O texto a seguir resume bem a natureza e motivação do moderno intelectual, esse especialista em crítica do "sistema" e ideólogo de "um outro mundo possível", mas, é claro, financiado com dinheiro deste mundo real:
Apesar disso, nem a oportunidade do ataque nem a real ou imaginada queixa são em si mesmas suficientes para provocar, embora possam afetar fortemente, o surgimento de uma hostilidade ativa contra a ordem social. Para que surja tal atmosfera é necessário que haja grupos que tenham interesse em estimular e organizar o ressentimento, acalentá-lo, expressá-lo e liderálo. Como se mostrará na Parte IV, a massa jamais desenvolve opiniões definidas por iniciativa própria, É ainda menos capaz de divulgá-las e transformá-las em atitudes e ações coerentes. Pode apenas seguir ou recusar-se a seguir a liderança coletiva que lhes oferecem. Até que possamos descobrir os grupos sociais com capacidade para desempenhar esse papel, a nossa teoria de atmosfera de hostilidade ao capitalismo continuará incompleta. Falando de maneira geral, as condições favoráveis à hostilidade contra um sistema social ou a um ataque específico contra ele tenderão, em todos os casos, a provocar o aparecimento de grupos que as explorarão. No caso da sociedade capitalista, todavia, há um outro fato que deve ser notado: ao contrário de qualquer outro tipo de sociedade, o capitalismo, inevitavelmente e em virtude da sua própria civilização, cria, educa e subvenciona um interesse oculto de inquietação social*. A explicação desse fenômeno, que é tão (183) curioso como importante, pode ser deduzida de nossa argumentação no Capítulo XI, mas pode ser tornada mais eficiente com uma excursão pelo domínio da sociologia do intelectual.
Mas se o mosteiro deu à luz o intelectual dos tempos medievais, foi o capitalismo que lhe rompeu as cadeias e lhe pôs o prelo nas mãos. A lenta evolução do intelectual leigo constituiu simplesmente um aspecto deste processo. A coincidência do surgimento do humanismo com o aparecimento do capitalismo é surpreendente. Os humanistas eram sobretudo filólogos. Mas ilustrando muito bem um ponto mencionado acima, eles rapidamente se estenderam aos camposdas maneiras, políticas, religião e filosofia. Não se deveu isso apenas ao conteúdo dos trabalhosclássicos que eles interpretavam com suas gramáticas. Da crítica de um texto à crítica da sociedade, o caminho é mais curto do que parece
* Todos os sistemas sociais são sensíveis à revolta e a sua instigação é atividade que oferece vantagens era caso de sucesso e, daí, talvez atraia tanto cérebros como músculos. Isso aconteceu numerosas vezes nos tempos feudais. Mas os nobres feudais viravam-se contra pessoas ou posições isoladas. Não atacaram o sistema feudal propriamente dito. De maneira geral, a sociedade feudal não revelou tendências para encorajar— intencionalmente ou não — ataques contra o próprio sistema social.
Joseph A. Schumpeter ( Capitalismo, Socialismo e Democracia)