2 de agosto de 2008

Gramsci e as palavras-senha

Excelente artigo do Heitor de Paola, publicado no Mídia sem máscara, acerca do vocabulário gramsciano de que, conscientemente ou não, se servem intilikituais e estudantes. Trata-se do principal instrumento da revolução cultural gramsciana, sem a qual não teríamos hoje o discurso semanticamente escorregadio do politicamente correto.
****** por Heitor De Paola em 02 de agosto de 2008

Resumo: Muitas pessoas bem intencionadas sentem-se confusas a respeito dos termos que devem ser usados para definir alguns conceitos.

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"Uma das maiores alegrias de um comunista é ver na boca dos burgueses, nossos adversários, as nossas palavras de ordem”. GIOCONDO DIASEx-Secretário Geral do PCB

Volto a citar esta frase lapidar do továrishch Giocondo para abordar um assunto que confunde a mente de muitas pessoas bem intencionadas a respeito dos termos que devem ser usados para definir alguns conceitos. Não uso o adjetivo apenas no sentido frouxo de frase artisticamente perfeita, mas sim no mais restrito de inscrição em lápide, pois ela pode ser um dos epitáfios da ordem e da linguagem “burguesas”. Como exemplo inicial a palavra ética: o seu significado original hoje está tão deturpado que é sempre melhor evitá-la. Como ocorreu esta deturpação? Para isto é necessário algum conhecimento sobre a estrutura e hierarquia de um partido revolucionário e um pouco de história. ESTRUTURA E HIERARQUIA Todos os partidos, revolucionários ou não, são organizados em pirâmide, por isto os termos usuais bases e cúpula partidária. A diferença é que nos partidos democráticos esta pirâmide está mais ligada aos níveis decisórios, enquanto nos revolucionários há, da base para o alto, uma graduação do nível de segredos estratégicos, a ponto de, acima de um certo nível, transformar-se numa verdadeira organização esotérica que emite palavras de ordem e resoluções cuja estratégia de longo prazo não é discernível, sequer suspeitada, pelos níveis inferiores. Claro está, todos os partidos têm seus segredos, suas malícias, suas visões de longo prazo tanto quanto as eleitorais, de curto prazo. Seu intento é mudar alguma coisa restrita do mundo através de métodos políticos consensuais, como maior controle estatal ou mais liberalismo e as nuances entre os dois, decisão sobre os setores mais importantes para investimentos, visões diplomáticas diversas, etc. Além disto, aceitam o jogo democrático e a alternância no poder, isto é, aceitam a política como ela é: a arte do possível baseada em negociações. [...] É fundamental que os liberais e conservadores tomem conhecimento do verdadeiro significado revolucionário que estes termos adquiriram e abstenham-se de usá-los para não se deixarem confundir. Um pequeno glossário é fundamental. Como não há espaço aqui cito apenas algumas mais usuais. (Não usarei a ordem alfabética para facilitar a compreensão). Ética – é ética toda e qualquer ação que promova o aprofundamento da revolução. É a expressão do princípio de que “os fins justificam os meios”, em oposição total ao conceito “burguês” tradicional. Liberdade – é a expressão da conformidade do cidadão com a coletividade. Não tem nada a ver com liberdade individual. Democracia – não corresponde ao governo da maioria, mas ao da unanimidade baseada no consenso e hegemonia do partido-classe. Consenso – conformação coletiva do grupo social com as ações do Estado ampliado, necessário para alcançar os fins éticos. Hegemonia - capacidade de influência e de direção política e cultural que um grupo social exerce sobre a sociedade civil organizada e esta sobre a sociedade política. Predominância efetiva do partido-classe sobre ambas para impulsionar e fazer avançar o processo revolucionário. Sociedade Civil Organizada – espaço onde atuam os aparelhos privados de hegemonia. Aparelhos Privados de Hegemonia – as ONG’s, principalmente. Estado Ampliado – os órgãos governamentais e as ONG’s. Também pode ser chamado de Estado Democrático de Direito por estar em constante mutação (ver meu artigo anterior). Cidadania – “espaço” coletivo onde atua a sociedade civil organizada; o exercício da cidadania nada tem a ver com a atuação dos indivíduos livres, mas com este “espaço” criado pela ampliação do Estado e que obedece rigorosamente ao consenso prévio. É a submissão do cidadão ao consenso coletivo.

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