-up sported such would-be icons of no-nonsense Finnish rock as guitarist Albert Järvinen and drummer Remu Aaltonen, and that's pretty much what their early material was, straight-ahead and aggressive guitar rock; a few surviving live recordings from this period have been released on compilation discs, so be careful if you come across these. Subsequent line-up changes turned Kalevala's course towards progressive rock, especially the arrival of guitarist Matti Kurkinen who would compose all eight songs on their 1972 debut album. Some of the songs on People No Names (Finnlevy SFLP 9532) are closer to psychedelic than progressive rock in that they are still essentially grounded in the blues scale, especially during the vocal sections, but feature some compositional sophistication beyond the scope of ordinary rock music and long guitar solos over repetitive instrumental vamps. On the other hand, "Where I'm From" and "My Friend " are more formally prog as they feature delicate, classically-influenced instrumental sections with exquisitely spun-out piano work from guest keyboardist Olli Ahvenlahti, which then suddenly lurch into a wildly contrasting vocal section or gradually grow rockier as they pick up more instruments on the way. The strident and twisty title track definitely fits the progressive bill, with its acoustic/electric shifts and a bass line which reveals the band had at least heard "Heart of the Sunrise". There is also a noticeable folk influence, especially on the final track "Tamed Indians". What keeps the album together is Kurkinen's tasteful guitar work, which shows some influence at least from Focus' Jan Akkerman and also Steve Howe; he comes up with interesting parts that serve the songs (listen to his nimble, Howe-like riffing on the otherwise pedestrian instrumental "Escape from the Storm") and creates interesting arrangements by overdubbing interlocking acoustic and electric guitar lines with a good use of wah-wah and Leslie colourings. Vocalist Harri Saksala is the least impressive part of Kalevala's sound, sounding a bit like a more guttural and Fennophonic version of Ian Anderson (the song lyrics were originally written in Finnish, but pressures of the market place necessitated a translation into English). A nice solid album of rough-edged and enthusiastic early prog, People No Names is not the classic of Finnish prog that its relative obscurity has made it out to be (an original LP copy will these days command a ridiculous price), but it is the strongest of Kalevala's three albums. Before Boogie Jungle (Hi-Hat HILP102) was released, Kalevala had found time to break up and reform with only Salonen and Kurkinen remaining from the previous line-up. The album itself is much more straight-forward an affair than the first one was: gritty 1970's hard rock with dual electric guitars riffing and soloing over alternatively solid and vaguely funky rhythm section. The new vocalist, "Limousine" Leppänen, has a stronger voice than his predecessor and in fact reminds of Family's Roger Chapman, albeit without the monster vibrato. One of the album's few keyboard moments is the clavinet played by Wigwam's Jukka Gustavson on one track, while his band mate Jim Pembroke provides the lyrics and backing vocals. However, there are only two tracks that stir any real interest: the ballad "If We Found the Time" has an intricate guitar arrangement with layers of acoustics and electric slide, while "Jungle" goes on a seven minute instrumental jam with throbbing bass, drums and spacey synth whistles over which Kurkinen spreads a smorgasbord of Jan Akkerman-influenced guitar work and finally concludes the song on a rather anthemic note. While Boogie Jungle has more curiousity value than anything else, you can get it as a bonus with People No Names, as both have been re-released on one CD; the first edition was by Finnlevy in 1990 (long out of print), the second by Escape Records a decade later. On the cover of Abraham's Blue Refrain (HILP126) the band were billed as Kalevala Orchestra, apparently in an attempt to appeal to wider international markets. It sports a more typically "progressive" cover artwork than the other two, but the music continues mainly along the same straight-forward lines of Boogie Jungle, only the compositions and production have improved, with very good layered guitar arrangements throughout (all played by Salonen, as Kurkinen had been killed in a tragic accident two years earlier). Vocalist Leppänen also sounds increasingly like Chapman here. Three progressive tracks make this an album worth hearing (the only three to feature keyboards, incidentally): Pembroke provides backing vocals and lush piano for the grand, Family-like title track, which is among Kalevala's finest songs, while both "Playground" and "Lighthouse" slip from their bluesy roots long enough to include prog-styled guitar melodies or, in the case of "Lighthouse", very tasty lead