Segundo Marilena Chauí, “o príncipe eletrônico” exerce sua tirania julgando e condenando “meros suspeitos” ao veicular, em favor dos interesses do capital, a “opinião tendenciosa e infundada” de que o PT montou um esquema de recrutamento sistemático de parlamentares ou de que o governo é o responsável direto pelo caos no setor aéreo, pois, com o “imoral” propósito de usurpar as funções do Judiciário e do Legislativo bem como de moldar a consciência do cidadão a sua imagem e semelhança, "a notícia já é apresentada como opinião, em lugar de permitir a formação de uma opinião". Isso significa que a tarefa dos meios de comunicação, segundo Chauí, é calar-se, condenando-se à auto-censura, porque, para ter legítimo “acesso à esfera pública”, as opiniões, em sua forma e conteúdo, tem que obter a chancela da democracia, vale dizer, a autorização dela e da quadrilha do Planalto. Digam-me: como é possível noticiar alguma coisa sem se ter qualquer opinião a respeito? No mínimo, o jornalista tem a opinião de que algo é digno de ser noticiado ou, então, de que ele é, moral e intelecutalmente, capaz de relatar os fatos com o máximo de fidelidade possível (se essa opinião é verdadeira ou falsa são outros quinhentos), o que é, no fim das contas, o exercício mesmo do direito de expressão, liberdade que, segundo Marilena Chauí, se constitui num "privilegio" dos interesses privados e das grandes empresas de comunicação de massa. O que ela quer dizer mesmo, no seu jargão empolado, é que a imprensa não pode emitir opiniões desfavoráveis ou contrárias ao que dizem ou fazem os esquerdistas, em especial os que estão no governo.
Ora, uma opinião, na medida em que possui algum significado, ou seja, refere-se a este ou aquele estado de coisas, é um enunciado problemático, que pode ser verdadeiro ou falso, mas que, por isso mesmo, já encerra uma presunção lógica de validade objetiva. Daí que toda opinião, mesmo que não seja expressa na forma “eu acho” ou “é possível que”, já subtende a necessidade de exame. Se se furta a esse imperativo lógico, a opinião não passa de um dogma, pois exclui, de saída, a própria possibilidade de ser ou refutada ou demonstrada. No primeiro caso,basta uma contradição lógica ou a contrafação pelos fatos; no segundo, a opinião se converte ou num saber empírico - caso em que pode se apoiar em constatações factuais, documentos e testemunhas - ou num saber racional - caso em que deve ser deduzida de princípios evidentes por si ou de enunciados apoditicamente verdadeiros, o que é muito mais difícil e raro no meio jornalístico.Ora, se um enunciado não pode, em princípio, ser verificado em seu valor de verdade, desnecessário seria encontrar razões objetivas, mesmo que insuficientes, para admiti-lo ou rejeitá-lo. Por conseguinte, o assentimento não é opinião, mas crença, para a qual são suficientes razões subjetivas, que são os móbeis mesmo da vontade. A improbidade intelectual, e até a depravação total do caráter, consiste exatamente no desejo - entorpecido e cego por aquelas razões subjetivas - de que nossa opinião nunca tope com objeções ,ou seja, de que aquilo que para nós é dúvida se constitua em certeza para os outros. Nesse sentido, conceder-se o direito de imunidade à crítica é negar a liberdade de os outros opinarem, ou seja, querer transformar crença em argumento.
O problema, portanto, não é “permitir que se forme opinião” (como se as pessoas, não se sentindo livres ou tendo dificuldade para isso, necessitassem de um subsídio estatal!), mas ser capaz* de examiná-la, quem quer que seja o seu emissor e independentemente dos “interesses” que este tenha, capacidade que é verdadeiramente crítica quando exercida implacavelmente sobre as opiniões geralmente aceitas, mais ainda se estas forem, sub-repticiamente, assumidas como princípios e postas fora de debate, expediente de que Marilena Chauí e intelectuais de esquerda, via de regra, se servem para poder atacar as opiniões com as quais não simpatizam ou tentar salvar a imagem do PT e dos monstrengos comunistas mundo afora. Assim, a pretensão insana é congelar todo debate cujas regras não foram definidas nos termos da novilíngua esquerdopata: a opinião, se dada por quem não concorda com Marilena Chauí, é a priori falsa (logo inútil proferi-la), mas, se ‘”formada” por sua cabecinha ou mantida por quem lhe dá ouvidos, é um axioma (logo, inquestionável). De modo que a única possibilidade de debate com essa senhora é falando o que ela quer ouvir ou se calando diante do que ela disser.Uma coisa, pelo menos, é certa. Se o jornalismo brasileiro, que já está impregnado da dogmática esquerdista, adotar o paradigma chauienstainiano de imprensa livre e “democrática”, substituindo a investigação pela doutrinação, a única verdade universal e necessária, válida neste e em outros mundos possíveis, será a da irrefutabilidade das “opiniões” de que o PT não foi responsável pelo maior esquema de corrupção do país, de que José Dirceu e outros mensaleiros foram vítimas de calúnia, de que Lula não sabia de nada e..........de que o Fórum de São Paulo é lenda urbana.
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* Capacidade cuja virtude é justamente a coragem de ousar fazer uso completo de sua própria razão, ou seja, o amar a verdade.
15 de setembro de 2007
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1 comentários:
Essa dama parou de pensar faz muito tempo. Não creio que seja só em nome da ideologia...
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