21 de dezembro de 2007

Os quatro cavaleiros que dizem Ni e sua infame pretensão de legislar sobre a consciência alheia

Faço questão de reproduzir aqui na íntegra um post do Reinaldo Azevedo analisando a entrevista de Sam Harris a Veja e o fato de que a maior parte dos brasileiros se recusa a votar num candidato ateu a presidente. Aproveito para, à guisa de preâmbulo, anteceder-lhe alguns longos comentários que fiz no blog do Orlando Tambosi a respeito da reunião entre os quatro cavaleiros que dizem Ni - Sam Harris, Richard Dawkins, Daniel Dennet e Christopher Hitchens - realizada em 30 de Setembro para discutirem um assunto que eles se julgam experts - religião.
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EU: Se um sujeito declara publicamente que é cristão e acredita piamente em Deus, isto pode, talvez, ser pura hipocrisia. Não há muito o que inferir. Mas se ele se empenha em espalhar aos quatro ventos as "virtudes morais e intelectuais do ateísmo", procurando arrebanhar atrás de si um séquito disposto a militar numa cruzada contra a fé, não tenha dúvidas: trata-se de um charlatão, mentiroso e falastrão cujo objetivo é semear a discórdia onde reina a paz.
Eles, como militantes do ateísmo e defensores da incompatibilidade entre fé e razão, só podem mesmo trocar figurinhas entre si, porque, se se expuserem ao intelecto agudo do baixinho Denish D´Souza( que, com base na filosofia crítica de Kant, demonstra que ciência não pode nem provar nem refutar a hipótese da existência de Deus, hipótese que, segundo Kant, é um postulado prático da razão pura: "Razão deve conhecer seus limites a fim de ser verdadeiramente racional", afirma Denish) caem no ridículo.Tambosi, traduza também o debate no King College em que D´Souza destroça Christopher Hitchens, que escreveu o panfleto "Deus não é grande", livro que deveria se intitular "Eu não sou grande".
UM TAL DE CATELLIUS: Ó! Preciso assisti-lo! Os lulistas também acham que o Lula ganhou todos os debates dos quais participou... Isto não me surpreende.Para começar, esse D’Souza é um pateta (basta vê-lo falar) que põe a culpa pelos atentados de 11 de setembro nos liberais americanos, ha ha ha, culpa Jimmy Carter pelos atentados por transparecr fraqueza para Bin Laden.
EU: Simples, D´Souza o destroçou no referido DEBATE. Aliás, isso não traz nenhum mérito a D´Souza, porque o Hitchens é burro de doer, refutá-lo é mais fácil que roubar brócolis de criancinha enfastiada. E a tese de D´Souza acerca de como o EUA estão sendo sabotados por essa canalha não é exatamente essa!
UM TAL DE CATELLIUS: Militantes do ateísmo só podem discutir entre si porque se forem discutir com D’Souza cairão no ridículo? Ho ho ho! Como alguém pode ser militante do ateísmo apenas trocando figurinhas com outros ateus? Aí não é militante, parvo!
EU: Quem lhe disse que eles ficam só trocando figurinhas entre si? É óbvio que, além disso, eles também fazem proselitismo, que é a essência da militância, falando a um público que só ouve e que "confia" na "autoridade científica" desses senhores, porque honestidade intelectual é uma virtude da qual eles estão irremediavelmente destituídos e que nem mesmo sabem o que é.
UM TAL DE CATELLIUS: O ônus da prova cabe ao crente que defende sua existência.
EU: Não. Em primeiro lugar, crente não "defende" Deus, mas apenas conta, na intimidade da consciência, com Sua proteção e graça.A existência ou não existência de Deus não é algo que dependa da fé humana. O que realmente não pode existir sem a crendice de gente ignorante que julga antes de compreender é a reputação de cientista ocioso e filosofeiro de mesa de botequim. Ademais, não há ônus de prova algum no campo estrito da fé, porque, se algo é "objeto" de crença, sua existência (ou não existência) não pode, por definição, ser demonstrada, mas apenas "desejada", com a única restrição lógica de que seu conceito não envolva uma contradição interna (por isso, vc. não vê ninguém por aí desejando, discutindo a possibilidade ou acreditando na existência de quadrados-redondos, exceto o Bertrand Russell durante uma determina época, hehehehe). Que os ângulos internos de um triângulo perfaçam 180 graus ou que, a partir de uma reta dada, é possível a construção de uma figura plana com três lados exatamente iguais, são proposições cuja verdade subsiste independentemente de nossa vontade, dispensando, pois, qualquer assentimento, e cuja demonstração pode ser descoberta ou reconstituída por qualquer um que ouse usar a própria razão.
