11 de janeiro de 2009

O emblema metafísico da condição humana

Embora não comportem nenhuma solução positiva e definitiva (e foi isso que Kant procurou mostrar na Crp), o fato mesmo de emanarem da própria razão humana e esta ser obrigada, se quiser se furtar ao dogmatismo e ao ceticismo fácil, a provar sua insolubilidade (também isto é o que Kant nos ensina), deixa bem claro o quanto os problemas ditos metafísicos - por mais toscos que sejam em sua formulação - são relevantes para a nossa própria auto-consciência.
Essas questões nos acossam, sobretudo quanto estamos em "crise existencial", ou seja, quando o "sentido" do existir como tal se torna algo problemático. Em termos heideggerianos, quando o sentido do Ser é, literalmente, sentido pelo homem, recebido afetivamente, o que nos põe diante do abismo do Nada e da possibilidade de "não mais estar aí".
Fechar os olhos para as questões metafísicas, fixando-se obstinadamente sobre as nossas carências materiais, é LOUCURA tanto quanto (ou até muito mais que) ser sugado por elas, descuidando-se por completo das exigências da vida quotidiana.Quem lhes é indiferente perde toda a autenticidade enquanto ser humano, transformando-se em outro que ele mesmo.E isso que é ALIENAÇÃO RADICAL: o cara deixa de ser ELE PRÓPRIO, esquivando-se do peso existencial que tal condição implica, para ser uma OUTRA COISA entre outras (líder sindical, pedreiro, médico ou policial ou ... salvador da humanidade)
Não podemos ter uma exata medida da nossa finitude, senão por comparação com o infinito transcendente, por força do qual somente somos obrigados a tomar consciência de que há um LIMITE para o humano, mesmo para o demasiado humano.
Querer ultrapassar esse limite, esse métron, é o que os gregos antigos chamavam de hybris, uma falta grave (soberba impiedade) cometida contra os deuses imortais, que, para se vingarem, fazem o destino cego se voltar contra o infrator original (ou seus descendentes), mesmo que este, do ponto de vista moral, seja um sujeito digno de apreço, a cujos atos mais virtuosos se seguirão conseqüências imprevisíveis e desastrosas.
Marx, pretendendo empunhar o cetro da justiça eterna e destronar o Deus cristão, acabou por patologicamente incorporar a némesis divina, sob a forma de um ódio ressentido à obra do Criador. Maior soberba que essa não consigo imaginar. E veja quanta tragédia ele trouxe para os membros de sua família e até para algumas pessoas que faziam parte do seu círculo de amizade.
A tragédia de Marx, infelizmente, se estendeu a toda humanidade: 150 milhões de mortos causados por uma utopia insana provocam em mim as mesmas paixões que acometiam os espectadores da poesia trágica de Sófocles e Eurípedes: terror e compaixão, só que com o agravante de que hoje ela não permite nenhuma catarse da nossa alma, exatamente porque o drama é real e os personagens são representados compulsoriamente pela própria platéia.

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