Antes de submeter à análise essa monumental obra do pensamento filosófico brasileiro, cabe algumas explicações iniciais. Trata-se de um work in progress confeccionado por cerca de 1300 cabeças iluminadas, cada uma das quais responsável por um aforismo. Ponto de inflexão da literatura universal, ela inaugura o que se pode chamar de, na sua parte teórica, método do dogmatismo cético e, na sua parte prática, militância aristocrática de massa, pois está aberta a ulteriores contribuições, inclusive de semi-analfabetos, dos quais só se requer o sincero desejo de escrever o próprio nome bem como a capacidade de tomar por verdadeiro tudo sobre o qual paire alguma dúvida e de reputar falso tudo que abale, minimamente que seja, suas crenças e opiniões. De caráter assumidamente assistemático, o texto carece efetivamente de unidade lógica, cuja ausência se nota logo pelo fato de alguns aforismos só conterem o nome do autor e, sobretudo, pelo fato de nenhum deles servir de premissa para os outros, mas, o mais das vezes, insistir na mesma tecla. Ademais, o texto parece dirigido não à demonstração e/ou refutação de teses, mas à defesa de uma causa meio ambígua, que oscila entre a apologia de um certo ideal de justiça e o ataque, sem meias palavras, a um aparentemente sórdico, cruel e desbocado representtante da Cia, das oligarquias locais, de poderosos e insensíveis capitalistas, de uma certa religião de há muito sem prestígio... enfim, ao confronto verbal com esse perigoso e academicamente inexpressivo entusiasta da tradição judáico-cristã ocidental e do conservadorismo católico, polemista belicoso que, paradoxalmente, é considerado pelos autores um zé-ninguém que só quer ganhar notoriedade às expensas da intelectualidade desse Brasil varonil. Por conta desse estrambótico formato literário, e da estrutura estilisticamente desleixada, o texto em pauta pode ganhar inteligibilidade se cotejado, de preferência dialeticamente, com o simplório pensamento desse abominável, reacionário e desprezível inimigo das luzes, conhecido por Olavo de Carvalho, que, segundo consta, encontra-se refugiado em Richamond, Virginia, EUA, algo que, de acordo com os autores, já dá muito o que pensar. Recomenda-se, também, que o leitor se inteire dos fatos que suscitaram a querela e um tão apaixonado manifesto a favor da livre e civilizada expressão do pensamento.
12 de setembro de 2007
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