synth work. The band soldiered on for some time after this, touring France with Ange, but lack of domestic support eventually killed them off. Their swan-song album was eventually reissued on CD as part of Kalevala Anthology (Shroom SAP004/05). This 2-CD compilation, like its companion release, the very shabby and error-ridden Live in Finland & Europe 1970-77 (Shroom SPLE200105), also contains number of live recordings that give a slightly more balanced idea of Kalevala's live potential than the earlier snippets. The most interesting are the 1972 recordings, since they include a few unreleased, Finnish-language songs that didn't make it to People No Names, plus early versions of songs that did. The material was rougher live, with only flute and some piano to offer respite from the guitar assault. No lost classics are hidden here, though Saksala's folky agit-prop rocker "Antti" is amusing enough and would have improved the album. Kalevala Anthology concludes with five demo-quality songs Salonen and Leppänen recorded in 1995 with a new line-up (including Pekka Pohjola on bass). They had remained unreleased, because record companies felt that English material would have little potential in the domestic market of the 1990s (an ironic turnaround considering the fate of their first album). Ultimately, the record companies may have made the right choice for the wrong reasons: "The Song" is a nice powerballad in a pathetic sort of way and "Runaways", a hardrock song taken hilariously too fast and aggressively, but generally their mixture of hardrock, AOR, various ethnic influences and a bit of progressive sounds slightly out of time, its essence now better assimilated and exploited by newer bands like Five Fifteen. -- Kai Karmanheimo

KALEVALA - fantástico grupo finlandês de hard rock

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KALEVALA - fantástico grupo finlandês de hard rock

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OLAVO DE CAVALO X QUARTIM NO QUARTEL

Mais de mil palhaços Olavo de CarvalhoJornal do Brasil,6 de setembro de 2007 Desculpem insistir no assunto, mas é preciso documentar o episódio antes que a passagem do tempo o torne retroativamente inacreditável. O sr. Quartim de Moraes tornou-se o Rei dos Palhaços, ao mobilizar mais de mil foliões comunistas para defendê-lo contra uma “mentira deslavada” ( sic )... espalhada por ele mesmo. Querendo posar de herói da guerrilha perante uma platéia da Unicamp, alardeou que fora condenado à prisão pelo assassinato do capitão americano Charles Rodney Chandler em 1968. Quando repassei a informação a um público mais vasto, que poderia não ver o homicídio com bons olhos, mais que depressa o espertinho saiu choramingando que era tudo uma calúnia, que ele não havia sido condenado por isso, mas por algo de menos truculento. Todos os Comitês Centrais disponíveis correram em auxílio da infeliz vítima da “mídia fascista”. Produziram a toque de caixa um “manifesto de intelectuais” (o gênero literário mais cultivado nesse meio), com apoio internacional e as assinaturas de mais de mil professores universitários, acusando-me, em português hediondo, de ser um joão ninguém sem força nenhuma e de ser um temível agente a soldo do imperialismo (você decide). Como esses fulanos têm o dom de ficar valentes tão logo percebem que estão em mais de quinhentos contra um, o entusiasmo belicoso da patota foi crescendo com o número de adesões, multiplicando-se em ameaças apocalípticas: fazer em picadinho a minha reputação, botar-me na cadeia, o diabo. Quando divulguei a fonte da informação, de repente a onda guerreira arrefeceu. O vozerio baixou, o inchaço de assinaturas parou de crescer, o manifesto sumiu das manchetes dos sites do PC do B e do PT, buscando discreto refúgio nas páginas internas. É uma lástima. Quantas penas de amor perdidas, quanta vela queimada por um defunto chinfrim, para tudo acabar num punhado de cinzas varrido às pressas para baixo do tapete. O autodesmentido do palhaço Quartim, camuflado de resposta indignada a acusações caluniosas, não melhora em nada a sua biografia real. Se ele não foi condenado como autor de homicídio, foi condenado como dirigente da entidade terrorista que constituiu ilegalmente o tribunal assassino e lhe deu força para executar sua sentença macabra. Organizações terroristas existem, por definição, para matar pessoas. A desculpa de que foram forçadas à violência pela ditadura é porca e mentirosa como tudo o que sai da boca de comunistas. A guerrilha, iniciada em 1963 sob as ordens de Fidel Castro e a ajuda cúmplice do próprio João Goulart, não foi efeito do golpe de 1964: foi uma de suas causas. E os terroristas nunca lutaram pela democracia, e sim para instalar aqui uma ditadura igual àquela que as comandava, protegia e financiava, mil vezes mais cruel que a dos militares locais. Todos os comunistas sabem disso, e na intimidade riem dos tolos burgueses que acreditam na desculpa “democrática”. Para mim, o manifesto serviu ao menos para recordar uma vez mais a extensão da rede de contatos internacionais do comunismo brasileiro -- o Comintern sem nome, ativo hoje como nos tempos de Stálin, bons tempos segundo Quartim -- e avaliar o volume de recursos de que essa gente dispõe para mobilizar contra qualquer inimigo isolado, pobre, e ainda chamá-lo de agente pago do capital. A desproporção seria cômica, se não tivesse, ao longo das décadas, ajudado os comunistas a matar mais gente do que todos os terremotos e epidemias do século XX, somados a duas guerras mundiais. Promessa aos leitores Olavo de CarvalhoJornal do Brasil, 30 de agosto de 2007 Em entrevista ao Jornal da Unicamp , João Carlos Kfouri Quartim de Moraes, indagado sobre o atentado terrorista que matou o capitão americano Charles Chandler em 1968, respondeu: “Essa ação me valeu dois anos de condenação.” (v. aqui). Confiando nessa informação, repassei-a aos leitores do JB, e por isso fui acusado, pelo próprio Quartim, de publicar “uma mentira deslavada”. Em entrevista ao jornal eletrônico http://www.vermelho.org/, reproduzida no site oficial do PT, o referido jura, agora, que não foi condenado por essa ação terrorista, mas por outro motivo. Não vou me perguntar se ele tem falta de memória ou falta de vergonha. Ambas essas deficiências aparecem sintetizadas na mentira esquecida, atribuída retroativamente a quem teve a imprudência de acreditar nela. Ainda nas declarações à Unicamp, Quartim afirmou sobre o caso Chandler: “Boa parte dos indiciados morreu nos porões do Doi-Codi.” Bem, da lista total de indiciados (publicada na Folha da Tarde de 28 de novembro de 1969), Carlos Marighela morreu em tiroteio de rua; Dulce de Souza foi trocada por um embaixador seqüestrado, viajou pelo mundo e voltou ao Brasil depois da anistia; Diógenes José Carvalho prosperou como presidente do Clube de Seguros da Cidadania e tornou-se tristemente célebre com o apelido de “Diógenes do PT”; João Leonardo da Silva Rocha foi para Cuba; Ladislau Dowbor continuou vivo, dando aulas na PUC de São Paulo; Onofre Pinto morreu em combate na fronteira com a Argentina, em 1974; Marcos Antonio Brás de Carvalho foi morto em tiroteio, na sua própria casa, em 1969; Pedro Lobo de Oliveira trabalhou como segurança do advogado Luís Eduardo Greenhalgh até pelo menos 1986, quando o vi pela última vez; João Carlos Kfouri Quartim de Moraes está vivo e, aparentemente, passa bem, pelo menos até ler este artigo. Só não sei de Manoelina de Barros, mas suspeito que ela também não “morreu nos porões do Doi-Codi”, pois seu nome não consta de nenhuma das listas de mortos e desaparecidos que circulam pela internet. Doravante – prometo aos leitores -- darei a qualquer declaração de Quartim de Moraes a mesma quota de credibilidade que cabe à expressão “boa parte dos indiciados”. Sugiro a mesma precaução aos militares brasileiros – poucos, espero – que aparentemente aceitam esse indivíduo como interlocutor confiável no “diálogo” que ele orquestrou entre as Forças Armadas e as organizações comunistas. Afinal, esse diálogo – um novo nome para aquilo que antigamente se chamava infiltração -- é composto de sorrisos e lisonjas, em público, mas entrecortado de ameaças veladas. Às vezes a duplicidade não é só de palavras, mas de atos. Matar prisioneiros inermes é um crime monstruoso em qualquer circunstância. Mas a liderança comunista tem-se esforçado para que aqueles que o cometeram sob as ordens do Estado brasileiro sejam objeto de castigo, enquanto os que fizeram o mesmo a mando de organizações terroristas são homegeados como heróis. A última dessas homenagens glorificou a figura macabra de Carlos Lamarca – tão macabra quanto a de qualquer torturador do Doi-Codi --, que não só matou um prisioneiro amarrado, mas o fez em pessoa, com sucessivas coronhadas, esmagando-lhe metodicamente o crânio. Naturalmente, esperar que crimes iguais tenham tratamento igual é extremismo de direita.

OLAVO DE CAVALO X QUARTIM NO QUARTEL

Aspectos da formação do Exército desde a abolição da escravatura João Quartim de Moraes nasceu em São Paulo, em 1941. Foi militante da resistência democrática na década de sessenta, e condenado pela contra-revolução na época do gerenciamento militar. Em 1969, conseguiu exilar-se na França, onde permaneceu até 1981. Regressando ao Brasil, incorporou-se ao Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade de Campinas – Unicamp.Entre outras obras, escreveu “A esquerda militar no Brasil”, uma contribuição à história militar e à do principal órgão do Estado, o Exército. Utilizando-se de métodos científicos de análise e investigação, Quartim de Moraes identifica movimentos que podem ser considerados progressistas, entendidos em suas épocas e circunstâncias determinadas, a exemplo de setores do Exército que adotaram posições militantes para extinguir o escravismo, e as atitudes dos militares frente aos ideais republicanos ou as rebeliões, nos