UM TAL DE CATELLIUS: “Razão prática” é ardil de um teólogo – era como Nietzsche sabiamente chamava Kant – que deseja subverter a única razão que existe para, quando for conveniente, abrir mão dela. Ora, todo meu respeito a Kant e seu iluminista “ouse pensar”; já foi um grande avanço. Mas não era suficientemente racional para perceber que se não comprara as “provas” da existência de deus, análogas aos motivos pelos quais a idéia de deus existe, não era obrigado a considerar a possibilidade da existência de deus.
EU: Razão prática é a mesma faculdade que razão teórica, distinguindo-se apenas os usos que dela se podem fazer. Se se limita à descoberta e à contemplação da verdade, no caso de Kant, ao conhecimento objetivo das leis que regem os fenômenos, isto é, a natureza sensível, chama-se teórica. Mas se se volta para a práxis e a realização do bem, em termos kantianos, se seu emprego consiste em orientar e determinar a vontade a agir segundo leis da liberdade, chama-se prática. Para o uso teórico da razão, Deus é um objeto logicamente possível, só que incognóscível, o que significa dizer que não é humanamente possível "saber" se Ele existe ou não existe, já que, como "ens rationis" e, por conseguinte, incondicionado, não pode por definição se submeter às condições formais da intuição sensível, vale dizer, se apresentar no tempo e no espaço, domínio além do qual uma "pessoa suficientemente racional" talvez não ouse se aventurar, mas cuja "fronteira" inteligível já indica um "em si" para o qual a razão humana, segundo Kant, é irresistivelmente atraída, e isto é o que levou Kant a afirmar que a metafísica é não só possível mas mesmo efetiva como propensão natural da razão. Agora, se esta é capaz efetivamente de, segundo princípios constitutivos próprios, determinar a vontade ao cumprimento do dever, ou seja, se há um uso prático da razão pura, a admissão da existência de Deus não é simplesmente uma opinião que, se sustentada por um teólogo ou emitida por um pobre diabo qualquer, suscite um conflito incontornável entre razão e fé, ao ponto de um Nietzsche, que suspeitava de tudo e de todos (menos de que era um louco desvairado, e isto é fato e não juízo de valor),ter de ser levado a sério por acusar Kant de ser um sacerdote vestido no hábito de filósofo, o que, no fundo, só revela a má-fé de quem se vê no direito de propor um princípio metafísico (a vontade de potência) de subversão de todos os valores para preencher o rastro nihilista deixado pelo "Deus está morto" que, até hoje, vem causando danos irreversíveis à vida espiritual do Ocidente. Para o cristão que sabe quais são os deveres morais do homem, a fé em Deus é uma exigência mesma (um postulado prático, diz Kant) da razão: quem age moralmente bem é digno de felicidade e quer, ipso facto, que este mundo - que, se é uma porcaria, ficou ainda pior com a proliferação de filhos-da-puta - seja o resultado do fiat divino. Mais: o verdadeiro cristão faz jus á misericórdia de Deus e a estar junto Dele na Morada Eterna, tendo, inclusive, a capacidade moral, outorgada diretamente pelo Criador, de obrigar ateus impertinentes, como os 4 cavaleiros que dizem Ni, a ir legislar sobre a consciência da puta que os pariu.
UM TAL DE CATELLIUS:- Defensores da incompatibilidade entre fé e razão também só podem discutir entre si? Bom, o que se afirma é que há incompatibilidade entre razão e fé religiosa, VERDADE REVELADA, explicações metafísicas. Não qualquer fé. Um bom cientista pode ter fé em determinada teoria, mas se verá obrigado a abandoná-la quando cair por terra, quando não se sustentar mais. Mas há a fé burra – a que os ateus consideram incompatível com a razão – dos que de antemão sabem que não a abandonarão perante evidências contrárias. A fé baseada na autoridade, porque está escrito em um livro muuuuito antigo, porque muitos homens bons também acreditavam, etc.
