11 de janeiro de 2009

Sobre Hegel

A filosofia hegeliana, no todo e nas partes, é um completo embuste. O cara, primeiro, diz que as antinomias (conflitos da razão pura consigo mesma, que Kant descobriu ser uma consequência inevitável da tese semântica que identifica coisas em geral com coisas em si) são inerentes à razão. Conclui daí que o que move a razão não é o fato de ela trazer no seu bojo certos problemas a priori, mas a própria contradição. Ok, se se assume a premissa acima.Depois o filósofo, que acelerou a redação da sua "Ciência da lógica" (livro pouco lido, quase nada compreendido, mas muito mencionado) para poder pagar as contas, identifica o racional com o real.Conclusão incontornável: a própria realidade encerra contradições!Isso é um total disparate: há, certamente, oposições na realidade, mas contradição é uma tal que só tem lugar no discurso, que, se permite um afirmar e um negar sobre um mesmo sujeito, se auto-anula como discurso.O próprio Kant diz que as antinomias se constituem em uma anomalia cuja causa é o pressuposto semântico acima mencionado (que ele chama realismo transcendental) e não a própria estrutura da razão, que está submetida aos princípios básicos da lógica formal (de não contradição, terceiro excluso, identidade, bivalência, modus tollens, modus ponens, dictum de nullo e dictum de omini) A violação desses princípios acarreta a própria destruição do discurso na sua pretensão de validade objetiva, sendo esses princípios, condições necessárias, embora não suficientes, da verdade.Das duas uma, ou Hegel tá errado ou 2000 anos de estudos de lógica e de exercício do puro e simples bom senso foram em vão!E eis aí a fonte mais famosa da porralouquice esquerdopata: "Eu conheço a estrutura profunda do real, ela é a contradição que arrasta a história humana no redomoinho da tese-antítese-síntese; logo nada me resta fazer, como "intelectual", senão transformar essa realidade de modo que ela chegue mais rapidamente ao seu epílogo: o espírito absoluto, a sociedade comunista ou qualquer outra utopia gnóstico-messiânica. Enquanto isso não vêm, faço ´crítica´social e música de protesto"
Um atenuante: houve apropriação indébita de Hegel por Marx, o sujeito que jurava de pé juntos que as condições de vida da classe operária iria piorar mais e mais até suscitar espontaneamente a revolução socialista e a conseqüente abolição da propriedade privada. Dele, que mais se pode esperar!É certo que a idéia de um Espírito absoluto, em Hegel, se refere ao Ser como tal, não se reduzindo a imbróglios políticos.Agora, Hegel escrever tudo o que escreveu, de uma prolixilidade e obscuridade incríveis, para depois concluir no panteísmo! Ou seja, num ateísmo de quem não consegue se livrar da idéia de Deus!Mas ora, se os princípios supremos da filosofia hegeliana são uma contradictio in adjecto, então ele, coerente como todo bom pensador, não poderia chegar a outra coisa senão uma conclusão contraditória (esse coisa spinoziana de Deus sive Natura, hahahahaha). Os erros de Hegel só vêm corroborar que 1) a contradição repugna a Razão e não tem lugar na natureza, 2) que a lógica é a ciência que estuda as leis a que o discurso tem que se submeter para manter-se em sua pretensão de verdade, isto é, para não se auto-anular como discurso teórico, 3) que é uma coisa completamente estapafurdia identificar a natureza com aquilo que, por definição, a transcende, a não ser que o propósito fosse justamente negar a transcendência.

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