anos 20 e 30, contra o poder das oligarquias agrárias. Participação dos Tenentistas na revolução de 1924 AND – Como o senhor caracteriza a formação do Exército Nacional, da proclamação da Independência à proclamação da República, incluindo os vínculos com as classes dominantes da época? QM - No processo de formação do Exército Nacional, no período da independência à proclamação da República, as forças armadas brasileiras estabeleceram determinadas relações com as classes dominantes da época. Eu desenvolvi, em alguma medida, o argumento de que o Império havia encarnado, do ponto de vista da retórica institucional, o princípio da unidade nacional. Evidentemente, os argumentos do Duque de Caxias, e de outros, que foram esmagando rebeliões, e alguns progressistas, realizando esta obra de unificação do poder estatal imperial, não são retórica. Elas abalam, mesmo. Nesse sentido, há um processo complexo que segue o seguinte esquema: tudo aquilo que favorecia a centralização do poder de Estado favorecia a unidade nacional, portanto, era progressista. E aquilo que é contra, numa análise simplista do primeiro momento da formação nacional, é que o Exército imperial realiza essa obra unificadora, e realiza com meios armados. Isto é, realiza quebrando toda forma de movimentos centrífugos, fossem eles progressistas ou retrógrados. Nós tivemos muitos levantes, no Rio Grande do Sul e Canudos, que têm um mínimo de ambigüidade. Mas, é evidente que retemos como mais importante o de Canudos, porque é o elemento da rebelião dos oprimidos de sempre, dos humilhados, dos proletarizados em todas as dimensões, naquela análise que consistia em buscar um refúgio, uma base, em regiões onde o latifúndio tradicional não conseguia impor a ordem, e teve que apelar para o poder central. Partindo da tese de muitos de nossos irmãos sul-americanos de que a Guerra do Paraguai teve o objetivo histórico de aniquilar um poder emergente que se desenvolvia às costas do Brasil e da Argentina, destruí-lo era um projeto visto com simpatia, também, pelo imperialismo inglês, na medida em que a contestação que, de imediato, tinha por objeto a maior força hegemônica brasileira e Argentina. O Paraguai era, no limite, um poder independente, e até com características antiimperialistas. Não interessava a ninguém que este poder existisse ou se consolidasse. Daí a posição da Inglaterra em relação a isso. Coluna Prestes junto ao marco da fronteira Brasil-Paraguai AND – A Inglaterra interferiu seguidamente nos movimentos progressistas no Brasil, particularmente naqueles que tendiam a se alastrar pelo Continente. A intervenção inglesa, num sentido geral, visava garantir uma ordem, e essa ordem era oferecida pelo Estado brasileiro, em contraste com a anarquia imperante entre nossos vizinhos, em que não houve um fator de unificação forte durante a luta de libertação da colonização espanhola, não por acaso, associada a Simon Bolívar. Depois, os fatores centrífugos prevaleceram. Isso não é bom, mas, também, não interessava aos ingleses muita bagunça. Grande parte dos horrores que ocorrem, ainda hoje, na África subsaariana, são conseqüência do modo como os ingleses, de maneira torpe, jogaram umas etnias contra outras. A polícia era de tal etnia, então baixava o cacete na outra. Não era só a questão de plantar ópio na Índia para vender à força na China. A Inglaterra é mestre nisso. AND - O Exército não chegou a desenvolver uma grande militância contra a monarquia. A República foi um ato progressista. Esse ponto de vista destoa frontalmente da historiografia liberal, e alguns tiraram a máscara como José Murilo de Carvalho, que escreve sobre o Senado do império, e que diz que o povo assistiu bestificado à Proclamação da República no livro “Os bestializados”. Ele pega nesse aspecto de que foi um processo conspirativo e de que não havia uma dinâmica de massa pela República, como havia tido uma certa dinâmica no movimento abolicionista. Foi um pouco diferente. Sou muito tributário dos escritos de Werneck Sodré. Fato decisivo na Guerra do Paraguai, uma guerra imperialista, foi uma agressão que o Brasil e a Argentina praticaram para aniquilar o Paraguai. Naquela guerra, como os filhos de fazendeiros não iam querer tomar tiro, pegar febre e morrer, houve, como se sabe, o recrutamento de escravos para servir de tropa, de carne para canhão, etc. Mas, isso criou um laço forte entre o Exército e os negros, de modo que não é por acaso o nascimento do Clube Militar. Em boa medida por causa da Guerra do Paraguai, mas, também, partindo da unidade nacional, o Exército não teve uma militância contra o império tão importante quanto teve contra a escravidão. O Clube Militar surgiu e em seu primeiro ato, fundamentalmente, recusou-se a servir de papel ignóbil, de capitão do mato, e isso foi um ato abolicionista, de modo que o Exército tem origens progressistas. O mais importante nisso tudo é que a classe dominante num país colonial, onde