Não há como distinguir com segurança um impostor de um "verdadeiro" profeta, mesmo a posteriori, isto é, depois de se verem cumpridas as profecias, a não ser por um "sinal histórico (signum rememorativum, demonstrativum, prognosticon)" (Kant, O conflito das faculdades), e eu acrescentaria sacrum.
De fato, a capacidade divinatória do homem, se é que ela existe, só é possível, ao menos de ser concebida, como um poder sobrenatural concedido pelo próprio Deus, o qual somente, sendo eterno, omnisciente e omnipotente, pode ter uma perspectiva "atual" do futuro, cujas determinações são sempre incertas para os mortais.
Como cristão, penso que o único capaz de tal proeza foi Jesus, porque, encarnando o Verbo, isto é, sendo o Deus que se colocou na condição humana, mostrou-nos ESTIGMATIZADO a verdade da Boa Nova, o advento do Reino dos Céus e o caminho da Salvação sob o símbolo expiatório do Mistério da Cruz. Quem crê no poder redendor do Sangue do Filho do Homem e tem a certeza moral do Espírito Santo não comete a impiedade gnóstica de pensar que a salvação eterna se obtém apenas e exclusivamente pelo conhecimento ou de se pretender um ponto de inflexão na história espiritual da humanidade. E não há falta humana maior do que aquilo que, para os gregos, selava o destino do herói trágico: a hybris.
Nesse sentido, profecias stricto sensu são aquelas cujo "advinho" , consagrando-se moralmente à verdade revelada, "faz e organiza os eventos que previamente anuncia". (Kant, O conflito das faculddes).
Ora, nenhum mortal, por definição, é capaz disso, caso em que seus vaticínios são auto-realizáveis só no sentido de que ele próprio não é causa moral e absoluta do que está por vir (a única coisa que depende de sua vontade, e que, falando com propriedade, já se constitui na Graça, é a disposição firme de cumprir o dever de buscar sua própria perfeição moral), mas, antes, efeito retardado daquilo que ilusoriamente projetou sobre si mesmo - como justificativa para a transformação do mundo - a partir dos cacos mal encaixados de sua vida pretérita, que ele organiza em conformidade com um futuro hipotético contruído à imagem e semelhança de seu instinto revolucionário.
Bem, se isso é "profecia", eu tb sou profeta: prevejo que daqui a exatos 3 minutos estarei tomando uma xícara de café, porque tou decidido (no meu caso, um impulso patológico "irresistível", algo absolutamente destituído de valor moral) a ir a cozinha enchê-la com o precioso líquido preto, que eu já sei que se encontra na garrafa-térmica. O insano aqui seria eu ainda presumir que a empregada doméstica, o cafeicultor e o fabricante utensílios de cozinha agiram em concerto para tão elevado acontecimento.
20 de maio de 2008
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