EU: "Fé em teoria" é simplesmente uma contradictio in adjecto. Fé só tem lugar quando está ausente a certeza, que é um assentimento teórico, o que não quer dizer que a própria fé não possa ser objeto de reflexão e análise, as quais ajudam a compreendê-la,é verdade, mas que por si sós são incapazes de produzi-la ou mesmo de fortificá-la: uma proposição teórica "decidível" ou é demonstravelmente verdadeira ou é demonstravelmente falsa; do contrário, ou ela é imediatamente apreensível pelo intelecto, sendo, pois, um princípio, ou então exprime meras constatações de fatos empíricos. Em qualquer dos casos, não há sentido algum em dizer que um "bom cientista" sustenta uma teoria por fé na própria teoria (a não ser que se trate de um puta mentiroso que consegue até ludibriar a si mesmo!). Um "bom cientista" propõe teorias e as sutenta por ter certeza de que elas são verdadeiras (certeza que,se não se trata de premissas por si evidentes, só se atinge por meio de prova e que lá prá frente pode se revelar um erro apenas com a refutação da teoria), assim como uma pessoa normal, gozando plenamente de suas faculdades mentais, depois de presenciar, por exemplo, um acidente automobilístico, afirma categoricamente o que e como ocorreu, porque viu o que se passou, não por fé (Se não viu e sabe apenas por "ouvir dizer", aí sim se trata de crença, mas crença na fonte de onde obteve a informação. Para quem ignora, a expressão "não acredito no que vejo" é mera figura de linguagem!). Já as discussões teológicas estão na seara teórica (não da fé);por isso, Kant demonstra, na Dialética transcendental, que a teologia é impossível como ciência, SE, e somente se, por esta se entende um sistema doutrinal de proposições teóricas axiomaticamente articuladas que possam ser obtidas e demonstradas a partir de experimentos imaginados conforme sólidos princípios matemáticos do movimento. Que a teoria kantiana das condições de possibilidade do conhecimento científico seja verdadeira, e penso que sim,nem por isso os estudos teológicos foram extintos no mundo civilizado nem a fé cristã foi abalada no mais mínimo que seja! Aliás, é bom lembrar, a teologia é uma metaphisica specialis, e não poderia deixar de ser, sob pena de perder seu próprio objeto. Pois fé é confiança na palavra dada, assentimento prático que, ao contrário da mera opinião e da certeza, não se refere diretamente às coisas, tendo que ver somente com a relação, im pacto, da vontade de quem promete com a vontade daquele a que se dirige a promessa. Pacto do homem com Deus ou, melhor, renovação da aliança da criatura com o Criador.Traduzido em termos da filosofia kantiana da religião, a razão prática pura é o Deus promitente agindo em nós; o bem supremo (a felicidade eterna sob a condição do exercício da moralidade), o prometido, e o arbítrio humano, o promissário. Concebida assim, a fé em Deus é o juízo pelo qual o postulado da razão prática pura é representado, por um sujeito particular, como verdadeiro, isto é, o juízo prático em que este sujeito livremente atribui a vigência das leis morais inscritas em sua própria razão à vontade do Deus soberano, que, dessa forma, fala em seu coração.
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EU:Há uma diferença semântica básica - que já se faz notar na própria estrutura sintática - entre juízo teórico (que, como tal, encerra a presunção lógica de verdade, isto é, de valer como representação objetiva daquilo que é) e juízo prático ou moral ( que se caracteriza pela presunção, também lógica, de que a máxima de conduta proposta se constitui na determinação de um dever,isto é, na reprensentação de um modo de agir como objetivamente necessário).Juízos teóricos indecidíveis (como os da teologia, que não podem ser provados mas também não podem ser refutados, embora, nesse âmbito, denotem nobreza e elevação de espirito, porque quem sinceramente acredita em Deus não mede esforços para conhecê-LO )refletem a ingênua opinião, presunçosamente iluminista e laica, de que a razão humana não possui limites intransponíveis e que, por conseguinte, é possível um conhecimento objetivo acerca de tudo. Com um tal positivismo rastaquera e inconsequente, "cientistas" desocupados como Dawkins e companhia querem passar essa imagem de que são todo-poderosos, trazendo para o campo do debate científico assuntos que outrora só tinham pertinência no âmbito da teologia ou entre os adeptos da fé cristã. Com isso, eles reintroduzem desnecessariamente elementos metafísicos no discurso científico, fazendo os tolos acreditarem que se trata de investigação empírica rigorosa (coisa que, tudo indica, eles não têm capacidade