o modo predominante de produção de riquezas era a escravidão, era a de senhores de escravos. Ora, o Exército estava contra os senhores de escravos. Nesse sentido, isso é democrático, sem nenhuma dúvida. Mas, também, tinha um sentido nacional. Aquela história que atribuem ao Floriano parece verídica, de modo que o primeiro presidente progressista que o Brasil teve foi Floriano. Os liberalóides não concordam. Enquanto havia escravidão, os bancos só aceitavam escravos como garantia para empréstimos. Era um tal Silveira aliado com o Gumercindo Saraiva, um caudilho, e, nessa luta, o Floriano representou a unidade republicana: o Brasil contra o restauracionismo monarquista e a secessão que vinha pelo velho partido escravocrata do Rio Grande do Sul, derrotado pela abolição e depois pelo golpe republicano. Dizem que aí a esquadra inglesa tentou intervir. Estava parada ao largo do Rio de Janeiro e mandaram consultar como é que seriam recebidos: mandou um estafeta consultar o governo. E ele respondeu que seriam recebidos à bala. AND – De onde Suplicy tirou mesmo aquele discurso, elogiando Prudente de Morais? É curioso! Em Piracicaba, num jornal, o prefeito fez várias homenagens a Prudente de Morais e citava um discurso vibrante do senador Suplicy, elogiando Prudente como democrático, e o primeiro presidente eleito do Brasil. Uma ignorância pasmosa, porque, com o Prudente de Morais, começa o “café com leite”, a República carcomida. É incrível o reacionarismo ideológico dos dirigentes petistas, ou de boa parte deles: “O grande piracicabano foi eleito com tantos votos”, mas todo mundo sabe que aqueles votos eram a bico de pena. E o ignorante do Suplicy não sabe? Os petistas fazem causa comum com o liberalismo mais reacionário. A demonização dos militares daquele período alimenta o confusionismo entre essa e aquela geração militar. A primeira, formada naquela escola de ditadores pelos gringos no quadro da guerra fria, que é uma outra coisa, uma outra geração. Werneck Sodré destaca que o Exército podia cumprir ordens, mas, vivia em tensão constante. Um levante, nós podemos dizer, uma guerra civil larvar no Brasil, começa com as “salvações” e vai até 35, se juntarmos tudo. Então, são 25 anos de guerra civil larvar. Salvações, do Nordeste até o Sul, eram levantes antioligárquicos em sua boa maioria. E o Exército estava dividido. O Exército era um aparelho que não chegava a se consolidar como aparelho. AND – Por que Missão Francesa e não a Alemã para instruir o Exército brasileiro? Chamar a Missão Francesa foi um fato histórico concreto. Havia duas possibilidades: chamar a Missão Alemã ou a Francesa. Com a guerra de 14, a questão ficou em suspenso. A França enfrentou o pior peso da luta contra a Alemanha. Foi o teatro de guerra mais violento, mais terrível. A frente russa foi horrível também, mas, a grandiosa Revolução de Outubro e o trabalho dos bolcheviques na frente foi um trabalho absolutamente sem precedentes na História universal, porque, trabalhar numa frente de combate para fraternizar um soldado que está atirando no outro é um dos auges da História da Humanidade. E bem sucedido. Eles não eram “fala macia”, porque na hora que os oficiais tzaristas tentavam prendê-los, fuzilavam os oficiais. Com a vitória de 19, começam as negociações. Tudo muito rápido porque os franceses tinham armas para vender. Nesse momento, todos são mercadores. Então, os generais que vinham aqui eram garotos propaganda de canhão, avião. Eles enfrentaram uma concorrência americana muito forte. Mas, eu acho que, nesse período ainda, o Exército está absolutamente indeciso. Tanto que o Exército manteve-se coeso para derrotar a contra-revolução paulista de 32 — ou melhor, a contra-revolução em São Paulo, embora os paulistas tenham sido massa de manobra — e os elementos mais reacionários do Exército, como, por exemplo, aquele Bertoldo Klinger, um dos piores perseguidores da Coluna Prestes. Os elementos progressistas eram muito fortes no Exército. Nunca prevaleceram, exatamente, porque havia uma contradição objetiva entre o Exército, um aparelho nacional centralizado, e o poder da oligarquia que tinha base regional e local, muito bem explicado por Sodré. AND – É Getúlio que aparece como o criador da Petrobrás... Mesmo os Jovens Turcos, a ala direita da reforma militar, eram centralizadores, fora algum pau mandado de fazendeiro. Mas, em geral, havia uma dinâmica em que todos eram pela centralização. Isso está expresso nas posições até do Bertoldo Klinger. Era uma tendência de reforma, uma reforma organizacional do Exército, e, muito claramente, ele diz: “Nós somos o baluarte, a última reserva do Estado, o Estado central, numa época de conturbações, etc”. Havia uma esquerda e uma direita. A direita eram os Jovens Turcos e a esquerda eram os tenentes. Havia um aparelho que lutava pela sua afirmação e, portanto, pela centralização do poder estatal. Tirando os preguiçosos, os corruptos e burocratas, as