Traduzido pelo Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr., o artigo de Russel Kirk que ora reproduzimos deixa bastante claro que conservadorismo não é uma corrente política, entre outras, ou pano de fundo ideológico de quem se beneficia com o status quo, nem mesmo um posicionamento puramente teórico refratário a toda e qualquer mudança. Conservador é, antes de mais, a qualificação de "um estado da mente, de um tipo de caráter, de uma maneira de olhar para a ordem social civil" ou, para falar em termos estritamente antropológicos, a característica da alma perfeitamente ordenada, à qual se contrapõe o tipo esquerdopata, que pensa que o máximo de liberdade a que pode aspirar o ser humano é o "direito" de subverter os costumes dos povos e os princípios consubstanciados na tradição ocidental (judáico-cristã e grega), substituindo-os pelos seus mais pueris e insanos caprichos, em geral forjados a partir de torpes modismos intelectuais. Se o conservador sabe que o real é o cosmos, no qual somente cada coisa determinada tem o seu lugar e em referência ao qual os entes, tal como são em si, se manifestam ao conhecimento humano, o progressista aposta todas as fichas no caos, isto é, no retraimento do próprio horizonte do ser e, por conseguinte, na indiferença ontológica de todas as coisas, a começar do proposital obscurecimento dos valores morais, isto é, da linguagem consuetudinária em que se expressa a infalível capacidade humana de distinguir o certo e o errado na conduta. Este nega a transcendência ou, ao menos, a reduz aos mais prosaicos, mesquinhos e efêmeros ideais humanos; aquele percebe, de maneira imediata e luminosa, que o princípio da ordem do ser (a verdade), sendo mais cognoscível por natureza, porém menos para o homem, é imutável e aponta para o divino em nós. Um se conduz resolutamente sempre em vista da perfeição (reflexo da ordem cósmica em sua alma), com olhar fixo na verdade, no bem e na beleza; o outro, típico espírito de porco, que nivela tudo por baixo, sofre com a impassibilidade das almas nobres diante dos revezes da fortuna, desejando ardentemente que elas, de uma vez por todas, sucumbam ao inimigo na eterna e gloriosa luta para atingir a sabedoria e a santidade de que um mortal é capaz. Em suma, onde o inquieto progressista vê um "mundo", mecanicamente estruturado e repleto de possibilidades, entre as quais ele transita, in abstracto, sem se apegar a nenhuma delas ( daí sua absoluta falta de responsabilidade), o conservador vê um cosmos - o lógos por força do qual somente as coisas (pragmata) se desvelam (aletheia) em sua essência (ousía) à percepção humana (nous) -, de cujas leis imutáveis procura, humildemente, extrair as diretrizes de sua vida, material e espiritual.
PS: A despeito dos eventuais equívocos e do inegável déficit intelectual deste blogueiro, que o leitor consciencioso pode bem corrigir, permanece a minha inamovível decisão de, através de tudo o que for postado aqui, expressar o meu sentimento de repulsa perante a maior doença espiritual de todos os séculos, a esquerdopatia, antes que, vaidosamente, dar sinais de erudição.
aristokraut ii: Dez princípios conservadores
8 de novembro de 2007
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