para fazer e com a qual perdem logo a paciência) o que, no fundo, é pura especulação e devaneio de quem tá cegamente comprometido com embates ideológicos.Se é absurdo querer explicar cientificamente o mais ou menos conhecido (os fatos naturais)pelo absolutamente desconhecido (Deus), não é menos insensato - para não dizer falacioso - querer concluir coisas acerca do homem (de como ele deve agir ou pensar e do que esperar da vida) a partir da "refutação" da existência daquilo mesmo que os 4 quixotescos, de saída, já consideram um disparate que só perdura na cabeça de anões obscurantistas, porque estes, dizem, se penduram, como papagaios de pirata, nos ombros dos titânicos paladinos das Luzes, imbuídos, como estão, em destronar o Todo-poderoso na base da logomaquia. Não há lei física empirica e matematicamente mais bem assentada do que a lei de gravitação universal. E isso se deve, entre outros méritos, ao fato de Newton se recusar a levantar hipóteses acerca da existência e natureza de uma heuristicamente concebível "força de atração", idéia que só suscitava dificuldades nas cabecinhas metafísicas incapazes de compreender que os limites da observação empírica não são estabelecidos por seus umbigos nem são extendidos pelos empurrões da propaganda política.(Aliás, as ciências experimentais da natureza não têm por objeto nem Deus nem a consciência moral das pessoas). Agora, é uma questão filosófica espinhosa saber se, e sob que condições, é possível decidir sobre a validade objetiva de um juízo moral, mas, desde Hume, uma coisa é certa: um juízo moral (vulgo, juízo "de valor") não pode ser provado a partir de juízos teóricos, nem estes, vice-versa, podem ser logicamente deduzidos daquele.Ora, o juízo de fé ("eu acredito ou confio em"), que é uma espécie de juízo prático, se refere ao próprio conteúdo ou "objeto" de uma ação interna (intenção) que, se consumando no forum mais íntimo da consciência individual, só é possível sob a pressuposição da liberdade da vontade e, portanto, de que há máximas de conduta não apenas objetivamente válidas mas até exeqüíveis, mesmo para agentes submetidos a circunstâncias adversas, como nós, pobres mortais. Em poucas palavras, ato de fé pressupõe, no plano teórico, dúvida e, no plano prático, virtude.Esse "objeto" do juízo de fé, pois, é a intenção ou disposição moral de outrem, na qual temos razões subjetivas suficentes para acreditar na medida que é um postulado moral querer tudo aquilo de que depende a completa realização do que SABEMOS e SENTIMOS ser um dever.Assim, por exemplo, SE se reconhece como um dever a veracidade, ENTÃO se é moralmente obrigado a admitir, melhor, a querer que todos os demais sejam não só capazes de agir desse modo mas também dipostos a tal (crença que é tanto mais firme quanto mais o ser veraz deixou de ser um mero costume - ethos, com epsilon inicial- e se sedimentou como um traço de nosso caráter, do nosso ethos - com eta incial). Mais: temos também que querer que a proibição da mentira tenha sido posta por uma vontade legisladora, soberana e perfeita, o que não teria qualquer sentido se a crença na existência de Deus, na imortalidade da alma e na bem-aventurança eterna (nas "promessas" de Cristo)não fosse, originariamente, um postulado moral.Do contrário, incorre-se numa contradição PERFORMATIVA (pois quem efetivamente é honesto, magnificente, corajoso, recatado, calmo... não pode querer um mundo dominado por ladrões, avaros, covardes, despudorados e irascíveis nem, muito menos, cede à tentação de, se o destino o lançou numa pocilga, comer farelos com os porcos) ou, se se preferir, procede-se de má-fé: a velha cretinice de tomarmos a suspeição de que o outro não honrará sua palavra como pretexto para não cumprirmos a nossa, abrindo, assim, uma excessão à regra, que nosso juízo moral já propõe como universalmente válida,de que não se deve mentir.E há razões subjetivas mais do que suficientes para querermos que este mundo tenha sido ordenado por um Criador sumamente bom e justo. Não fosse assim, estaríamos todos satisfeitos com o comportamento alheio e, em hipótese alguma, atribuiríamos os predicados "bom" e "mau" aos atos, motivações e até ao caráter dos outros. Daí essa obsrvação perspicaz de David Hume, que mostra bem em qual categoria se encaixa a mentalidade dos relativistas morais e ateus, sim, militantes:"Aqueles que têm negado a realidade das distinções morais podem ser classificados entre os CONTENDORES INSINCEROS, pois não é concebível que alguma criatura humana possa seriamente acreditar que todos os caracteres e ações sejam igualmente dignos de estima e consideração de todas as pessoas".