tendências políticas atuantes eram, por um lado, o tenentismo, que pode ser considerado a ala esquerda, já que esquerda e direita são posições relativas no espaço político. Apareceram várias outras tendências políticas, também. Algumas católicas, com o Juarez Távora, que se reduziu ao catolicismo. Outros são positivistas, e o positivismo era usado de maneira crítica, como uma ferramenta de consolidação do Estado, uma ferramenta da revolução burguesa, mesmo. Não por acaso, muitos positivistas avançaram até o comunismo, como Leônidas, dono do jornal “A Nação”, que cedeu o jornal ao Partido Comunista, em 1926. A oligarquia gaúcha se tornou força dirigente, núcleo, de uma revolução de 30 que tentou promover uma industrialização autocentrada: siderurgia, e, depois, o petróleo. Graças, não à iniciativa direta do Getúlio, mas, à dinâmica do movimento comunista. Graças ao movimento comunista a Petrobrás foi criada, nós sabemos disso. Em 32 a oligarquia gaúcha prometeu se aliar aos paulistas e depois pulou fora. São contradições, mesmo. Mas, na verdade, dizem que a oligarquia gaúcha tinha uma base econômica mais no timbre nacional, que aqui não tinha, porque, no Rio Grande do Sul, o principal produto era para o mercado nacional, que era o gado, diferente da posição de São Paulo, que produzia para o exterior e estava desprezando o resto do Brasil. O fato é que a lógica da economia do RS era voltada para o mercado interno. Isso talvez explique o sentido nacional, um interesse nacional dessa oligarquia gaúcha, que a paulista não tinha. AND – Na essência, como se explica o caráter democrático do Tenentismo. Aliás, a vida e a morte do Tenentismo? Os tenentes tinham um projeto, já naquela época, moralizador... Era a ideologia deles: a honestidade. Hugo Chávez repete várias vezes: “moral y luces”. Usando aí a dialética hegeliana, o conteúdo ultrapassa a forma. O conteúdo do que ele está fazendo, vai além da forma. A forma ainda é acanhada, mas, o conteúdo é mais forte. A classe dominante no século XIX até a abolição, era a dos senhores de escravos. Com a abolição e o aumento da ocupação territorial, a classe dominante passou a ser constituída pelos donos de grande superfície de terra, obtida, na maioria das vezes, pela grilagem, num processo violento. Não foi na base do cartório de títulos, mercado imobiliário, etc., como eles falam. Os interesses históricos políticos são semelhantes àqueles revelados pelo feudalismo antigo, que não tinha um poder central demasiado poderoso para contrabalançar os interesses dos senhores feudais. Não conviviam com um poder estatal que pudesse afetar seus interesses. Ao mesmo tempo, essa política não é intrínseca à posição da oligarquia brasileira, semifeudal. Ela não tem uma política, uma relação com o exterior, já predeterminada. Essa política é muito dependente da exportação financiada, ou mesmo, coloca seus lucros nos países imperialistas, que é o que ocorre, hoje — como toda essa oligarquia semifeudal nos países árabes, que usufruem a renda diferencial do petróleo, mas é uma camada pró-imperialista. Em 1930, a idéia de interesse nacional passa a prevalecer, porque a revolução não foi social. Até houve uma dinâmica de revolução social, em 30. Entraram nas casas dos ricos, jogaram seus objetos pelas janelas. Houve a revolução do povo. Foi sentida pela massa do povo uma mudança: que os ricos, os arrogantes de sempre tinham caído, a substituição de uma política por outra com o alargamento da base social, ou das origens sociais daqueles que exerciam o poder político. AND – O anticomunismo parece ter apunhalado o Tenentismo. Mas, há razões na ordem econômica e política que estimularam a reação. O Tenentismo participou dos três primeiros anos da Revolução de 30, e, depois, foi alijado, enquanto Getúlio procurou novas bases sociais, novas mudanças, que, depois, incluem o mundo do trabalho, até pela fragilidade da burguesia. Até 30, prevalecia o poder da “Política dos Governadores”, dominado por São Paulo e Minas. O governo central foi o centro de gravidade da política estadual, cuja linha principal, até então, era a de que “o Brasil é um país de vocação essencialmente agrária”, portanto, teria que agradar aos imperialistas também. Isso muda em 30. E é isso que a universidade paulista, os intelectuais a soldo da ordem estabelecida, desde Boris Fausto, até Wefort — todos eles, cuja especialidade sempre foi a de denegrir o movimento comunista e o getulismo —, oferecem uma visão do Getúlio deturpada, porque consideram apenas o ano de 37. Mas, com que fúria a reação imperialista e seus agentes internos, esses neoliberais, vão em cima daqueles direitos outorgados. Getúlio foi um obstáculo. Para os comunistas, era uma demagogia, uma tentativa de manipulação dos trabalhadores. AND – Esse anticomunismo retoma, hoje, nas formas de um partido de massas, um antipartido. João Goulart, por exemplo, chegou a ser ministro do Trabalho, em 54, e, praticamente dobrou o