UM TAL DE CATELLIUS:A diferença entre a fé religiosa e a fé em uma teoria é que a segunda está mais para “crédito”, “confiança”, e a primeira é apenas uma crença passada de pai para filho, do tipo “não misture leite com manga”.
EU: A distinção acima é arbitrária e equívoca, porque fé é sempre confiança que se deposita em alguém que empenha sua palavra, seja Cristo (cujo corpo foi pregado na cruz como prova inconteste - symbolos - da presença do Espírito Santo entre nós e da bondade infinita do Pai para conosco, pecadores que, por qualquer ninharia, se negam a sacrificar-se pela própria salvação), seja nosso progenitor, seja Dawkins. Por exemplo, se minha mãe chega e diz "filho, não coma manga misturada com leite, porque isso pode te matar", então das duas uma:Ou ela está convicta de que sua opinião é verdadeira e, portanto, é sincera, permanecendo, pois, digna de crédito.Ou então ela sabe perfeitamente que isso é uma balela e, portanto, mente. No primeiro caso, mesmo estando errada, minha mãe procede em vista do meu BEM. Para uma verdadeira mãe, a mera possibilidade, mesmo que remota, de algo causar malefício a seu filho sempre justifica cautela.Eis uma excelente razão para os filhos confiarem nos pais e não presumirem( presunção que não é lógica, pois não diz respeito ao juízo como tal, mas patológica ), só porque os consideram ignorantes e retrógrados, que eles, com suas recomendações e argumentos de autoridade, visam tão-somente exercer controle despótico sobre a prole.Essa é a típica desfaçatez de quem se ressente da ampla influência (moralmente positiva, diga-se de passagem) que a religião cristã exerceu, exerce e sempre exercerá sobre o povo, acusando-a de veicular uma "moral de fracos" e imputando aos seus sarcerdotes, indiscriminada e levianamente, o vil propósito de tirarem proveito da credulidade popular a fim de aumentar sua cota de poder temporal. Daí por que esses espíritos ressentidos se acham a fonte primeva de todos os valores e, portanto, no direito de invertê-los a seu bel prazer, soberbamente desrespeitando a tradição (a completa falta de piedade, no sentido grego de ´eusébeia´, que é uma grave falta, uma ´hybris´, perante tudo que há de mais divino e elevado em nós) e a liberdade de consciência ("o que é sagrado só para os crentes e não para sociedade", afirma uma dessas bestas quadradas, não merece qualquer estima nem impõe qualquer obrigação moral ou jurídica; logo, não há nada de mal em profaná-lo), ao mesmo tempo que se colocam no panteão dos heróis defensores da humanidade.Hehehehe: o velho estratagema "xingue-os daquilo que vc. é e acuse-os daquilo que vc. faz". Aber....Wille zur Macht ist nicht Vermögen zu denken oder Freiheit zu handeln.
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EU:O poder eclesiástico se deriva da força moral da Bíblia e lhe é diretamente proporcional, mas não, ao contrário, as palavras de Deus persuadem os corações, porque a mente dos fieis é coagida com a ameaça de sevícias divinas pela oratória do clero ou porque suas goelas são abertas com a espada da Igreja Católica. Esta não precisa, nem deve, se servir de ignóbeis expedientes e, quando de fato ultrapassou hipocritamente o métron, cometeu uma afronta ao Criador.Ademais, criacionismo não é teoria científica, que possa ser empiricamente comprovada ou confutada, mas narração da gênese supra-sensível do homem (um ´mythos´ que, diferentemente dos "Evangelhos", não possui nenhuma eficácia catártica sobre a alma). Portanto, "parvo" é quem não consegue ler "A origem das espécies" sem ter em vista a pueril contestação da Bíblia, prova de que não entendeu (se é que algum dia os leu) nem o livro de Darwin nem as Sagradas Escrituras, que, como aprendi hoje, "só são sagradas para os crentes" assim como o mel só é doce para o paladar.Então, corte a língua dos fideístas ou prive-os da palavra, que os termos "sacrilégio" e "ultraje a culto" desaparecerão definitivamente de nosso vocabulário!
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EU:Agora, sobre o morticínio e perseguição de cristãos pelo mundo afora motivados por um ódio furibundo a sua fé, há um silêncio sepulcral. Ninguém forceja em prol daqueles em quem não acredita, e, claro, cristão é bicho intransigente e bocó, seus lamentos só podem ser reflexo de alguma "teoria da conspiração" difundida pelo Olavo de Carvalho.
VEJA 5 – Só 13% dos brasileiros votariam num ateu para presidente
Por Reinaldo Azevedo
A VEJA desta semana traz reportagens sobre a resistência da fé e da religião. O dado mais interessante é revelado por uma pesquisa encomendada ao CNT/Sensus: apenas 13% dos brasileiros votariam num ateu para a Presidência da República, informa reportagem de André Petry. Outros números: 84% aceitariam votar num negro; 57%, numa mulher; 32%, num homossexual. Parece que os brasileiros levam a sério a sentença de que, se Deus não existe, então tudo é mesmo permitido.A revista traz também uma entrevista com Sam Harris, “um dos ateus mais barulhentos dos EUA”. Segundo ele, “a fé é, intrinsecamente, um elemento que, em vez de unir, divide. A única coisa que leva os seres humanos a cooperar uns com os outros de modo desprendido é nossa prontidão para termos nossas crenças e comportamentos modificados pela via do diálogo.” Trata-se de um juízo interessante o de Sam Harris: pelo visto, para ele, todo diálogo é possível, menos com aqueles que têm fé. Logo, deve se referir a um diálogo que exclui a maioria da humanidade. Vale a pena ler a sua entrevista, sobretudo porque revela a oceânica ignorância do ateísmo — misturada a uma estupenda prepotência. Afirma Harris: “No futuro, não haverá nada como espiritualidade muçulmana ou ética cristã. Se há verdades espirituais ou éticas a ser descobertas, e tenho certeza de que há, elas vão transcender os acidentes culturais e as localizações geográficas”.Não acreditem em Deus. Acreditem em Harris. Ele sabe o que virá. O filósofo acha Deus imperfeito demais para criar um mundo de justiça. Certamente essa é uma tarefa mais fácil de ser desempenhada pelos homens... Li a sua entrevista — e recomendo que vocês o façam — e me dei conta do truque fundamental de seu discurso: a fé não presta porque não pode ser comprovada pela ciência. Com a devida vênia, Santo Tomás de Aquino resolveu essa questão no século 13.E se poderia falar, finalmente, do rastro de sangue das religiões. Não dá para contar a história que não houve, claro. O que conhecemos do mundo sem Deus? Salvo engano — e me corrijam se eu estiver errado dando-me um outro exemplo —, tivemos a experiência comunista. Nunca antes uma religião matou mais de 100 milhões de pessoas em miseráveis seis décadas. A maquinaria mental e teórica que justifica o morticínio está no século 18: a Revolução Francesa e seu iluminismo. O Terror Revolucionário matou em dois anos mais do que a Inquisição em quatro séculos. A idéia da engenharia social a engendrar uma nova civilização que esmaga o passado em nome do futuro é filha dos "crimes da liberdade".Os “mortos” em nome de Deus realmente enchem o mundo de vergonha. Já os mortos em nome do “novo homem racional” são pura poesia humanista... A religião não existe para dar a versão cristã ou muçulmana da fissura do átomo. Ela é um dado da cultura que aponta um norte ético para esse e outros saberes. Negar a religião é negar uma parte da história da moral humana. Quando Harris resolver estudar um pouquinho, terá a chance de aprender que a idéia que o Ocidente tem de igualdade, esta mesma consubstanciada em leis civis e laicas (a melhor sociedade que o homem já fez), nasce com o cristianismo, que libertou o homem do jugo de sua família, de seu senhor, de sua tribo, de suas paixões, chamando-o à consciência individual.Um dia explico melhor por que convivo bem com os ateus e me incomodo um tanto com quem se coloca contra as religiões. Tendo a achar que, se dependesse da vontade, todo mundo acreditaria em Deus. Mas há quem não consiga, ainda que queira. Já a militância anti-religiosa é uma escolha intelectual. Procura negar a história — corrigi-la retroativamente, se possível — e faz tábula rasa de uma experiência social que está na base da formação de todos os povos. Há uma insanável puerilidade malcriada no discurso anti-religioso que é nada além de ignorância e obscurantismo.Assinantes lêem mais aqui, aqui e aqui
Vídeos completos do debate DineshxHitchens no YouTube