salário mínimo. Jamais Lula — eu votei nele no segundo turno — e a equipe econômica do PT teriam coragem de aumentar em 30 % o salário mínimo. E são esses dirigentes petistas, por seu anticomunismo aprendido na Igreja, que tentam denegrir o comunismo. Dizem que isso é um horror totalitário. Isso é um dos aspectos mais preocupantes para quem deposita alguma esperança no PT, e mais sintomático para quem não guarda nenhuma ilusão frente ao PT. É essa interpretação da história do Brasil, segundo a luneta da reação liberal que o PT, por ser um partido liberal ideologicamente — nesse sentido, partido dos intelectuais predominantemente liberais —, congrega comunistas, marxistas, que, sendo minoria, dançam conforme a música. Isso resultará num desdobramento futuro, quando chegar no limite. AND – Foi criada uma imagem diabólica no seio das forças armadas que feriu mortalmente o que de mais progressista havia entre a jovem oficialidade... Essa esquerda, representada pelo Tenentismo deixa de existir, em novembro de 35. Um fato gravíssimo na história. Criou-se esse inimigo por parte da jovem oficialidade, o que é uma derrota política. Agora tem uma parte do problema que o Getúlio faz que é industrializar o país. Uma política de jogo de dinheiro: Volta Redonda em 42, siderurgia. Consegue negociar com os americanos, aproveitando a conjuntura de guerra. Foi um bom negociador, não era um estafeta. Ele era um cara da oligarquia, avançou para posição de revolução nacional como um cara da oligarquia pode avançar, com todas suas contradições Ele vai encontrar um ponto de gravitação burocrático, com a famosa fórmula do Góis Monteiro, que era lembrada pela sua concisão e lucidez: “Chega de fazer política no Exército. Vamos fazer a política do Exército.” Ou seja, a política nacional, do Estado nacional, com métodos fascistas e tal, mas, sabendo bater à direita, que é um pouco o que o Ernesto Geisel fez nos anos 70. AND – Geisel é tido como um “restaurador da democracia”, o que não é certo. As massas nas ruas puseram fim aos massacres, enquanto os pelegos se erguiam sobre as cinzas das lideranças assassinadas. Essa linha, que é retomada na ditadura, continua, no essencial, coiceando. Tanto assim que o Doi-Codi só foi desarmado em 77. Teve aquele ataque desferido contra o PC do B em 76, pesado. Difícil tocar nesse assunto, dado que o PC do B o coloca entre questões sentimentais. Mas, Geisel usou a tortura e depois quebrou a tortura. AND – Parece que, até hoje, não há uma análise da Força Expedicionária Brasileira que satisfaça às necessidades de se explicar cientificamente nossa presença na Segunda Guerra, assim como o combate ao fascismo interno. Foi bastante progressista a participação da FEB na luta contra o nazi-fascismo. Não foi por acaso que vários quadros do Partido Comunista estiveram lá, inclusive o recém falecido Malina. Triste, morreu refém daquele Roberto Freire. Ele e outros. Mas, ao mesmo tempo, aproximação desses Exércitos criou uma posição que, depois, iria se ativar poderosamente com o desencadeamento da Guerra Fria, em 48, que começa em 47 ou 48, não começa antes. E o Exército poderia ser nazistóide, já que Dutra era fascista confesso, integralista e estava bem colocado no poder. AND – Por um instante, no período eleitoral, todos os militares brasileiros pareciam progressistas. Criticavam Alcântara, tratados lesivos aos interesses nacionais. Progressistas existem, sem dúvida. O problema são as medidas a serem adotadas, agora que está tudo tão bem explicado. A revista do Clube Militar, que é a revista do pijama, é histericamente pró-imperialista. Mas, o que eles são agora? Defensores do que foram: o braço armado da repressão. E a ditadura não foi apenas militar, nisso o Werneck tinha razão. Os banqueiros, esse troço. Os militares foram instrumento. É a ditadura burguesa sem componentes liberais no sentido político. Aqui no Brasil, mesmo os mais retrógrados, os mais bandidos, como Médici, não realizaram a política neo-liberal na economia, diferentemente do Vidella, na Argentina e do Pinochet, no Chile. Quando Pinochet estava chamando os “Chicago Boys”, e depois o Vidella — com aquele que seria o antecessor do Cavallo e do Menen, Martinez de Oz —, estava eliminando a burguesia local, constituída meramente de compradores, para não dizer coisa pior. No Brasil, Geisel estava tentando novo ciclo de industrialização pesada. É diferente, e isso é interessante. Mas, há um antimilitarismo cretino, como o do Plínio Sampaio, que colocou com manchete no “Correio da Cidadania”: “Coronel golpista é eleito presidente do Equador.” AND – Nem sempre o antiimperialismo coincide com uma justa posição quanto à questão militar. O antimilitarismo é antiimperialismo, o que não significa repudiar o profissional militar. Ser antimilitarista é uma postura que não entra na questão do antiimperialismo, porque, uma vez antiimperialista, uma atitude pode não ser antimilitarista. Existe uma visão simplória do antimilitarismo, que grassa na esquerda liberal e no PT. Por exemplo: a pretexto da perseguição ao narcotráfico, os americanos mantêm unidades e bases militares na Bolívia e no Peru. O PT tenta esconder a questão de Alcântara. Está querendo empurrar com a barriga. Como imaginar que a maior reserva de água doce do mundo, a maior reserva bioenergética e de formas vegetais, animais, etc., deixará de ser cobiçada de uma hora para outra? AND – O sufrágio universal, nos termos da democracia jurídica, vem sendo defendido ferrenhamente pelos oportunistas. E qualquer administração passa por “governo popular e democrático”, ainda que o povo esteja tão longe do poder. Todas as construções ideológicas dos liberais que tentam açambarcar o direito de definir democracia e erigir o mercado eleitoral americano em modelo de democracia — o que para nós é um modelo de liberalismo — em que os milionários triunfam e as eleições decidem que tendência dos milionários vai assumir os postos dirigentes da máquina estatal norte-americana. Essa democracia não pode se limitar nunca a empobrecer o conceito, limitar ao aspecto institucional. Falar em democracia não tem sentido se não falarmos em governo das massas populares, portanto, no nivelamento, — não aquele nivelamento que o PT pretende fazer com a aposentadoria, tirar direito de todos e jogar tudo na vala comum, a igualdade condicional. Esse negócio de igualdade de condições é um negócio muito usado, historicamente, desde os tempos da democracia de senhores de escravos, que foi em Atenas. Isonomia, igualdade perante a lei. O PT vai atender algumas aspirações básicas. Aqui, agora, é um triunfo eleitoral de um partido que não arrisca ser, sequer, um partido de reformas, porque o capitalismo pode compartilhar reformas. Não reformar as relações capitalistas de produção, mas, melhorar as condições de trabalho, o que nós entendemos por direitos sociais, e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento em larga escala das atividades sindicais, da imprensa e tudo o mais. E acho que a questão decisiva da democracia, hoje, é a criação de uma cultura democrática, ou, como gostam os historiadores liberais, de uma mentalidade democrática. Ora, isso passa pelo controle de meios de informação em larga escala. O que ele vai fazer em relação a essa distribuição de sinais e canais de televisão? Financiar essa gente? Ou será que a gente tem uma perspectiva, mesmo, de abrir espaço para que no domínio midiático haja uma presença de esquerda? Vão levar adiante essa tentativa neoliberal de destruir direitos da maneira mais hipócrita, tomando como pretexto a aposentadoria dos trabalhadores do setor público, nivelando por baixo com a aposentadoria do setor privado? É o igualitarismo reacionário. Em vez de se perguntar como é que vai aposentar o pessoal que anda de jatinho, de helicóptero no final de semana, Guido Mantega já disse que é um absurdo que o trabalhador do serviço público tenha aposentadoria integral, e que o ativo ganhe tanto como o inativo. É um ponto que eles vão atacar para ocultar outros. Isso é um absurdo. É preferível não fazer previsões, mas há três perguntas: 1. Eles vão partir para a ofensiva contra os trabalhadores do setor público? 2. Para quanto eles vão erguer o salário mínimo? 3. O que eles vão fazer a respeito da Base de Alcântara, que tudo indica, é um atentado à soberania nacional?

PESCADO NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO

Ninguém vai protestar contra o “preconceito” de Lula? O aspecto mais nefasto do pensamento politicamente correto não é a sua ingênua sinceridade, mas o seu cinismo ideológico, a falsidade de seus propósitos, a vigarice de sua militância. Esperei um pouco antes de escrever este post, fazendo cá uma aposta silenciosa. Imaginem se fosse Paulo Zottolo ou qualquer outro “burguês” a dizer, a exemplo do que fez Lula, que um juiz de Caetés não pode mandar prender o presidente do Banco Central... Os tupinambás logo ficariam excitadíssimos. Aliás, não precisava ser alguém “de direita”, não. Se um tucano o dissesse, já seria um deus-nos-acuda. Vimos, há pouco, a gritaria por causa do Piauí. Qual é a diferença essencial entre o que falou Lula sobre o município de Pernambuco e o que disse o presidente da Philips? Nenhuma! Eu estou patrulhando Lula? Não. Estou “despatrulhando” Zottolo, a língua portuguesa, a ironia, a piada, a provocação — tudo aquilo a que tem direito o debate civilizado. O diabo é quem tenta criar óbices na linguagem são estes vigaristas de esquerda, que, não obstante, se calam quando a suposta “agressão” é vocalizada por um dos seus. Não li até agora um só colunista a comentar o caso. Sabem por quê? Ah, porque é claro que Lula não falou com preconceito, né? Tanto quanto é claro que Zottolo é um preconceituoso. Porque, afinal, um vem ungido pelo “povo”, e o outro traz na testa a marca da discriminação. A canalha politicamente correta quer é uma “ditadura virtuosa”.